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Três Lagoas
quinta-feira, 25 de abril de 2024

Perfil News entrevista governador Reinaldo Azambuja

05/10/2018 07h44

Candidato à reeleição falou sobre o legado de sua administração e quais as prioridades no caso de um novo mandato

Gisele Berto

Como parte das entrevistas com os candidatos que disputam cargos eletivos nas eleições do próximo domingo, o Perfil News conversou com o governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja.

Um dos favoritos nas pesquisas à reeleição, Azambuja falou por meia hora com a reportagem. Foram abordados temas como segurança pública, infraestrutura, a importância de Três Lagoas no cenário estadual, geração de empregos, turismo e quais serão as prioridades de um eventual próximo mandato.

Além disso, o governador e candidato foi perguntado sobre temas polêmicos, inclusive sobre a Operação Vostok, da Polícia Federal, que rendeu 14 pessoas presas – inclusive o filho do Governador – por recebimento de propinas.

Acompanhe a entrevista no vídeo ou na entrevista publicada em formato ping-pong logo abaixo.

Perfil News: Três Lagoas é uma cidade diferente de outros municípios do estado, já que teve um desenvolvimento rápido. Saiu rapidamente da pecuária e olaria para a industrialização. Com isso, aumentou a população e os problemas da cidade, e hoje Três Lagoas paga um preço pelo seu progresso. Para que o administrador local possa gerenciar isso ele precisa do apoio do Governo e o senhor é do mesmo partido do prefeito Ângelo Guerreiro. Nesses quatro anos que estão se findando agora, qual o balanço? O que o senhor trouxe para Três Lagoas e, se eleito, o que mais o senhor pretende trazer para o município.

Governador Reinaldo Azambuja: O desenvolvimento traz problemas. Toda região brasileira que cresceu – e Três Lagoas foi uma das que mais cresceu – você traz mais pessoas e isso acarreta em mais problemas – segurança, infraestrutura. Nós fomos muito parceiros de Três Lagoas na área de infraestrutura. Recapeamos vias, fizemos drenagem de águas pluviais, pavimentamos bairros, recuperamos parte da Capitão Olinto Mancini e estamos iniciando, com cinco milhões de investimentos, na Clodoaldo Garcia, que vai passar por revitalização, vai ser construída uma ciclovia e terá recapeamento.

“O maior investimento em saneamento do Mato Grosso do Sul é feito aqui, mais de R$ 130 milhões – água, reserva, perfuração de poço profundo e esgotamento sanitário. Nós vamos elevar o esgotamento sanitário de Três Lagoas a 85% de toda a cidade. Isso é nível de país de primeiro mundo”.

Em habitação, 1472 residências já foram entregues – Orestinho 1, 2 e 3. Oferecer casa própria para sair do aluguel. Aqui o déficit habitacional é alto. Construção do Hospital Regional. Não está pronto ainda, mas não é uma pedra fundamental, já é uma obra no terceiro pavimento. Em maio do ano que vem vai estar pronto, o dinheiro já está na conta, dinheiro próprio do Estado e do BNDES. 138 leitos para servir UTI, tomógrafo, ressonância, e vamos fazer ali um hospital regional para média e alta complexidade, para toda a Costa Leste. Vai servir à cidade a ao curso de Medicina da Universidade Federal, porque vai ser um Hospital-Escola, e vai servir ao atendimento hospitalar em toda a região.

Nosso governo é muito presente em Três Lagoas, parceiro da cidade em obras estruturantes, que estão em andamento, e nós começamos isso no mandato anterior, ainda com a ex-prefeita, e agora com o Ângelo a gente fortaleceu ainda mais essa parceria, e hoje eu posso dizer que nós estamos muito presentes em Três Lagoas com investimentos em todas as áreas que são vitais para o desenvolvimento de uma cidade: segurança, saúde, educação, escola em tempo integral, infraestrutura, saneamento e habitação.

Perfil News: Falando em economia, Três Lagoas vive uma dicotomia. Ao mesmo tempo que é a cidade que mais contribui para o comércio exterior, representando metade das exportações do estado, também é a cidade com o maior índice de desemprego do Estado, tendo até agora fechado mais de 600 vagas de emprego apenas neste ano, enquanto o Estado comemora o saldo positivo. Como mudar esse cenário e recobrar a pujança de Três Lagoas, que foi considerada a capital nacional do emprego há apenas dois anos.

