27.9 C
Três Lagoas
quinta-feira, 28 de março de 2024

Patrícia Pillar: document.write Chr(39)Meu papel quem dá sou eu

15/09/2002 07h19 – Atualizado em 15/09/2002 07h19

Joaquim Ferreira dos Santos

Repórter do JB

A sala do apartamento de Patrícia Pillar, no Jardim Botânico, não tem quadros na parede – apenas uma enorme bandeira nacional que seu marido, Ciro Gomes, ganhou no Nordeste. Atriz, a Luana camponesa da novela O Rei do Gado, Patrícia tirou a arte também das paredes da sua vida e entrou por completo na campanha política.

  • Tenho orgulho de estar ao lado de uma pessoa limpa, honesta, que tem um trabalho realizado e se propõe a fazer um sacrifício de assumir o Brasil do jeito que está – diz.

Patrícia, 38 anos, operou um câncer no seio, no início do ano, depois de um dramático depoimento público sobre a doença e a necessidade de todas as mulheres realizarem exames preventivos. O cabelo, desbastado pela quimioterapia, está voltando a crescer. Aos poucos, Patrícia recupera o visual de uma das mais belas mulheres de sua geração. Por enquanto, a ginástica ainda está proibida, pois o coração dispara no meio de algum exercício aeróbico. De resto, vida normal, a ponto de fumar quatro cigarros por dia. Os médicos dão o câncer como dominado.

Na intimidade, Patrícia chama Ciro de document.write Chr(39)document.write Chr(39)Carinhadocument.write Chr(39)document.write Chr(39) e, apaixonada, é capaz de alinhar uma dezena de adjetivos seguidos para exaltar sua dignidade pública e elegância privada. Moram juntos. Patrícia assegura que a imagem de nordestino machista é obra do marketing da oposição.

  • Ele é delicado, romântico. O primeiro vestido que me deu caiu como uma luva, e isso é uma coisa difícil. Sinto o coração, a emoção dele.

O casal, sempre de mãos dadas e trocando carinhos, pode ser visto com freqüência na pizzaria Capricciosa, também no Jardim Botânico. Patrícia, que deu esta entrevista ao Jornal do Brasil, usando uma camiseta estampada com o desenho do Pequeno Príncipe, está lendo um livro com uma coleção dos 100 maiores discursos de todos os tempos. Selecionou um trecho de Péricles e lê, alto: document.write Chr(39)document.write Chr(39)Só o amor da glória não envelhece. Na idade avançada o principal não é o ganho, como alguns dizem. Mas ser honradodocument.write Chr(39)document.write Chr(39). Depois completa: document.write Chr(39)document.write Chr(39)Eu adoro isso.document.write Chr(39)document.write Chr(39)

  • Qual é o seu papel na campanha de Ciro Gomes?

  • Meu papel quem dá sou eu. Bolo as minhas coisas, dou palpite. Ele nunca me pediu nada, para responder de um jeito ou de outro. O livro dele, por exemplo, foi idéia minha.

  • O Ciro disse que seu papel era dormir com ele.

  • Coitado, sabe o que aconteceu ali? Tinha sido uma coletiva ótima, altíssimo nível, ele falou super bem de mim, fiquei comovida. Aí ele brincou com esse negócio. Porque a gente tem dormido muito é em avião, um no ombro do outro. Foi ingênuo. Fez uma brincadeira de marido e mulher, e ele pode brincar quantas vezes quiser. Não vamos ser hipócritas.

  • Qual a importância de um candidato à presidente mostrar sua mulher?

  • Eu acho que a pessoa é na rua o que é em casa. Os meus pais sempre me diziam: document.write Chr(39)document.write Chr(39)Não faça na rua o que você não faz em casadocument.write Chr(39)document.write Chr(39). Se o eleitor sabe como o candidato é como pai, como filho, como marido, como amigo, isso passa uma informação importante.

  • E como é o Ciro?

  • Um espetáculo de pessoa.

  • Não é pavio curto?

