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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Mais de 80 crianças foram vítimas de abuso em Três Lagoas

14/05/2018 15h03

Ano passado foram registrados 82 casos de abuso infantil cidade; este ano já são mais de 20. Para a Fundação Abrinq, números podem camuflar uma realidade ainda mais cruel

Gisele Berto

A Secretaria de Assistência Social de Três Lagoas abriu hoje, 14, em solenidade no Centro de Referência de Assistência Social e Educacional (CRASE) Coração de Mãe, sua Campanha de Enfretamento ao Abuso Infantil.

A ideia da campanha é esclarecer a população e os profissionais que lidam diariamente com crianças sobre esse assunto tão delicado. “Precisamos tirar a sujeira debaixo do tapete. Não adianta disfarçar e fingir que não existe. Ninguém quer falar sobre o abuso contra crianças, mas ele existe e é importante que a gente mostre como identificar, prevenir e, quando for o caso, denunciar para proteger nossas crianças”, afirmou a Secretária de Assistência Social, Vera Helena Arsioli Pinho.

De acordo com o Centro Especializado de Assistência Social da cidade, em 80% dos casos o abusador é alguém próximo à família. Daí a importância de as campanhas ensinarem às famílias, professores e profissionais da saúde a identificar os sinais de que as crianças são vítimas de abuso.

Um dos objetivos da campanha é divulgar, também, o Disque 100 – número para fazer denúncias anônimas referentes a casos de abuso.

A DOR DO ABUSO

Três Lagoas registrou, no último ano, 82 casos de abuso infantil. De janeiro a abril de 2018 o número já soma 22 casos, sendo que 7 casos foram contra crianças até seis anos de idade.

No entanto, de acordo com a Fundação Abrinq esses números podem camuflar uma realidade muito mais cruel. Para a Fundação, muitas crianças simplesmente não denunciam e não contam nem aos próprios pais, seja por medo, vergonha ou culpa.

“Não achamos que pode acontecer com a gente. Mas o abusador está do nosso lado. Às vezes é uma pessoa em que deveríamos confiar. E quando somos abusadas, demoramos a perceber que fomos vítimas. Nos sentimos culpadas, queremos esconder. Não contamos para os pais nem para ninguém, por medo, vergonha, culpa, não sei. Guardamos aquilo com a gente e o sentimento vai nos corroendo, nos matando por dentro, sabe? Levamos anos para entender que fomos vítimas e, muitas vezes, jamais superamos”. Esse é um depoimento de uma empresária de 41 anos que prefere não se identificar. Abusada na infância por um parente próximo ela só conseguiu tocar no assunto depois do lançamento de uma campanha nas redes sociais, onde as mulheres foram estimuladas por outras vítimas a contarem seus casos.

Depois que a empresária tomou coragem e expôs sua dor nas redes de relacionamento, viu a imediata identificação de muitas outras pessoas. “Percebi que a grande maioria das mulheres que conviviam comigo, e vários homens também, haviam sido vítimas de abuso sexual em algum momento da vida. Pessoas que eu jamais imaginaria que teriam, assim como eu, passado por essa dor estavam lá, me dando apoio e pedindo também que alguém ouvisse sua história, há tanto tempo guardada.

MEDO

“Temos medo de destroçar a família. Temos medo de falar e alguém resolver fazer justiça com as próprias mãos. Medo de causar uma tragédia familiar. E, por termos medo, guardamos esse trauma. Se eu pudesse dar um conselho às crianças que hoje passam por isso seria: falem! Não fiquem caladas, a culpa não é de vocês, não tenham vergonha. Escolha alguém que seja da sua absoluta confiança. Se não souber em quem confiar, use o serviço disque 100 e converse com um profissional. Não sofra calado, não tente ser forte sozinho. Você precisa de ajuda e tem muita gente que pode te ajudar. Não sinta vergonha nem medo e peça ajuda”, afirma.

CAMPANHA NACIONAL

A campanha da Secretaria de Assistência Social de Três Lagoas está sintonizada à proposta da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA) na mobilização de ações para o “18 de maio – Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.

Como vem ocorrendo nos últimos anos, Estados, Municípios, setor empresarial, organizações da sociedade civil e demais parceiros têm aderido a esta campanha.

Desde 2009, a campanha, de âmbito nacional, utiliza como símbolo uma flor, como lembrança dos desenhos da primeira infância, além de associar a fragilidade de uma flor com a de uma criança.

O dia 18 de maio foi escolhido como Dia de Mobilização Nacional Contra a Violência Sexual porque em 18 de maio de 1973, na cidade de Vitória (ES), um crime bárbaro chocou todo o País e ficou conhecido como o “Caso Araceli”, menina de apenas oito anos de idade, raptada, estuprada e morta por jovens de classe média alta daquela cidade.

Em Mato Grosso do Sul, o segundo Estado no ranking nacional de registros de abusos e maus tratos contra crianças e adolescentes, foi também instituída por Lei a “Campanha Maio Laranja – Mês de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.

FUNDAÇÃO ABRINQ

Para fortalecer o enfrentamento contra o abuso infantil a Fundação Abrinq lançou uma cartilha que ajuda a identificar os sinais de que uma criança pode estar sendo vítima de abuso. A campanha #podeserabuso conta com materiais impressos e online, para compartilhar nas redes sociais, e com vídeos que ajudam a reconhecer quando uma criança está sendo abusada. A campanha está disponível no site

Campanha tem por objetivo prevenir e denunciar casos de abuso infantil

Muitas vezes o abusador está mais perto do que imaginamos. Foto ilustrativa

Campanha da Fundação Abrinq ajuda a identificar os sinais de abuso.

Mais de 80 crianças foram vítimas de abuso em Três Lagoas

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