03/12/2002 09h07 – Atualizado em 03/12/2002 09h07
BUENOS AIRES (CNN) – O presidente eleito do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse nesta segunda-feira, em sua visita à Argentina, que, nos últimos anos, opções econômicas e políticas equivocadas e especulativas, que não estavam de acordo com o interesse nacional, conduziram os dois países a sucessivas crises, levando à desorganização de suas economias, nas últimas duas décadas, pela inflação e a recessão.
Segundo Lula, que falou na residência presidencial de Olivos, depois de um encontro com o presidente argentino Eduardo Duhalde, o Brasil e a Argentina ficaram à mercê de especuladores, que muitas vezes “nem sabem direito onde os nossos países estão situados”.
“Para tentar superar as crises econômicas, acabamos por ficar dependentes dos fluxos financeiros internacionais e, com isso, diminuiu a capacidade de tomarmos decisões soberanas”, afirmou Lula.
O presidente eleito reafirmou seu apoio à Argentina e ao Mercosul, ressaltando que a reconstrução do bloco regional passará pelo avanço nos mecanismos de solução de controvérsias.
“É fundamental que os acordos a que já chegamos e os que venhamos a estabelecer possam ser incorporados às nossas legislações e instituições nacionais”, afirmou o presidente eleito ao seu anfitrião.
Lula disse ainda alimentar o sonho de que o Mercosul possa ter seu próprio parlamento, eleito por voto popular, o que a seu ver comprometerá ainda mais a sociedade de cada país com o processo de integração.
O presidente eleito reconheceu a existência de dificuldades objetivas para o avanço dessa integração. No entanto, ressaltou a possibilidade de vencê-las “com vontade política, seriedade, e, sobretudo, muita generosidade”.
Para Lula, na eleição de 27 de outubro os brasileiros manifestaram o desejo de realizar profundas mudanças econômicas, sociais e políticas.
“O Brasil não pode mais se conformar em ser uma das dez maiores economias do mundo e, ao mesmo tempo, uma nação onde dezenas de milhões de seres humanos passam fome e vivem à margem da produção, do consumo e da cidadania plena”, disse.
Lula ressaltou que Argentina e Brasil têm história e um enorme potencial e exemplificou que os dois países dispõem de importantes parques industriais, rica e variada agricultura, além de riquezas naturais e diversificadas fontes de energia.
A crise do Mercosul, segundo Lula, nada mais é do que a crise de cada um dos seus países membros.
“A crise reflete a dificuldades de encontrar saídas nacionais que viabilizem uma grande alternativa regional”, disse. “O Brasil está disposto a enfrentar o desafio de achar um caminho comum, desejo que é compartilhado por toda a região”.
Para isso, Lula considera urgente aprofundar a construção do Mercosul com propostas concretas, retomando os ideais dos anos de 1980, que impeliram a buscar a aproximação de países da América do Sul, “superando rivalidadades artificialmente criadas no passado”.
Lula destacou que, para o Brasil, o Mercosul deve se transformar não só em uma efetiva união aduaneira, mas também no espaço de convergência de políticas industriais e agrícolas ativas.
“Buscamos uma verdadeira integração, a exemplo do que ocorreu com a União Européia, respeitadas nossas particularidades”, afirmou.
O presidente eleito acredita que a política externa do Mercosul é essencial para as negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), bem como para o diálogo com os Estados Unidos e a União Européia.
Lula disse que essas negociações precisam ser marcadas pela defesa dos interesses nacionais e regionais e pela preservação dos sistemas produtivos e dos empregos.
“Esse ambicioso projeto do Mercosul, que só poderá ter sucesso se for resultado do consenso de todos os países membros, deverá avançar com segurança no terreno da coordenação macroeconômica da região”, ressaltou.
O presidente eleito previu que os países do Mercosul poderão chegar um dia à moeda comum que reforce as defesas contra as turbulências internacionais.
Chile e Bolívia
Lula defendeu também a ampliação do Mercosul, com a entrada definitiva do Chile e da Bolívia, afirmando que o ingresso desses dois países se faz necessário.
“Para isso, torna-se fundamental a integração do Chile e da Bolívia, que hoje esbarra em alguns problemas”, disse.
Para Lula, o próximo acordo a ser celebrado entre o Mercosul e a Comunidade Andina poderá ser um passo importante para a integração do Chile, da Bolívia e demais países da América do Sul.
“Face às dificuldades que a atual ordem econômica e política mundial cria para os países em desenvolvimento, o Mercosul deverá aprofundar uma política externa comum”, afirmou.
Fonte: Agência Brasil