  • Ele é indignado. É humano. É explosivo. As pessoas é que estão virando robôs. Só agem de acordo com o que o marqueteiro diz que é para falar. Eu vou admirar gente assim? Eu admiro gente com idéia própria e não aquele que obedece ordens do marqueteiro mais qualificado: document.write Chr(39)document.write Chr(39)Ô, diz lá que ele é pavio curto, porque as pessoas tem medo. Por causa do Collordocument.write Chr(39)document.write Chr(39).

  • Como você se sente com isso?

  • Fico indignada também. Ver o seu marido, uma pessoa que você conhece, sendo vítima de uma propaganda covarde dessas. Perseguido. Sempre tem alguém provocando.

  • Por exemplo?

  • No outro dia o Ciro apresentou um projeto para erradicar a fome no Brasil através do feijão. Era um projeto viável com apenas 1% do que se paga da dívida externa. Uma coisa linda. Quando ele terminou de expor, sabe qual foi a primeira coisa que perguntaram? document.write Chr(39)document.write Chr(39)Quer dizer que você disse que tem corrupção no Brasil?document.write Chr(39)document.write Chr(39) Ciro disse que o assunto ali era outro, era 30 milhões de pessoas passando fome no país, pediu respeito. Sabe que aconteceu? Eu vi. Dez microfones saindo, um a um. Loucura! Será que a gente se tornou fria, cínica, diante dessas coisas?!

  • Por que acontece isso?

  • O Ciro gosta de se expor e as pessoas estão procurando se defender, se colocar numa redoma e falar o que as pessoas querem ouvir. Mudam de idéia de acordo com a platéia. Ele é generoso, se expõe e às vezes é mal interpretado. Quando ele disse document.write Chr(39)document.write Chr(39)quem paga ágio é otário e quem cobra é ladrãodocument.write Chr(39)document.write Chr(39), as pessoas entenderam que eram otárias de ir lá comprar um carro com 30% de ágio fazendo mal para o seu país. Lá no Japão as pessoas compram arroz mais caro, mas compram porque não querem deixar de produzir arroz no país delas. Acho que a gente perdeu esse sentido de nacionalismo, de defesa do Brasil. O Ciro, não. Olhe o jeito que deixaram as nossas Forças Armadas?! Temos que estar preparados para defender o nosso país.

  • Defender de quem?

  • De quem?! Nós temos a água, petróleo, uma floresta amazônica, um pantanal, enfim, o mundo está olhando pra gente. Tínhamos um país em desenvolvimento, talvez o que tenha mais condições de virar um país forte. E você é forte também do quanto você pode se defender, se não você não colocaria portão em casa, cachorro para defender sua casa. Vamos tirar todos os cachorros? Vamos, mas combina com o inimigo. O Brasil tem uma história pacífica e tal, mas o mundo está hostil.

  • Você acha o Serra preparado para essas questões?

  • O Serra é um mal para o Brasil de uma maneira que a gente não tem noção. Ele grampeia telefone. Eu não quero um homem desses para o Brasil.

  • E o Lula?

  • Eu acho que ele tem uma visão estreita. Sempre votei no Lula como segunda opção, no segundo turno. Acho o PT fechado. Obtuso às vezes. O meu sonho é ter dois candidatos de oposição no segundo turno e se isso não acontecer é por culpa do PT, porque o Lula faz o jogo do que é melhor para ele, não participou do pacto que o Ciro propôs dois anos atrás. Fizeram corpo mole com medo do Ciro.

  • Como se sente coligada ao ACM?

  • O Ciro precisa governar. Não está aí para ser um presidente que não consiga realizar as coisas e uniu o PTB, o PPS e o PDT. O que tem a ver o prato com o violino? Nada, né? Eu acho que depende. Se você está participando de uma orquestra e ela tem partitura, tem maestro, o prato e o violino podem combinar.

  • Caso o Ciro não se eleja, você volta para a Globo?

  • Não vejo nenhum problema. Meu contrato termina no fim do ano que vem. Não estou preocupada. Meu assunto agora é ajudar o Ciro.

  • Ele é bom marido?

  • É um companheirão. Se eu não tivesse o Ciro na minha vida não sei, não. Deixa eu só te dizer uma coisa. Tive a infelicidade de ter um câncer. O Ciro passou um mês comigo. Abandonou os compromissos de campanha, poderia ter inviabilizado a candidatura ali, criado inimizades. Mas acompanhou o meu processo. Fez com que eu me sentisse bonita, forte. Eu poderia ter ficado d
    eprimida, ter tido outro destino. É com ele que estou dividindo minha vida. Vou deixar chamarem esse homem de mentiroso? Não vou.

