Em entrevista ao jornalista Bob Fernandes, em 2017, Léo Veras falou sobre o trabalho de risco na fronteira; semana passada ele foi entrevistado também pela TV Record em uma matéria sobre violência na região
“Eu sempre peço que não seja tão violenta a minha morte, que não seja com tantos disparos de fuzil, para não estragar a pele”. Dessa forma, quase premonitória, o jornalista Lourenço Veras, o Léo, gravou um vídeo, em 2017, para o Projeto Tim Lopes, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, a Abraji (veja abaixo).
Veras já havia denunciado à polícia as ameaças de morte que teria sofrido, devido ao seu trabalho cobrindo investigações e o narcotráfico na fronteira de Mato Grosso do Sul. Segundo o Sindicato dos Jornalistas do Paraguai, Veras foi o 19º jornalista executado no país.
Léo Veras era dono do site Porã News e foi assassinado na noite de ontem, 12, em Pedro Juan Caballero. O jornalista estava em frente à casa dele no Jardim Aurora quando três homens em uma caminhonete branca se aproximaram e dois deles fizeram vários disparos de pistola calibre 9 milímetros contra o jornalista.
O jornalista chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu e morreu no Hospital Viva Vida, em Pedro Juan Caballero. Léo cobria o setor policial na fronteira entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero.
Na semana passada, Léo deu uma entrevista o Domingo Espetacular, da TV Record, falando sobre a violência na região.
A Polícia Nacional do Paraguai está no local onde aconteceu o atentado em busca de informações que posam levar aos criminosos.

O Clube de Imprensa de Ponta Porã lamentou em nota a morte do jornalista e pediu uma ampla investigação do crime.
A Senadora Simone Tebet também se manifestou, condenando o ataque: “A execução do jornalista brasileiro Léo Veras, em Pedro Juan Caballero, é mais um triste capítulo escrito pelo crime organizado. A voz do dono do Porã News, um dos principais sites policiais da fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai, foi silenciada. O crime não pode ficar impune. Esta perda é mais um sinal de o quanto é necessário aumentar o investimento em segurança das fronteiras. Deixo aqui meu pesar e solidariedade à família e aos amigos de Léo Veras”.
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Região da Grande Dourados afirma que o assassinato do profissional é um “golpe brutal” em todos os profissionais que atuam na fronteira e lembrou da morte de outro colega de profissão, Paulo Rocaro, morto há oito anos. Confira a nota na íntegra:
“Ao lamentar e repudiar o atentado contra o jornalista Léo Veras (Lourenço Veras), na noite desta quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020, em Pedro Juan Caballero (Paraguai), a diretoria do Sinjorgran ressalta que esse golpe brutal atingiu também todos os profissionais da comunicação que atuam na fronteira Brasil-Paraguai, escancarando mais uma vez a insegurança vivida por quem pratica o jornalismo na região.
Nada justifica a violência contra jornalistas e é de suma importância que esse crime seja solucionado o mais rápido possível pelas autoridades paraguaias, já que a impunidade é mais uma forma de ferir o exercício livre da comunicação.
Diante dessa tragédia, o Sindicato lembra que há 8 anos, em Ponta Porã (MS), cidade brasileira que faz divisa com Pedro Juan Caballero, o jornalista Paulo Rocaro foi assassinado, em 13 de fevereiro de 2012. Segundo a investigação feita pela polícia brasileira na época, ele teria sido vítima de um crime político.
Agora no velório de Léo Veras estarão praticamente os mesmos colegas que sepultaram o corpo de Paulo Rocaro. Por isso, o Sindicato cobra segurança e justiça e afirma sua solidariedade aos familiares de Léo Veras e a todos os comunicadores de Pedro Juan Caballero e de Ponta Porã”.
Investigação
O Procurador Geral do Paraguai designou uma equipe de promotores que se juntarão ao trabalho do promotor Marco Amarilla para apuração do assassinato do jornalista. A equipe também será composta pelos agentes do Crime Organizado Alicia Sapriza, Marcelo Pecci e a Unidade Anti-sequestro, Federico Delfino, que serão integrados à equipe de trabalho dos investigadores junto à Polícia Nacional.