11/01/2005 17h09 – Atualizado em 11/01/2005 17h09
MSN Brasil
A Interpol e 20 polícias nacionais criaram na quinta-feira o maior sistema de identificação de vítimas de desastres da história. O objetivo é organizar os dados forenses relativos aos corpos de mais de 5.000 vítimas do tsunami de dezembro na Tailândia.
“Isso aqui é inédito no mundo”, disse Jeff Emery, legista australiano que chefia cerca de 60 investigadores, médicos e patologistas de 20 países. “Estamos usando a melhor e mais recente tecnologia mundial.”
O centro funciona nos escritórios de uma empresa de telecomunicações na ilha de Phuket, muito devastada pelo tsunami. Ali ficará um gigantesco arquivo que permitirá cruzar informações sobre arcadas dentárias, impressões digitais e DNA dos cadáveres não-identificados da Tailândia com informações similares enviadas por países onde há pessoas listadas como desaparecidas.
Esse lento processo, que exige cooperação de policiais, dentistas e parentes das vítimas na Tailândia e em dezenas de outros países, deve levar vários meses, mas já está começando a dar resultados.
“É difícil estimar um tempo, mas não seria razoável supor que isso vá além de seis meses”, disse Emery. “Entretanto, estamos muito esperançosos de algum sucesso rápido. Já temos alguns relatos positivos.”
O ministério tailandês do Interior disse que os parentes de vítimas locais devem recolher amostras de DNA em hospitais regionais, enquanto os estrangeiros devem fazer o mesmo em suas embaixadas. O processo deve levar cerca de duas semanas.
Ao todo, 5.309 pessoas foram dadas como mortas na Tailândia em conseqüência do maremoto de 26 de dezembro. Outras 3.370 são consideradas desaparecidas, e o governo presume que elas estejam entre os 3.700 corpos ainda não identificados.
Quase metade dos corpos já identificados é de turistas estrangeiros, em geral do norte da Europa.
O policial australiano Carl Kent, que participa da identificação, disse que o centro dará a mesma prioridade para vítimas tailandesas e estrangeiras — há críticas de que os legistas estrangeiros só estão interessados em identificar os turistas. “Todos os exames serão conduzidos sem discriminação de etnia e raça”, disse ele a jornalistas.
A Interpol tem três formas de identificar um corpo — arcada dentária, impressão digital e DNA. A polícia internacional espera que o exame das arcadas, a forma mais simples, baste na maioria dos casos. Nas primeiras horas de seu funcionamento, o centro já recebeu cerca de mil registros dentários do exterior.
Para as impressões digitais, o centro usa prontuários policiais, carteiras de identidade ou, em alguns casos, impressões digitais recolhidas na casa das vítimas.
“O tipo de coisa que procuramos é um copo d’água que alguém tomou na noite antes de sair de férias e que pode ter sido deixado do lado da cama”, disse o datiloscopista Mark Branchflower.
Esgotadas as possibilidades de identificação por meio das arcadas dentárias e das digitais, resta o exame de DNA, comparando os corpos com seus supostos parentes.
O ministro tailandês do Interior, Bhokin Bhalakula, disse que o número de cadáveres não-identificados é próximo do número de desaparecidos, o que indica que a maior parte dos corpos foi recolhida. “O que precisamos agora é conseguir que as famílias enviem amostras de DNA para compará-las aos dos corpos”, disse Bhokin.