  • Que lição se tira da dor?

  • Você vê a morte muito de perto. E a morte é fundamental para a vida. Ter me visto como mortal, levar um baque desses, a finitude faz com que a vida ganhe um brilho, uma cor, um sentido maior. Tinha a sensação de que carregava uma mala muito pesada de quinquilharias sem necessidade. Medos, angústias, timidez, mil besteiras. Eu joguei essa mala fora. Não vou dizer document.write Chr(39)document.write Chr(39)ah, que bom, fiquei doentedocument.write Chr(39)document.write Chr(39), porque sofri muito. Mas aproveitei.

  • Como ficou a sua vaidade?

  • Eu fiz plástica na hora. É como se nada tivesse acontecido. Uma mulher sabe que o seio é o símbolo da feminilidade, né? E se fica uma marca muito forte, é uma coisa que te faz sentir mais fragilizada. Esse problema eu não tenho. Não tenho prótese, não tem sinal, ninguém repara.

  • E o cabelo?

  • Ele estava duro feito uma pedra quando pensei em botar o cocar para ir no desfile da Sapucaí. O Ciro disse document.write Chr(39)document.write Chr(39)tá linda, é carnaval, vaidocument.write Chr(39)document.write Chr(39). Ele é sempre assim, me botando pra frente, uma coisa muito gostosa. Quando eu voltei pra casa e tirei o cocar, já tinha uma faixa pelada. No banho, olhei para baixo e era só cabelo no chão.

  • Você chorava?

  • O pior é que você não fica careca de uma vez, fica com cara de doente. Foi um choque. Mas eu tenho um cara que quando você menos espera, ele diz: document.write Chr(39)document.write Chr(39)Está lindadocument.write Chr(39)document.write Chr(39). Eu acreditei que estava bonita careca. Sofri no dia de cortar o cabelo e aí o olho encheu de água. Mais por ser uma lembrança de que eu estava doente do que realmente por aquilo estar acontecendo comigo. Porque o ator é um bicho muito louco, pelo menos comigo. Por eu tantas vezes ter feito pacientes na ficção, às vezes estava no hospital ou aqui em casa, e parecia que podia ser um personagem. Tem momentos que a gente não realiza.

A quimioterapia é a fase de maior sofrimento?

  • Foram quatro meses difíceis. Oito sessões. Duas por mês. No final, quando o efeito é acumulativo, eu já não estava mais me agüentando. Mas emocionalmente o pior foi o dia em que eu fiz o exame, a ultra-som, e deu o câncer. Um sufoco. São vários exames naquele aparelho de tomografia. Dentro dessas máquinas me passava tanta coisa pela cabeça. Eu pensava: Gente, esse aparelho tá vendo se eu tenho câncer em outro lugar! Que coisa linda a medicina! Que coisa linda os cientistas? Gente, e quem não tem lá no interior, que vai no posto e não tem nem médico, como vê isso?! Foi aí que eu resolvi falar sobre o assunto. Doeu. Sou discreta e tinha muito fotógrafo me seguindo. Fiquei magoada.

  • Você está curada?

  • Sete entre dez mulheres que operam um câncer do tamanho do meu, do tipo do meu, podem se considerar curadas. Mas por causa desses 30% é que a gente faz tratamento. A quimioterapia e a radioterapia reduzem um pedaço. O remédio que tomo, para não produzir hormônio, reduz outro pedaço. Mas na medicina não existe 100%. Então, mesmo com tudo isso, mesmo me sentindo bem, existe uma pequena chance de o câncer voltar.

  • Fumar não faz mal?

  • Estou fumando só três, quatro cigarros por dia. Não faz mal. Estou bem. Tenho que ir a médico só de seis em seis meses. Tenho participado da campanha com animação e olha que é uma vida que não é mole não.

Jornal do Brasil

[15/09/2002 07:35]

Leia também

Últimas

error: Este Conteúdo é protegido! O Perfil News reserva-se ao direito de proteger o seu conteúdo contra cópia e plágio.