10/12/2002 09h48 – Atualizado em 10/12/2002 09h48
O presidente Fernando Henrique Cardoso despediu-se, na noite de ontem, da comunidade internacional ao discursar na entrega do prêmio Mahbub ul Haq , oferecido pelas Nações Unidas por sua contribuição ao desenvolvimento humano no Brasil. Em sua última viagem internacional como presidente, Fernando Henrique disse que deixa o governo com a consciência tranqüila, por ter feito todos os esforços possíveis para melhorar a qualidade de vida da população mais carente do país.
Ao discursar para uma platéia formada por autoridades brasileiras e representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente disse estar confiante com a atuação de Lula no comando do País. Na opinião de Fernando Henrique, sob a liderança de Lula o Brasil vai continuar avançando e terá novos ganhos sociais. “Tenho confiança que assim será”, enfatizou.
O presidente reiterou que, mesmo com os avanços registrados nos últimos anos, o futuro governo terá que se empenhar para implementar medidas que garantam melhores condições de vida à população. Segundo ele, “o copo está cheio pela metade”, e a outra metade ainda está vazia. Para o presidente, as tendências pessimistas às vezes prevalecem no Brasil, mas o apelo da justiça social deve continuar a ser ouvido cada vez mais forte, sem perder a civilidade.
Entre as prioridades do novo governo, o presidente destacou a aprovação de reformas essenciais à manutenção dos ganhos já registrados no Brasil, especialmente a tributária, a política e a da previdência social. “Precisamos aperfeiçoar nosso sistema tributário e eliminar problemas que inibem a nossa capacidade de competir na economia internacional. Precisamos encontrar, de uma vez por todas, uma solução para a questão da seguridade social e precisamos reformar nossa estrutura política”, afirmou.
Na avaliação de Fernando Henrique, além dos ganhos na área social, os brasileiros também devem comemorar a consolidação da democracia em todo o País. “Quando deixar o governo em primeiro de janeiro, sentirei a satisfação de olhar para trás e ver que nossos esforços deram fruto. Como futuro ex-presidente encontrarei maior satisfação em refletir sobre o verdadeiro significado de todas as estatísticas em termos humanos”, disse.
O presidente detalhou uma série de melhorias nos indicadores sociais que o país obteve nos últimos anos que, na sua avaliação, contribuíram diretamente para a sua escolha como vencedor do prêmio entregue pelas Nações Unidas. Fernando Henrique destacou o aumento da escolaridade entre as crianças mais pobres, a redução do trabalho infantil, o crescimento da expectativa de vida, o assentamento de milhares de famílias no campo, a queda na mortalidade infantil e a implantação da rede de proteção social em todo o país. “Um dos desafios em política social é fazer bom uso de recursos escassos. O foco deve ser colocado nos mais pobres, nos mais necessitados. E isso não é assim tão fácil quanto poderia parecer. Há interesses conflitantes, pressões políticas e mesmo falta de informação”, enfatizou.
Ele admitiu que as turbulências internacionais e as regras duras do mercado financeiro – como o protecionismo dos países mais ricos – dificultaram o crescimento brasileiro, mas enfatizou que o controle da inflação foi essencial para que o país conseguisse melhorar seus indicadores sociais. “A inflação é um imposto sem representação. É uma forma não democrática de taxação, dirigida contra os pobres, contra os desprotegidos pela indexação ou pelos diversos arranjos financeiros aos quais tinham acesso a classe média e os mais ricos”, afirmou.
No final do discurso, o presidente dedicou a conquista do prêmio a todos os que o ajudaram a alcançar as conquistas sociais, às crianças e aos brasileiros mais pobres . “Certamente meu governo deixará tarefa ainda em aberto. Mas nada me deixa mais satisfeito do que ter colocado o Brasil no rumo certo. Estabilização econômica, reformas estruturais, acesso aos mercados mundiais, luta contra a pobreza – todas essas são questões que vieram para ficar”, finalizou.
O prêmio Mahbub ul Haq foi criado este ano, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o presidente Fernando Henrique Cardoso foi o primeiro a receber a homenagem. O prêmio será entregue, a cada dois anos. ao líder mundial ou chefe de Estado que mais tenha contribuído para a promoção do desenvolvimento em seu país. Segundo os jurados selecionados para a escolha do vencedor do prêmio, o presidente foi selecionado por ter conseguido, de fato, melhorar a grande maioria dos indicadores sociais brasileiros em seus dois mandatos. (Gabriela Guerreiro)
Fonte: Agência Brasil

