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quarta-feira, 24 de abril de 2024

Renée Venâncio aposta na combatividade para tentar uma cadeira na Câmara dos Deputados

03/09/2018 16h30

Candidato pelo PSD a Deputado Federal, o vereador tem a carreira política marcada pela inflexibilidade em relação às próprias opiniões e acredita no poder das redes sociais para angariar votos

Gisele Berto

O agente de Polícia Federal Renée Venâncio é um dos principais nomes da oposição na Câmara dos Vereadores de Três Lagoas. E agora é candidato a Deputado Federal pelo PSD.

Em seu primeiro mandato, Venâncio bate de frente com o que ele chama de velha política da cidade.

“Quando eu fui eleito vereador – e fui o mais votado na cidade, com 1.700 votos – eu disse que não me misturaria à política tradicionalista, retrógrada, nefasta que está aí, infelicitando Três Lagoas. E muita gente não acreditou, falaram que eu ia me render, porque lá tem dinheiro, tem poder, cargos à disposição. Foram oferecidas coisa que eu, um negro que veio da favela, nunca imaginou. Mas eu me mantive sólido no meu propósito de representar exclusivamente o povo. Fui até mesmo contra algumas imposições do meu partido e cheguei a colocar o meu mandato à disposição. Se quiserem meu mandato, eu vou lá para minha delegacia, vou trabalhar e pronto. Eu não vou ceder ao jogo político”.

Venâncio se autodefine como um “cidadão pensante e crítico em relação à política”. Mesmo antes de ingressar em um cargo eletivo, já mantinha posicionamentos fortes como agente federal. “Todos nós somos seres políticos, independentemente de cargo eletivo. Até quem se nega a ser. A condição natural do ser é a política”.

ONDE TUDO COMEÇOU

Nascido em Osasco, na Grande SP, Renée viveu em uma comunidade chamada Km 18, um lugar muito pobre e violento. “Sobrevivi àquilo ali. Marcola era meu amigo de infância, a gente chamava ele de Bicudo. A gente tem lembranças muito difíceis daqueles tempos, foi difícil sobreviver. A maioria dos meus amigos morreu, ficaram pelo caminho. Eu sobressaí naquele ambiente através da educação e da firmeza da minha família, meu pai, minha mãe, minhas irmãs que são mais velhas. A gente tinha aquele compromisso de obediência aos pais, a gente levava aquilo a sério, a cinta comia solta lá em casa. Eram 13 pessoas morando em uma casa de dois cômodos. Era muito difícil, mas eu era muito feliz ao mesmo tempo”.

As oportunidades surgiram pela escola. “Por isso que eu falo que a escola liberta”.

Segundo Renée, a escola pública era muito boa nos anos 70. “Os professores eram enérgicos, a gente tinha que respeitar. Havia o culto ao patriotismo, ao nacionalismo, você era impelido a amar e respeitar o seu país. Isso me salvou de qualquer tipo de desvio”, diz.

Quando a coisa começou a ficar muito difícil a família se mudou para a cidade de Ourinhos, no interior de SP, para que ele pudesse ter uma adolescência um pouco mais livre das tentações. “Em Ourinhos eu cresci mais livre e mais solto. A partir daí comecei a alimentar meu sonho de ser policial”, afirma.

O INGRESSO À POLÍCIA

Aos 18 anos o jovem Renée já estava decidido que, quando eu terminasse o Exército, iria tentar carreira militar. Foi dispensado do Tiro de Guerra, o que antecipou o ingresso à PM.

“Eu via lá em Osasco aquelas Veraneios preto e vermelha dobrando a esquina e ficava louco. Se você dava tchau os policiais desciam, davam bala para a gente. Diziam que era um período de ditadura, mas é tudo mentira, a gente tinha segurança e vivia feliz, a gente gostava de estar ali, ver os policiais trabalhando. Aquilo me motivava desde criança”

Aos 18 anos prestou o concurso para a Polícia Militar do Estado de São Paulo, foi aprovado e começou o curso de formação. Aos 19 já era cabo; aos 20, sargento e aos 23 prestou o concurso para a Polícia Federal. “Passei e esperei dos 23 aos 26 para ser chamado. Aos 26 eu vim para a Polícia Federal – primeiramente Brasília. Para Três Lagoas eu vim em 1996. Pedi transferência para cá porque haviam matado um agente da polícia federal em Três Lagoas, o Alzelino Fernandes Ribeiro, o Hulkinho. A investigação fez com que alguns agentes daqui tivessem que sair para a investigação ser feita com mais tranquilidade e imparcialidade. E abriram vagas aqui, me ofereceram, eu olhei no mapa, vi que era perto do Estado de SP, e eu vim para passar dois anos. Me apaixonei pela cidade e estou aqui há 22”.

