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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Surda que aprendeu a falar, noiva canta em libras em casamento para todo mundo entender

17/09/2018 11h13

Aos 22 anos, ela disse sim entre gestos para o noivo, também surdo, e acabou emocionando convidados

Redação

Alexa nasceu surda, mas aprendeu a falar e a viver entre os dois mundos. Ouve com os ouvidos, mas também com os olhos. Aos 22 anos, ela disse sim entre gestos para o noivo, também deficiente auditivo, Maikol, e acabou por emocionar todos os convidados. No lugar da valsa, a noiva cantou em libras para que o noivo entendesse o que a música escolhida para o momento queria dizer: o quanto ela pediu aos céus por um amor daqueles. assista o vídeo

O casal é adventista e se conheceu em um encontro para surdos em Brasília, dois anos atrás. Ele não escuta e nem fala nada. Ela, por insistência da mãe, aprendeu a formar frases e tem 40% de audição. Da parte dele, o interesse foi imediato, já Alexa esperou eles se tornarem amigos, para então começar a namorar. Maikol é de Sapezal, no Mato Grosso, para onde Alexa está se mudando.

A jovem consegue escolher palavras para dizer como foi o começo de sua história de amor. “O congresso é para todo mundo ir, se conhecer e contar como teve a experiência de surdo”, explica Alexa Rodrigues da Silva. As respostas vêm quando ela, de frente para quem pergunta, ouve, mas também faz a leitura labial. É preciso apenas falar mais devagar e um pouco mais alto para que ela entenda e sorria. “A gente começou a conhecer mais profundamente no Ano Novo de 2016, depois de um tempo ele queria vir aqui em Campo Grande, falar que queria evangelizar surdos, mas eu pensei: ‘é por causa de mim’”, relata sobre a primeira vinda de Maikol à cidade. Durante o tempo em que o namoro foi à distância, as conversas aconteciam pela webcam, em libras.

Aprender a falar foi o primeiro grande desafio da menina que recebeu o diagnóstico de surdez só depois dos 2 anos de idade. “Eu ouço assim, com aparelho neste ouvido, aqui não escuto nada. Minha mãe me ensinou a falar: ela colocava a minha mão no pescoço dela e falava, porque tem a vibração”, mostra. A conversa requer um pouquinho mais de atenção, mas nada que a compreensão fique comprometida. Maikol, o noivo, se comunica através do sorriso e de libras, a linguagem de surdos que só foi aprendida por Alexa em 2011, quando ela teve a primeira amiga surda.

As mãos da mãe que fazem os últimos ajustes no vestido de noiva são as mesmas que 20 anos atrás batiam às portas dos consultórios médicos para encontrar um diagnóstico para a filha. Dona Cleusa já era mãe de Alessandra, irmã mais velha de Alexa, e sabia que tinha alguma coisa de errada com o desenvolvimento da caçula. Prematura, Alexa nasceu de 7 meses e foi considerada um “milagre” para a família. “Ela assistia TV de muito perto e quando eu chamava pelas costas, ela não respondia”, recorda Cleusa Rodrigues da Silva, de 51 anos.

Nos primeiros anos de vida, a menina não esboçava falar nenhuma palavra, o que levou a mãe a seguir a orientação de uma das professoras: ensinar a filha a falar pela vibração das próprias cordas vocais. “Ela falou pela primeira vez antes dos 2 aninhos, e foi ‘mamãe’, claro, com este sistema de por a mãozinha na minha garganta e fazendo a leitura labial. Cada palavra que eu queria que ela aprendesse, eu repetia várias vezes durante o dia”, lembra a mãe. E foi assim que Alexa disse papai, leite, água, mana e tudo o que fala hoje.

Entre tantos testes feitos, foi o último que comprovou a surdez. Alexa ouvia, no máximo 40% de um ouvido e quase nada do outro. A partir daí, o aparelhinho virou extensão da menina que ouve com os ouvidos e olhos e fala não só com a boca como também com as mãos.

Durante toda a cerimônia, houve um pastor que fizesse o sermão em libras e outro ouvinte que, enquanto usava da voz, tinha o intérprete. Sobre a música que Alexa cantou em libras, ela justifica a escolha, pela letra. “Ela explica como é bom o que Deus escolheu, que eu pedia alguém que me amasse, cuidasse de mim e me aceitasse”.

(*) Correio do Estado

Música foi interpretada pela noiva na língua dos sinais. (Fotos: Arumi Figueiredo)

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