02/02/2003 08h18 – Atualizado em 02/02/2003 08h18
Estar frente a frente com Werner Schünemann é ter a seguinte certeza: seu charme não vem só da farda de Bento Gonçalves. Na Praia da Barra da Tijuca, onde ele está hospedado, vestindo roupas comuns e num dia sem gravações, ele conta que tem plena consciência de que seu personagem em “A casa das sete mulheres” mudou sua vida. Aos 43 anos e com o rótulo de galã do momento, ele sabe que não anda mais impune nas ruas. No saguão do aeroporto, percebe todos os olhares voltados para ele. Uma fã já pôs até um bilhete no bolso de sua camisa, com telefone e endereço. “Por mais que eu estivesse preparado, aquilo foi, e ainda é, um soco na boca do estômago”, confessa. Apesar desta reviravolta, Werner encara a fama com a serenidade que lhe é peculiar:
— É só um momento na minissérie, sou uma novidade no mercado de TV. Daqui a pouco este frenesi passa. Quando o cabelo cair e a barriga crescer, passa. E fica só o ator.
A frase, Werner diz que ouviu do galã hollywoodiano Antonio Banderas, e concorda com ela. Do sucesso, ele só quer o reconhecimento do seu trabalho. Ele vibra quando crianças de 7 e 8 anos, as idades de seus dois filhos, abraçam suas pernas na rua reconhecendo nele Bento Gonçalves.
— A figura paterna do Bento é forte. Descobri que o Brasil inteiro está torcendo por ele — diz o ator, que tem 20 anos de carreira em cinema e teatro. — Ser chamado de galã é lisonjeiro, significa que meu trabalho está funcionando. Uma das características do Bento com Caetana ( Eliane Giardini ) é a sedução. Mas ser galã acontece, não há mérito nisso. É um acaso. É mais fácil ter boa aparência? Sem dúvida. Mas não é o que importa.
Além de modesto, Werner é romântico. Que o diga Tânia, sua mulher há 11 anos. Toda semana, pasmem, ela recebe flores. E nada de mandar entregar em casa, não! Este homem existe?
— Ela também me dá flores e eu adoro. Minha mulher não sente ciúme, eu já era ator quando ela me conheceu. A questão da falta de privacidade estamos conversando, vamos ter que descobrir como lidar com isso. E tenho certeza de que o que está sendo bagunçado vai dar para arrumar direitinho. A Eliane Giardini disse que, depois da fama, nunca mais estaremos sozinhos. E é verdade — acredita. — Já senti que tenho que escolher os programas. Para sair com a família é mais complicado, as crianças sentem ciúme, querem ficar comigo e aí chega gente. Mas encaro isso como manifestações de carinho.
Ator premiado de cinema, Werner agarra agora sua grande chance na TV e vê seu desempenho crescer a cada dia.
— Estou aprendendo a fazer coisas como ator que eu não tinha feito ainda, e devo isso ao Jayme Monjardim ( diretor da minissérie ). E essa coisa de ser galã só funciona porque o resto está funcionando. Estou sentindo o mesmo ímpeto e a mesma disponibilidade para a vida de quando eu fiz vestibular. Sinto o mesmo alvoroço juvenil, estou muito viçoso e cheio de vida neste momento — afirma o ator, que já tinha sido sondado duas vezes para encarar um papel na telinha. — Eu sempre estava comprometido com cinema. Desta vez eu também estaria, mas consegui adiar para fazer a minissérie.
Ele tem um lema: o primeiro curta-metragem de um diretor novato ele faz de graça:
— Sei que é difícil começar. Cansei de filmar na cozinha da mãe do cara, com o paletó do pai dele emprestado.
Interpretar um personagem histórico, segundo Werner, é uma faca de dois gumes. Se por um lado é bom ter onde pesquisar, por outro o ator não vê espaço para acrescentar coisas suas ao trabalho:
— Eu li cartas de Bento e biografias dele. Mas foi difícil decolar com o personagem. Ele liderou dez anos de luta armada. Que outro cara fez isso na América? Nenhum! Isso começou a pesar. Até que eu trouxe o Bento para mim. Por isso ele tem essa cara de pai. Eu sou um paizão. Tenho com meus filhos uma relação quase de avô. Contato, afeto, parceria incondicional de um jeito ostensivo. Sou muito coruja, beijo os dois o tempo todo.
Rato de sebo (“Nunca compro um livro só, sempre encho a mala do carro”, diz), adora também velejar. E, para ele, 2003 é o ano da decisão:
— Farei três filmes este ano. E estou dependendo das propostas para ver onde eu me estabeleço com a família.
Se depender do Rio, o Cristo está de braços abertos…
Simone Mousse
O Globo