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terça-feira, 23 de abril de 2024

Fecularia vai investir R$ 10 milhões

22/08/2006 07h06 – Atualizado em 22/08/2006 07h06

Devido à proximidade com o estado de São Paulo e dispor de uma invejável infra-estrutura, Três Lagoas é considerada como a capital da industrialização do Estado. Além disso, os incentivos oferecidos pelo governo do estado e o município foram outros atrativos que atraíram os investimentos, gerando centenas de empregos diretos e indiretos. Outro setor que está despertando a atenção é o rural, que começa a receber investimentos na ordem de R$ 10 milhões de reais. Moïse Beçak, um dos diretores da Fecularia Indama S/A, com sede na capital paulista pretende levar o município ao mercado internacional através do plantio da mandioca. Em entrevista ao Perfil News ele falou sobre esse projeto que está sendo implantado em Três Lagoas.

PERFIL NEWS – Três Lagoas está apostando na produção de mandioca?’

BEÇAK – Esta é uma das alternativas para pequenos produtores.

PERFIL NEWS – Três Lagoas pode entrar no mercado internacional com a instalação de uma moderna fecularia. De quanto é o investimento da empresa?

BEÇAK – A Fecularia Indama, indústria com sede em São Paulo e projetando instalar mais quatro fecularias no estado paulista e sul-mato-grossense, planeja investir cerca de R$ 10 milhões em Três Lagoas.

PERFIL NEWS – Que diferencial a Indama trás para os produtores que poderiam fazê-los confiar nesse projeto? BEÇAK – Nós não somos os primeiros a procurar parcerias. Empresários paulistas vêm buscando parcerias, com o objetivo de melhorar o cultivo e a industrialização da mandioca, principalmente no âmbito da agricultura familiar. A diferença é que a Indama está desenvolvendo um sistema que sem dúvida irá resolver aquele problema da produção: hoje em excesso, amanhã em falta. Ela propõe que os que plantam mandioca além de fornecê-la à fecularia sejam acionistas da mesma. Assim, quem cultiva estaria recebendo ao vender sua produção de raiz à indústria e depois recebendo lucros desta mesma da qual é acionista.

PERFIL NEWS  – O que poderia ser exportado pela fecularia?

BEÇAK – A indústria tem a intenção de produzir fécula de mandioca e outros produtores, destinados principalmente para a exportação. Além disso, há um mercado diversificado que faz uso da fécula, podendo-se afirmar que a oferta nacional desse produto está bem aquém da demanda. Em parte isso se deve ao fato da indústria não se poder contar com uma oferta regular ao longo do ano, pois quando a raiz da mandioca está em alta todos saem a plantar, depois caindo os preços deixam de cultivá-la.

PERFIL NEWS – Existe linha de crédito e financiamento para este tipo de investimento na cidade?

BEÇAK – Sim, a linha de crédito para financiar a construção, o Banco do Brasil já liberou os recursos e que já recebemos incentivos do Estado e aguardamos os incentivos por parte do governo municipal. Inclusive, no dia 15 passado estivemos na sessão ordinária da Câmara de Vereadores onde falamos sobre o investimento e conquistamos o apoio da maioria. A fecularia pretende moer 200 toneladas dia de mandioca e gerar 1,5 toneladas de amido/dia’.

PERFIL NEWS – Diante do valor do investimento, a prefeitura deu alguma contrapartida ao projeto?

BEÇAK – A morosidade com que a prefeitura de Três Lagoas tratou a empresa frente a uma possível doação de área para a instalada da fecularia trouxe preocupação. Por causa da demora, perdemos quatro meses e acabamos por adquirir com recursos próprios uma área na estrada ao Alto Sucuriú onde será construída a sede da Indama. O empresário espera construir a fecularia em um ano.

PERFIL NEWS – Quando entrar em funcionamento, qual a previsão de empregos que a indústria vai gerar?

BEÇAK – ‘Serão gerados pelo menos 70 empregos diretos, além de centenas de indiretos.

PERFIL NEWS – Além de fécula, o que mais a Indama vai produzir?

BEÇAK – Vários outros, por que a mandioca oferece várias formas de aproveitamento para o consumo humano, na forma de farinhas cruas ou torrada e polvilhos (doce e azedo), e para consumo animal, na forma de raspas e resíduos da própria indústria ou, simplesmente, transformada em fécula ou amido para fins industriais’.

PERFIL NEWS – ‘Fale sobre as vantagens da produção de amidos?’

BEÇAK – ‘A produção mundial de amidos é de 34 milhões de toneladas atualmente, com valor estimado em 14 bilhões de dólares. Estima-se que esta produção deve ultrapassar 40 milhões de toneladas no ano 2000. O maior produtor é os Estados Unidos, com 14 milhões de toneladas, seguidos dos países asiáticos com 11 milhões, a União Européia com 6 milhões, a América Latina com 1,3 milhão e o Brasil com 1 milhão de toneladas.

PERFIL NEWS – Em que diversidade o amido pode ser aplicado?

BEÇAK – A diversidade de aplicação do amido de mandioca como matéria-prima na indústria oferece-lhe uma ampla oportunidade de mercado interno brasileiro, mas também há grandes possibilidades de chegar a ser fornecedor do mercado externo. Estima-se que a nível mundial, 95% do amido é destinados a usos industriais diferentes daqueles utilizados como ingredientes em alimentos e, somente 5% é destinado à alimentação humana.

PERFIL NEWS – Quem é o maior mercado consumidor do amido?

BEÇAK – Em nível nacional, o maior consumidor de fécula de mandioca é o Estado de São Paulo. Aproximadamente, 80% desse consumo cabe aos frigoríficos e panificadoras e o restante, dividido entre as indústrias químicas, farmacêuticas, têxteis e outras. Os outros grandes consumidores são os Estados de Santa Catarina e Rio de Janeiro.

PERFIL NEWS – Onde mais pode ser utilizado o produto?

BEÇAK – A indústria da fécula tem amplo leque, sem falar na própria farinha feita com a raiz da mandioca. O amido de mandioca é utilizado na fabricação de salsichas e embutidos, como estabilizador em produtos congelados, na indústria de massas, biscoitos e chocolates, sendo empregada ainda na fabricação de papel e até na perfuração de poços para petróleo’.

PERFIL NEWS – Como deve ser o investimento nesse projeto da Indama e qual a vantagens que os agricultores terão?

BEÇAK – Na verdade, existe um conjunto de facilitadores para o cultivo e industrialização da fécula de mandioca. A começar, o baixo investimento inicial, outro é que a cultura é tolerante à estiagem, uma excelente opção de renda em períodos de entressafra. Além disso, é possível de ser plantada em terra pouco fértil, quase não utilizando produtos agro-químicos. O produtor será sócio da fecularia e terá participação nos lucros da empresa. Portanto todos saem ganhando’.

PERFIL NEWS – Qual é o ciclo para o plantio da mandioca?’

BEÇAK – O ciclo da mandioca varia de 12 a 18 meses e havendo um contrato bem feito com o industrial advém efetiva garantia da comercialização. Razões como essas têm levado muitos criadores a utilizarem a mandioca para reforma de seus pastos. No Estado de São Paulo a mandioca plantada sem recursos técnicos produz cerca de 25% de amido, mas também há plantações com mais tecnologia, inclusive no Paraná e Santa Catarina. A EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária vem desenvolvendo mudas híbridas e o cultivo de tipo com amansa burro, bibiana, cigana preta, mestiça e outras que podem dar produtividade maior, cerca de 35% da fécula por peso de raiz’.

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