O INÍCIO NA VIDA PÚBLICA

Venâncio afirma que o ex-vereador Jorge Martinho foi sua inspiração para se candidatar a um cargo eletivo. “Em 2012 via-o falando na tribuna sobre a situação do marmitex (em que a prefeita da época, Márcia Moura, foi investigada pelo Ministério Público Estadual pelo superfaturamento no contrato de compra de marmitas para os funcionários do Samu e do Pronto Atendimento. As marmitas eram jogadas no lixo devido à má qualidade do alimento). E aquilo me marcou demais, porque envolvia desperdício de comida e desvio de dinheiro público. Aquilo mexeu demais comigo”.

Segundo ele, o posicionamento de Martinho, na época, o incentivou a tentar um cargo eletivo. “Vi aquele homem sozinho sendo acuado pelos vereadores, que defendiam a prefeita à época, eu me senti na obrigação de participar da vida política da cidade e começar a me manifestar como cidadão. E as minhas manifestações públicas através das redes sociais foram me movendo para dentro da atividade político-partidária”.

O MANDATO NA CÂMARA

Venâncio acredita que, por se posicionar na oposição da atual gestão, seus projetos fiquem escamoteados. “Eu faço aquilo que as pessoas esperavam de mim, que é a função do vereador: fiscalizar. Todos os meus projetos foram rejeitados como forma de diminuir o meu trabalho. Só que a minha tarefa fiscalizatória superou tudo isso. Eu não criei nenhuma semana do marrom glacê ou dia municipal do cavalo sem pata. Qualquer coisa que eu apresentasse seria rejeitado, para eles poderem falar depois que eu não faço nada. Só que eu faço muito. Fizemos um trabalho de fiscalização histórico em Três Lagoas”.

ALIANÇAS POLÍTICAS

Para as eleições majoritárias, a cúpula do PSD, partido de Venâncio, fechou apoio ao PSDB – partido do prefeito Guerreiro, a quem Venâncio mantém forte oposição.

Hipoteticamente, caso houvesse um comício, Venâncio teria, por orientação do partido, que participar do palanque do PSDB em Três Lagoas. “Mas eu não subo nesse tipo de palanque nem amarrado”, afirma.

CAMPANHA ENXUTA

Venâncio afirma que faz uma campanha sem dinheiro do fundo eleitoral. “Não aceitei material gráfico de partido, não aceitei participar do programa eleitoral gratuito na TV e no rádio, vou fazer a campanha para deputado federal da mesma maneira que eu fiz para vereador e o êxito virá. Ainda que não eleito, o êxito virá. Vou provar que é possível você ser grande sem ser conivente”.

Para bancar sua campanha, além de recursos próprios, Venâncio afirma que tem muitos amigos dispostos a ajudar, com a vaquinha virtual e doação de material. “Essa ajuda dos amigos vai fazer com que não me falte um santinho para entregar para o eleitor interessado em votar em mim ou me ajudar na campanha. A rede social também está aí, ela é gratuita, eu tenho muita força. Minha página tem alcance nacional”.

O candidato afirma ter um palanque na cidade que nenhum político de Três Lagoas tem: a força nas redes sociais. “Tenho cerca de 120 mil seguidores nas minhas páginas. A disseminação das minhas ideias e projetos circula muito rápido por elas”.

Venâncio também afirma que não faz caminhadas pelo Estado, como outros candidatos. “Eu não tenho condição de fazer isso e é por isso que eu uso das redes sociais. Chega muitas vezes onde não chega o santinho do candidato milionário, amparado pelo fundo partidário. Eu vou fazer minha campanha dessa forma, estou bem classificado entre os principais candidatos do estado, as pesquisas apontam isso e eu posso ser uma surpresa nessa corrida porque o povo quer novidade, o povo está cansado”.

FRENTE DOS AGENTES FEDERAIS

Venâncio faz parte de um grupo chamado Frente dos Agentes Federais. Apoiada na popularidade de operações como a Lava Jato e a Lama Asfáltica, no MS, a Federação Nacional dos Policiais Federais reuniu os maiores expoentes políticos da Polícia Federal no Brasil para formar uma frente que pudesse colocar pelo menos um agente em cada estado do Brasil para disputar uma cadeira no Congresso Nacional – no Senado ou na Câmara dos Deputados. São 32 candidatos no Brasil – um por estado. Em alguns estados são dois.

“Sou o único concorrendo a deputado federal no MS. O André Salineiro – vereador mais votado em Campo Grande – concorre a uma vaga na Assembleia Legislativo”.

Venâncio acredita que a credibilidade da Polícia Federal pode ajudar a eleger agentes pelo país. “A Polícia Federal vem prestando um serviço de excelência à população brasileira. É uma das instituições de mais credibilidade no Brasil hoje em dia. Através da operação Lava Jato, nacionalmente, e Lama Asfáltica, no MS, e várias outras operações que ganharam o noticiário nacional e internacional, nós estamos fazendo um trabalho muito importante em prol da sociedade brasileira. Revelamos diversos nichos de criminalidade no seio da política brasileira. O centro do poder político brasileiro foi revelado como sendo criminoso, onde as pessoas que deveriam fazer esse país crescer e a sociedade tivesse o retorno dos impostos, se revelou um núcleo de bandidos. A partir da premissa que nós, Policiais Federais, conseguimos revelar muita coisa que a população não sabia, também existe a possibilidade de nós participarmos da vida política”.

