28/11/2002 09h34 – Atualizado em 28/11/2002 09h34
A Polícia Civil de São Paulo afirmou hoje ter desmantelado o “restante do PCC que vinha atuando em São Paulo”. No entanto, a ofensiva não coloca um fim à facção. O diretor do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado), Godofredo Bittencourt, comparou o PCC a um câncer.
“O PCC é como um câncer. A gente vai eliminando, mas vão aparecendo outras células. Vamos eliminar até isolar em um órgão”, disse.
Bittencourt admite que o PCC não acabou, mas afirma que está desmantelado. “O PCC é hoje uma organização desmantelada completamente”.
Segundo ele, apesar das ofensivas contra a facção,”afiliados” do PCC tendem a se tornar novos líderes. “[O PCC] é uma sigla forte”, afirmou.
Em entrevista coletiva, o Deic e o Ministério Público anunciaram um organograma com 22 nomes -entre eles o sequestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que aparece como “financiador” da facção.
Além dos acusados de integrar a facção e que já cumprem pena no presídio de Presidente Bernardes (589 km de SP), outros 16 presos serão transferidos para a unidade, que conta com bloqueador de celular. Serão submetidos ao RDD (regime disciplinar diferenciado). As celas são individuais e tomam banho de sol isolados.
Considerado ex-líder da facção, José Márcio Felício, o Geleião, está jurado de morte por outros integrantes por ter delatado operações e indicado novos líderes da quadrilha.
Ele deixa de ser um dos líderes da quadrilha, que passou a ser encabeçada por Marcos William Herbas Camacho, o Marcola, Júlio Cesar Guedes Moraes, o Julinho Carambola, e Sandro Henrique Silva Santos, o Gulu.
A partir do depoimento de Geleião, a polícia descobriu a figura do “piloto” na facção. O “piloto” ocupa o segundo escalão na hierarquia do PCC e é responsável pelas decisões da população carcerária de cada unidade.
Em maio, a polícia e o Ministério Público haviam realizado uma megaoperação contra o PCC. Na ocasião, foi anunciada a tranferência para Presidente Bernardes de 25 integrantes da facção, considerados mais perigosos. Centrais telefônicas clandestinas foram localizadas e suspeitos foram detidos.
Comando Vermelho
Segundo o Deic, Geleião se ofereceu para conversar com o delegado Ruy Ferraz Fontes, da Delegacia de Roubo a Bancos. Ele delatou operações e indicou novos líderes da quadrilha. A polícia afirma que nada foi oferecido em troca das informações.
De acordo com Fontes, Geleião disse que a relação com a facção CV (Comando Vermelho), que atua no Rio, “foi plantada mas não frutificou”.
“Não há nada de concreto que diga que o PCC está com o Comando Vermelho, segundo palavras do Geleião”, disse o delegado.
Time de futebol
Levado ao Deic na semana passada, Geleião contou toda a história sobre a fundação do PCC, além das ações praticadas pela quadrilha.
Ele disse que a facção surgiu em 1993 em Taubaté e dava nome a um time de futebol da prisão.
O Primeiro Comando da Capital jogava contra o time do interior. O PCC seguiu como time de futebol até um desentendimento entre os integrantes. Ocorreram duas mortes e o sangue das vítimas foi passado no chão da penitenciária.
Geleião afirmou, segundo o Deic, que não imaginava que o PCC fosse tomar a dimensão que tem atualmente.
“O PCC criou um vulto que Gelião disse que não esperava”, afirmou Ferraz.
Fonte: Folha Online