09/12/2002 10h55 – Atualizado em 09/12/2002 10h55
WASHINGTON – Pode ainda parecer ficção científica, mas no futuro a tecnologia da clonagem poderá ser capaz de fornecer às pessoas sistemas imunológicos “renovados”, o que abriria caminho para novas formas de tratamento de doenças tão distintas quanto a pneumonia e a esclerose múltipla, segundo pesquisadores.
Em experiências com gado bovino, as células-tronco feitas a partir desses animais viajam através de seu sangue e substituem suas células originais envelhecidas, de acordo com pesquisadores de uma empresa de biotecnologia de Massachusetts.
A pesquisa não foi avaliada por outros cientistas, o que é um procedimento padrão em ciência médica, mas a equipe da Advanced Cell Technology (ACT) anunciou experiências regulares com clonagem, incluindo a primeira tentativa reportada de clonar um embrião humano.
A empresa, que possui rebanhos de gado clonado, está também testando o uso da chamada clonagem terapêutica, que usa a técnica da clonagem para experiências médicas.
A idéia é ajudar um paciente a produzir novas células e tecidos usando as suas próprias células.
O processo, por fim, levaria a tratamentos em que o próprio organismo produziria o órgão necessário, no caso, por exemplo, de um transplante, e também em outros procedimentos.
Mas a técnica é polêmica porque envolve a necessidade de gerar um embrião e depois desmembrá-lo.
“Usamos o procedimento da clonagem terapêutica para dar a vacas velhas novos sistemas imunológicos”, explicou Robert Lanza, diretor médico da ACT em entrevista por e-mail à agência Reuters.
Clones de gado
Os cientistas procuraram o gado mais velho que tinham e então realizaram a clonagem, segundo Lanza, que apresentou sua pesquisa na Terceira Conferência Anual sobre Medicina Regenerativa, realizada na semana passada, em Washington.
Os clones não chegaram a se transformar em bezerros – seu crescimento foi interrompido quando os embriões tinham poucos dias de existência e ainda estavam no laboratório.
Eles foram então usados como fonte de células-tronco embrionárias, que têm o potencial de se tornar qualquer tipo de célula do corpo.
“Nós demos a um animal de 800 quilos um tiquinho de células”, explicou Lanza.
Esperava-se que essas células-tronco embrionárias respondessem aos sinais do próprio corpo e começassem a produzir células do sistema imunológico, como era necessário.
Experiências anteriores sugerem que as células podem ser direcionadas para migrar para áreas necessitadas, produzindo uma variedade de diferentes tipos de células.
“Se essa abordagem funcionar em seres humanos, poderá ser usada não só para tratar o câncer e imunodeficiências, mas para document.write Chr(39)reiniciardocument.write Chr(39) o sistema imunológico em pacientes com várias doenças auto-imunes”, afirmou o pesquisador.
“Existem mais de 40 doenças auto-imunes que atingem o ser humano, como a esclerose múltipla, a artrite reumatóide, o diabetes juvenil, o lúpus, a doença inflamatória inespecífica do intestino e dezenas de outras”.
Pesquisa bloqueada adiante?
O cientista afirmou, ainda, que 170 dias depois de injetadas, as células haviam sobrevivido e estavam avançando no sangue do gado que as recebeu.
No laboratório, as células cresceram abundantemente, mais do que as células jovens dos fetos.
Células imunológicas da medula óssea já são amplamente usadas para tratar o câncer e outras doenças auto-imunes. Mas quando um paciente recebe aquelas células-tronco “adultas”, mesmo de um parente, é obrigado a tomar drogas imunossupressivas para evitar que ataquem o organismo, num processo conhecido como doença do enxerto-contra hospedeiro humana.
A clonagem terapêutica, também conhecida como transferência nuclear de célula somática, oferece uma forma de contornar isso.
“O procedimento da transferência nuclear gera células que são mais jovens, e potencialmente de valor terapêutico muito maior”, afirmou Lanza.
“A capacidade de regenerar um sistema imunológico envelhecido ou com defeito sem a necessidade de drogas, tecido adequado ou o risco da doença do enxerto-contra hospedeiro humana, teria importantes implicações para a medicina. Por exemplo, uma injeção de novas células imunológicas poderia evitar que pacientes idosos morressem de pneumonia”, disse.
Lanza, juntamente com outros cientistas do ramo, teme que o Congresso dos Estados Unidos em breve proíba suas pesquisas.
Existem dois projetos de lei tramitando no Congresso. Um deles proibiria toda e qualquer pesquisa sobre clonagem envolvendo humanos, enquanto o segundo daria aval a trabalhos como o de Lanza.
Mas o governo federal, com o apoio do presidente George W. Bush, está para proibir o apoio financeiro federal a esse tipo de trabalho – o que, segundo os cientistas, vai desacelerar as pesquisas.
“Estamos todos um pouco frustrados com a falta de progressos, já deveríamos estar perto do início dos testes clínicos agora”, lamentou Lanza.
Fonte: CNN