SEGURANÇA E FRONTEIRAS

Para Venâncio, os projetos de Segurança Pública precisam passar pela revisão completa do sistema. “O modelo de segurança pública no Brasil é totalmente arcaico. Esse modelo precisa ser reformado. Precisamos de um ciclo completo nas polícias, de trabalho de monitoramento inteligente nesses oito mil quilômetros de fronteira do Brasil com os demais países da América do Sul. Também precisamos rever o tipo de aplicação de pena e a forma com que as penas são cumpridas no Brasil. Tem muito bandido solto e muita gente que não precisava estar preso e está na cadeia. Então, o nosso modelo penal, de segurança pública e penitenciário precisam ser reformados. As polícias devem ser tratadas de forma diferente”.

ESTATUTO DO DESARMAMENTO

Partidário do candidato a presidente Jair Bolsonaro, Venâncio também é a favor da revisão do Estatuto do Desarmamento.

Segundo ele, pessoas com capacidade psicológica e técnica para portar arma devem ter o porte de arma concedido. “Eu ando armado há 30 anos. Essa conversa de que se a pessoa estiver armada, qualquer briguinha vai atirar, isso é para gente desequilibrada. Por isso tem alguns critérios técnicos e psicológicos que precisam ser respeitados. Você não vai sair dando arma para qualquer um”.

No entanto, segundo Renée, a polícia não pode estar em todos os lugares e existem pessoas em condições de se autodefenderem. “Ninguém é obrigado a ter arma. Existe uma grande falácia dizendo que as mortes vão aumentar. O Brasil escancara números absurdos de homicídios intencional, beirando os 64 mil por ano. A maioria dessas pessoas poderiam ter uma chance de sobreviver, uma chance de se defender. O bandido não liga para o estatuto do desarmamento. Ele coloca o fuzil a tiracolo, fazem o bonde deles e vão passear livremente pelas ruas do RJ, Fortaleza, periferia de SP e ninguém consegue impedir isso. Temos que parar com essa hipocrisia de que se tiver arma a gente vai matar mais. Os homicídios só aumentam. E não se mata só com arma de fogo. Se mata com faca, com pedra, barra de ferro, até com ferro elétrico, como aconteceu aqui em Três Lagoas”.

Segundo ele “quem quer matar, mata de qualquer jeito. Só que quem teria a oportunidade de se defender, não tem como, porque infelizmente esse governo que se instalou nos últimos anos no Brasil colocou a população de joelhos diante da criminalidade”.

ATUAÇÃO EM BRASÍLIA

Como vereador Venâncio orgulha de não se render e de ser inflexível nas suas ideias. No entanto agora, buscando uma vaga em Brasília, como ele lidará com o fato de estar indo para o “covil dos leões”. “Eu nasci no covil dos leões. O covil de verdade era o km 18 em Osasco. A Câmara não é covil de nada. O leão da Câmara sou eu. E na Câmara dos Deputados eu não vou ser alvo fácil para eles também. Vou me manter na minha postura, no meu posicionamento”.

EDUCAÇÃO

Venâncio acredita que a Educação é o principal pilar da sociedade. Ele também acredita que o sistema de ensino precisa passar por uma reforma completa.

“Primeiro temos que restabelecer a ordem nas escolas. A hierarquia. Precisamos parar de doutrinação ideológica nas escolas. Essa doutrinação está acabando com as famílias, inclusive com a minha família. A doutrinação ideológica destruiu o relacionamento entre pai e filhos na minha casa. Essa doutrinação que está fazendo com que as nossas crianças deixem o estudo em segundo plano e partam para essa vida de ilusão, de utopia que o marxismo e gramscismo pregam através dos professores. Coibir a doutrinação ideológica, fazer com que a escola seja um reduto de aprendizado para a vida e não para sustentação de político vagabundo e que quer usar o seu filho para se manter no poder”.

Além disso, Venâncio diz ser imperativo restabelecer a repetência e criar condições para que os alunos que se destacam possam estudar em escolas particulares. “Sei que é uma proposta utópica minha, mas ainda acho muito viável. Os melhores alunos que estiverem lá, suprimidos naquele ambiente escolar que não é dos melhores, possam estudar em uma escola digna, patrocinados pelo Governo. Fazer com que bons alunos tenham essa oportunidade. E os demais, que estão viciados nesse sistema educacional falho, que possam ser recuperados, porque nós estamos priorizando o ensino superior e esquecendo do ensino fundamental. Estamos colocando pessoas no ensino superior que não sabem escrever, que não sabem fazer uma conjugação de verbo, não sabe tabuada, acentuação. Estamos criando cidadãos sem a mínima condição de disputar vagas no mercado de trabalho. Porque esses cidadãos não estão qualificados para isso. E isso é culpa do péssimo ensino público que nós oferecemos às nossas crianças e adolescentes”.


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