Governador: Aí falamos sobre a sazonalidade do emprego. Nós terminamos a Fibria e nós temos uma massa de pessoas empregadas. Aí a fábrica ficou pronta e ela não assimila toda a mão de obra. Teve muita migração de pessoas a Três Lagoas. Nós precisamos da conclusão da UFN3, que é uma missão em que o Estado e a Prefeitura estão empenhados. Nós já transferimos os benefícios fiscais que eram da Petrobrás para a empresa compradora, a Acron, uma empresa russa, uma das maiores do mundo e, principalmente, precisamos qualificar a mão de obra.

Por isso nós implantamos ensino técnico profissionalizante em escolas estaduais. Quando você termina a obra física da estrutura você tem um emprego direto na indústria. Só que esse emprego exige mão de obra qualificada. E essa mão de obra muitas vezes vem de fora, e é o que nós não queremos, nós queremos a mão de obra local.

O cidadão daqui, treinado e trabalhando nas indústrias. E fomentar o desenvolvimento. Inauguramos a Greenplac em Água Clara e temos várias consultas de empresas do setor moveleiro que querem se instalar em Três Lagoas e região. Concluir a UFN3 é uma missão, e outras empresas que estão olhando Três Lagoas em outros ramos, como a cervejaria e outra empresa de celulose que está olhando essa região para se instalar também. Precisamos agregar valor ao emprego local, isso só se faz com mão de obra qualificada, por isso investimos muito no setor produtivo. Se o Estado dá o incentivo fiscal, o que nós precisamos, pelo menos? Garantir o emprego localmente. Isso, muitas vezes, não ocorria. Agora estamos sendo muito ativo nessa questão com as empresas, que nós queremos saber o perfil da mão de obra para qualificarmos e empregarmos pessoas daqui.

“Não adianta o Estado ser o segundo em geração de empregos no país pelo segundo ano consecutivo, e não se refletir em Três Lagoas”.

Perfil News: O comércio de fronteira sobre com a alta tributação, em comparação com o Estado de São Paulo, que é nosso vizinho. O sul-mato-grossense daqui vai ao outro lado da ponte comprar material de construção, produto alimentício, de higiene e limpeza e combustível. A alíquota do Etanol em SP é de 12% e aqui é 25%. O comércio vem fechando porta devido a isso. Qual a possibilidade de se fazer uma condição tributária diferenciada para a cidade, afim de manter o emprego e a arrecadação?

Governador: Isso é procedente. Quando há estados vizinhos e você tem a questão do ICMS, que não é uma regra única. Nós somos defensores de criar uma alíquota única para o país. Vou dar um exemplo: gasolina em SP a alíquota é 25%, aqui também é 25%. Diesel nós éramos mais caros, era 17% e baixamos para 12%. O preço do diesel lá é mais barato do que aqui porque aqui tem a cultura de agregar lucro maior do que devia, aí perde competitividade.

Do Etanol, por que o nosso é 25%? Porque nós damos incentivos à indústria. O MS é o segundo estado em produção de açúcar e álcool do Brasil, e tem uma grande carga de incentivo fiscal na indústria, na usina. Se tirássemos o incentivo da usina e colocássemos na bomba seria extremamente competitivo. Mas a gente priorizou a geração de emprego.

No comércio, por segmento econômico, não é muito diferente de São Paulo. Precisamos olhar os setores que estão mais penalizados e fazer a desoneração, como fizemos no diesel, de 17 para 12%. Fiz agora um decreto reduzindo o ICMS do querosene da aviação de 17% para 3%. São Paulo é mais caro que nós. Nós queremos trazer novos voos para a região, abastecendo aqui. Não importa se você reduz a alíquota, se você tiver consumo você aumenta a base de cálculo.

Somos um país com uma carga tributária bruta. De cada R$ 100 de impostos que a gente paga, R$ 68 fica com a União, R$ 32 volta para os estados e municípios. E isso é brutal, porque o cidadão vive no Estado, no Município. Nós precisamos de uma reforma fiscal no país, um imposto único, alíquotas iguais. Só um exemplo: ontem eu tive uma reunião com o setor de frigorífico. Carne para São Paulo não significa nada na balança de ICMS deles. Então eles zeram a alíquota. Aqui no MS significa muito. Então precisamos fomentar uma política unificada de tributos no país para aumentar a competitividade do estado e fazendo isso a gente consegue avançar em uma desoneração.

“Nós somos um dos poucos estados que diminuiu a carga tributária em relação ao PIB”.

*A gente sabe que precisa avançar muito ainda e eu espero que o novo presidente que assuma em janeiro faça essa mudança tributária do país para nós sermos mais competitivos.

