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No mês do ‘Setembro Amarelo’, psiquiatra alerta sobre a questão do suicídio

11/09/2017 17h17

No Brasil, o mês de setembro é dedicado a combater o suicídio. De acordo com a psiquiatra qualquer pessoa, com transtornos mentais ou não, pode tentar contra a própria vida.

Flávio Veras

No mês de setembro acontece a campanha ‘Setembro Amarelo’ dedicada a combater o suicídio. No domingo (10), foi o dia nacional de luta contra o atentado à própria vida. Porém, em Mato Grosso do Sul foram registradas ao menos três mortes que estão sendo investigadas como suicídio. Duas das vítimas têm idade e pertencem a grupos que mais sofrem deste mal; uma delas era jovem, com 19 anos e a outra era indígena.

Os suicídios têm aumentado nos últimos anos em todo o mundo de acordo com a Organização Mundial de Saúde e pode ser considerada uma epidemia, uma das principais causas de óbitos da população mundial. “Um ato como esse acontece no mundo a cada 40 segundos, quase 800 mil vítimas por ano, e desse total, 90% dos casos poderiam ser evitados”, informou o órgão.

Já o ‘O Relatório Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil’, com dados adquiridos em 2015 e publicado pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário) em 2016, mostrou que metade dos suicídios entre indígenas ocorridos em 2015 aconteceram em Mato Grosso do Sul.

AJUDA EM TRÊS LAGOAS

De acordo com a coordenadora do Centro de Assistência Psicossocial (Caps) 2, Patrícia Azambuja Viana Alvarenga, o órgão está apto a receber qualquer pessoa que necessite de acompanhamento. “Independentemente dos sintomas que o indivíduo esteja sentindo, o Caps pode recebe-lo e encaminha-lo a um especialista. Em caso de menores, basta estar com um responsável e portando os documentos de identificação e o cartão do Sistema único de Saúde. Assim, poderemos fazer o acolhimento e realizar os encaminhamentos necessários”, esclareceu.

ESPECIALISTA

O Perfil News entrevistou a médica psiquiatra Larissa Ormeneze de Freitas. A especialista, que atende pelo Caps 2, afirmou que o suicídio não se trata de uma doença, portanto, o ato pode ser cometido desde pessoas que tenham transtornos mentais, até aquelas que nunca apresentaram indícios dessas doenças.

Um exemplo, que retrata essa situação, foi citado por ela durante a entrevista. Se trata de um paciente que foi atendido após tentar cometer suicídio. De acordo com a psiquiatra, o rapaz ficou sabendo de uma traição de sua esposa e decidiu se separar.

“Por não aceitar o término do casamento, ele decidiu fazer uma apólice de seguro para deixar seus filhos resguardados e, posteriormente – levando em conta que era motorista de caminhão – saiu para a pista contrária que trafegava com seu veículo e acabou colidindo de frente com outro caminhão. No entanto, ele acabou sobrevivendo ao acidente e fazendo o tratamento comigo”, relatou a especialista.

Acompanhe abaixo a entrevista com a médica psiquiatra Larissa Ormeneze de Freitas

Quais são os primeiros sinais de comportamento que podem levar a pessoa ao suicídio?

“Qualquer indivíduo está susceptível a tentar contra a própria vida. É importante observarmos os sinais de alarme que podem indicar o ato ou o planejamento suicida, e eles podem ser vários como, por exemplo, sentimentos de inferioridade, vontade de desaparecer ou “ir para longe”, ameaças de que irá se matar, isolamento social, abuso de substâncias (álcool, drogas lícitas ou ilícitas), entre outros”.

Quais são as dicas para que pessoas próximas ou familiares identifiquem esses sinais?

“É importante identificar esses sinais já citados, principalmente pelos entes e amigos mais próximos. A partir daí, é preciso discutir e abordar o assunto ao invés de evitá-lo. Dialogar sobre os medos, preocupações e incertezas costuma reduzir a ansiedade e a ideação suicida”.

“Precisamos ressaltar que existem dois grupos etários de maior risco: o adolescente e o idoso. Na adolescência o índice de suicídio é maior por ser uma fase de transições, formação de sua personalidade e maior exposição emocional. Já no idoso o risco também é grande devido sua vulnerabilidade física, ou seja, as tentativas de suicídio são mais letais”.

Em quais casos existe a necessidade do uso de medicamentos?

“Na maioria dos casos em que se expressa o objetivo suicida, mesmo a vontade de morrer, não é necessário uso de medicação. Essa situação pode ser decorrente de uma frustração ou de uma perda, mas nem sempre é consequência de um transtorno mental. Nos casos diagnosticados como Episódio Depressivo, Transtorno de Ansiedade, etc., pode ser necessário o tratamento com medicação”.

Os pacientes também devem passar por psicólogos e psicoterapeutas?

“A avaliação psicológica e terapêutica é essencial para o diagnóstico de possível transtorno mental e também para definir a conduta de tratamento”.

Caso seja necessário, eles também conseguem esse acompanhamento na Rede Pública de Saúde?

“Sim. Na rede pública existem o CAPS II e o CAPS AD para acolhimento e também tratamento via ambulatorial com especialistas”.

Qual a importância da prevenção e do diagnóstico precoce para evitar que a pessoas não tente o suicídio?

“Isso é um problema de Saúde Pública no qual, portanto, é importante dialogar sobre o suicídio, que é real. Esse tema precisa deixar de ser um tabu e passar a ser tratado com seriedade, prevenindo novas tentativas”, finalizou Ormeneze de Freitas.

NOVO CANAL

Mato Grosso do Sul terá um novo canal para prevenção. A partir do dia 30 de setembro o CVV (Centro de Valorização da Vida) passará a atender gratuitamente pelo 188 em Mato Grosso do Sul e mais 7 estados brasileiros.

Serviço: O Caps 2 fica localizado na rua Zuleide Perez Tabox, 950, no Centro.

Ao todo, são 800 mil registros anuais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). (Foto: Arquivo/Agência Brasil)

O Caps 2 fica localizado na rua Zuleide Perez Tabox, 950, no Centro. (Arquivo / Perfil News)

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No mês do ‘Setembro Amarelo’, psiquiatra alerta sobre a questão do suicídio

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