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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Grupo de PMs é acusado de agredir adolescentes em Ribeirão Preto

14/10/2002 09h21 – Atualizado em 14/10/2002 09h21

Um grupo de policiais militares é acusado de agredir a pauladas três adolescentes durante a madrugada de anteontem, no bairro Ipiranga, na periferia de Ribeirão Preto (314 km a norte de São Paulo). Um deles continuava internado em estado grave, com traumatismo craniano, na noite de ontem.

De acordo com a versão da família das vítimas, os três adolescentes todos de 14 anos acordaram às 4h de anteontem, Dia da Criança, para ir até uma casa de assistência a carentes para receber presentes um copo de suco e cachorro-quente que seriam doados.

“Eles iam mais cedo para segurar a fila para os meus outros filhos”, afirmou a desempregada Cleonice de Souza do Nascimento, 40, mãe de uma das vítimas.

Poucos metros depois de deixarem a casa, o trio ainda segundo a versão da família foi interceptado por dois carros da polícia, ocupados por seis PMs. Os jovens foram revistados.

Após a abordagem, os adolescentes teriam sido levados pelo grupo até um terreno baldio no bairro Jardim Presidente Dutra, onde foram agredidos a pauladas. “Eles foram colocados sentados, com a cabeça entre as pernas, e começaram a ser agredidos”, afirmou a faxineira Maria Helena Gomes da Silva, 32, mãe de outro adolescente.

Após a agressão, os adolescentes L.D.S.N. e E.D.S.C. conseguiram voltar para casa para pedir socorro. R.L.M. ficou estirado no chão e foi socorrido por uma ambulância.

L.D.S.N. teve um braço quebrado e recebeu muitos golpes no rosto. E.D.S.C. teve o osso de um braço trincado e dois cortes na cabeça, com suspeita de traumatismo craniano. Os dois foram atendidos na Unidade de Emergência do HC (Hospital das Clínicas) e depois liberados.

R.L.M. foi levado à Santa Casa, onde permanecia internado até o começo da noite de ontem e corria risco de morte.

O comando da PM começou as investigações sobre o caso, ainda na manhã de anteontem, com a participação do Ministério Público Estadual.

Uma testemunha, que teria visto o autor das agressões, foi apresentada pela corporação. Ela disse que viu duas pessoas deixando o local, não sabendo descrever seus rostos, em razão da escuridão do local, mas tem certeza “que não foram policiais”.

Segundo o major Antônio Aparecido Arcêncio, as investigações não terminariam com as declarações da testemunha e a PM teria todo o interesse em esclarecer o fato. “Se foi mesmo policiais que fizeram isso, nós queremos identificá-los e expulsá-los da corporação. Não compactuamos com esse tipo de atitude”, disse.

Arcêncio informou que um dos adolescentes informou que as agressões foram feitas por traficantes do bairro, em razão de dívidas contraídas, mas a família não confirmou essa versão. Ontem, a família manteve a sua versão à Folha.

Outro lado

O comandante da PM de Ribeirão Preto, major Antonio Aparecido Arcêncio, afirmou que a corporação está investigando o caso e tem interesse de esclarecer a verdade.

“Nossa missão é proteger a sociedade.”

Ainda segundo o comandante, até o final da tarde de anteontem não havia nenhuma evidência da participação de policiais no fato.

A única testemunha do ocorrido, ainda segundo ele, é uma mulher que teria presenciado duas pessoas deixando o local. “E ela afirmou não ser policiais”, disse.

O policial afirmou ainda que, mesmo com as declarações da testemunha, que isentaria a PM da responsabilidade, as investigações não seriam suspensas. “Se foi um policial que cometeu esse fato, nós temos que esclarecer”, disse.

Os depoimentos da testemunha foram, de acordo com Arcêncio, acompanhadas pelo promotor Élcio Neto.

“Para que não haja nenhum tipo de comentário posterior”, disse.

Durante a entrevista no quartel, Arcêncio recebeu um telefonema informando que um dos garotos desmentiu a versão de que foram policiais os autores da agressão.

“Eles disseram que foi a PM com medo de serem novamente agredidos. Falar que é a polícia é mais fácil”, afirmou. A família manteve a versão à Folha na tarde de ontem.

Ainda no quartel, a polícia apresentou uma testemunha que pediu para não ser identificada que disse ter visto duas pessoas deixarem o local do crime.

“Eu vi. Primeiro saiu um mais pardo e outro negro. Só não deu para ver os rostos porque estava muito escuro”, afirmou ela.

Questionada se poderia ser as vítimas que estavam deixando o local, em vez dos agressores, a testemunha negou.

“Não era. Só [poderia ser eles] se eles não tivessem sido agredidos, porque [os homens] saíram rapidamente”, disse. Indagada de havia algum familiar que trabalhava na PM, ela disse que tinha um primo (um sargento) que trabalhava no quartel onde ela concedeu a entrevista.

Fonte: Folha de São Paulo

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