Perfil News: Nós tivemos uma reunião com 55 empresários e representantes de classe no seu gabinete, falando sobre segurança pública. Na ocasião o senhor determinou ao seu secretário que se incorporassem militares da reserva para ajudar no efetivo. Decorridos alguns meses, apenas dois policiais militares foram incorporados. O que o senhor tem feito e o que pretende fazer, caso eleito, pela segurança pública, especialmente em Três Lagoas, onde fazemos fronteira com SP, e o MS, como um todo, tem uma vasta fronteira seca com países vizinhos, por onde entram armas e drogas no Brasil.

Governador: Quando você esteve junto na reunião com a associação comercial, junto com políticos da região, foram reclamar dos alarmantes índices de assaltos que tinha na cidade. Imediatamente nós determinamos à nossa inteligência que fizesse uma operação. A Polícia veio para cá, prendemos alguns bandidos e nove morreram em confronto com a polícia. Vocês reclamavam que a gente prendia e a justiça soltava.

*Se você pegar os índices de assalto, furto, roubo e homicídios de Três Lagoas dessa época para cá você observa que diminuiu drasticamente o problema. Então teve uma ação da inteligência da polícia. Houve um confronto da polícia com o crime organizado. Quem enfrentou a polícia morreu ou foi preso. Temos agora um concurso de 450 policiais.

“Eu estou aprovando uma lei na assembleia legislativa agora que chama Lei do Bico. Ao invés do policial prestar serviço na hora de folga para a iniciativa privada ele vai poder prestar para o estado. Nós vamos regulamentar isso e teremos mais policiais que, na hora da folga, vão prestar serviço ao governo e receber uma diária”.

Quanto ao chamamento dos policiais da reserva, nós não temos como obrigá-los a voltar para a ativa. Não sei quantos voltaram. Mas só no MS, com essa lei, voltaram 534 policiais que estavam na reserva e voltaram à ativa, e ganham 30% a mais no salário. Foi um dos meios que a gente achou para fortalecer as estruturas de segurança.

Mato Grosso do Sul é um estado fronteiriço. Nessa região, com SP, MG e GO. Lá embaixo com Paraguai e Bolívia. Lá embaixo está aberto. O Governo Federal totalmente ausente das fronteiras. Com concurso público, nomeamos 72 delegados e vieram três novos delegados para a regional de Três Lagoas.

Antes de começar o governo tinha 26 cidades sem delegados e agora todas têm delegado. Nós fomos considerados o terceiro estado mais seguro do Brasil pelo mapa que mede a violência. Tem muito a ser feito, mas a ostensividade que demos aqui diminuiu a criminalidade, no roubo das lojas. Precisa manter isso, com viatura nova, armamento novo, câmeras de segurança.

Agora nós vamos instalar câmeras na ponte, em pontos estratégicos. Com a câmera você controla a cidade de dentro de uma sala, você coloca um painel – nós colocamos nos 14 municípios de fronteira e ajudou muito a gente ver o ir e vir de veículos e pessoas. Aqui nós vamos fazer a instalação de câmeras também com esse intuito. Às vezes o bandido não é daqui, ele vem de São Paulo, comete o delito e volta para lá. Você tendo o controle através de câmeras de segurança. Nós temos duas passagens aqui – a ponte e por balsa ou barca. É muito fácil controlar o ir e vir com câmeras de segurança. Vamos instalar em Três Lagoas também.

Perfil News: Sobre as compensações da CESP referentes à construção da Usina de Porto Primavera, como será o investimento da parte que cabe ao estado?

Governador: No acordo feito com a CESP foi pactuado que a recomposição de toda a mata ciliar das encostas, desde Batayporã até Três Lagoas é responsabilidade da CESP ou do comprador da CESP.

Da metade da verba correspondente ao estado, 20% vai para o fundo do Ministério Público, que precisa investir em projetos de cunho ambiental.

“O restante o Governo utilizará para obras para o meio ambiente, como parques, recuperação e tratativas que serão feitas com as regiões. Teremos o Parque do Rio Negro, que tem 70 mil hectares, parques e complexos ambientais.”

Perfil News: Agora o assunto é Turismo. Vemos que os investimentos do Governo do Estado no setor de turismo são muito focados na região de Bonito e do Pantanal. Entretanto, além de toda a beleza natural de Três Lagoas e das cidades vizinhas, temos uma margem de rio muito extensa e pouco explorada pelo transporte e turismo náutico. Isso tudo além de estarmos na fronteira com São Paulo e Paraná, dois fortes mercados consumidores de turismo. O senhor acha que falta investimento ao turismo local? Como o Governo do Estado pode contribuir para fomentar o turismo na região e, com isso, transformar esse setor em uma indústria geradora de empregos?

Governador: Estamos investindo muito em divulgação. Agora temos o programa Visit MS, que mostra todas as belezas do nosso estado. Vamos trazer o maior evento de turismo de aventura da América do Sul, a Adventure Sports Fair, para MS em novembro.

Aqui nessa região precisamos ver quais atrativos que podem ser potencializados. Quais pousadas, hotéis fazenda, o que tem no rio. Fomentar isso. Pegar a secretaria e o município, junto com o estado, e fomentar as belezas naturais para podermos gerar atividade turística em toda a região.

“A fundação de turismo tem um projeto concebido para cá, pelas belezas e oportunidades que têm. Vamos começar um despertar de turismo na costa leste do MS”.

Perfil News: O senhor se manifestou sobre a Operação Vostok, em que 14 pessoas foram presas, inclusive seu filho, em um suposto esquema de pagamento de propinas no Executivo estadual e afirmou que, há um ano e meio, havia se colocado à disposição da Justiça para esclarecer esse caso e que, apenas agora, às vésperas da eleição, o assunto voltou à tona, e chamou a operação de midiática e intempestiva. Dessa forma o senhor afirma que a Polícia Federal está agindo de forma a intervir nos resultados das eleições?

Governador: As 14 pessoas que foram presas nunca se negaram a depôr, mas nunca foram chamadas. Ouviram só o lado do delator. Quem era o delator? Grupo JBS, que roubou o Brasil e ficou milionário no governo petista por um número extraordinário de benefícios que eles tiveram.

“No MS eles eram mal acostumados, pagavam pouco imposto e nós enquadramos eles na cadeia produtiva”.

Um exemplo aqui na região de vocês: Fibria e Eldorado: os benefícios que a Eldorado tinha a Fibria não tinha. Pode ser? Não pode, deve ser igual. Nós igualamos eles, cortamos benefícios da Eldorado e igualamos aos que a Fibria tinha. Isso é normal em um estado que trata incentivo fiscal por cadeia produtiva. Eles fizeram a delação, o MP aceitou, pegou do presidente Michel Temer até vereador de município de interior, não provam nada, não tem nenhum documento na delação. Mentiram, que é o que o Janot escreveu quando pediu a anulação da delação, porque eles mentiram ao Brasil.

Nós, homens públicos, temos que prestar contas. Nunca fugimos disso. No caso do curtume foi pedido anulamento do processo por falta de provas e o mesmo vai acontecer com esse caso. O problema é que eles fazem uma operação midiática. Dois dias antes, pessoas ligadas a candidatos já sabiam da operação porque escreviam “uma bomba vai explodir”. Se você ler os 14 depoimentos das pessoas presas nenhum me incrimina. Nada. Mas nunca foram ouvidos. Essa questão da Polícia é midiática, mesmo. Eles prendem para ouvir, porque é político, é o filho do governador, é o deputado, o conselheiro do tribunal.

A mídia, muitas vezes, tem o afã de pegar a classe política como se fosse o mal do Brasil, e não é. O político corrupto, ladrão, ele existe. Ele tem que ser preso, devolver o dinheiro para ser bem aplicado. Mas não dá para condenar todo mundo sem dar ao menos o direito a se defender. Eu me defendi em um caso e vai ser arquivado e nesse da JBS também vai ser, porque não tem nada.

“Nós fizemos eles (JBS) sair de R$ 40 milhões de tributo/ano para R$ 200 milhões, que eles estão pagando. Eu nunca vi alguém pagar propina para pagar mais imposto”.

Falaram que eu movimentei R$ 27 milhões na minha conta. É mentira. Eu movimentei R$ 46 milhões. Minhas contas pessoais, da minha atividade, eu sou empresário da agropecuária. Está ali toda a minha movimentação. Eles falaram que eu tinha três propriedades e eu não unifiquei em uma pessoa jurídica. E é verdade, porque a agropecuária está no meu nome, da minha mulher e dos meus filhos. Se eu quisesse ocultar patrimônio eu ia colocar no nome deles?

Essas propriedades eram do meu bisavô e do pai da minha esposa, que era do avô dele. Propriedades que têm 150 anos na nossa família. Não tem nada que eu adquiri de serviço público. Prenderam, soltaram e estão envergonhados, eu acredito, porque fizeram um estardalhaço com cunho político e eu acho que politicamente eles não conseguiram nos atingir, pelo menos é o que mostram as pesquisas. Vamos prestar contas à justiça e o inquérito vai ser arquivado, como foi o outro.


Governador falou com a reportagem sobre temas polêmicos, inclusive as acusações na Operação da Polícia Federal que prendeu seu filho. Foto: Reprodução.


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