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quinta-feira, 25 de abril de 2024

WikiLeaks mostra que eleição fez Lula adiar solução para Varig

08/01/2011 07h56 – Atualizado em 08/01/2011 07h56

O caso Varig é citado em ao menos 13 telegramas

Folha On-line

O governo Lula prolongou a agonia da Varig por cerca de dois anos, temendo a repercussão negativa que a quebra da companhia provocaria nas eleições de 2006.
A revelação consta nos telegramas enviados pela Embaixada dos EUA em Brasília para Washington e obtidos pelo site WikiLeaks.

A análise sobre a preocupação eleitoral foi construída com base em conversas do embaixador John Danilovich com o vice-presidente e ministro da Defesa na época, José Alencar, e mais fontes não identificadas do Planalto.

O caso Varig é citado em ao menos 13 telegramas. Na maioria, os diplomatas mostram preocupação com temas de interesse das empresas dos EUA de aluguel de avião, como a ILFC e os braços financeiros de Boeing e GE, credores da Varig.

O caso Varig, em especial a condução da venda em leilão judicial, foi considerado “bizantino” pelos americanos, que também ironizaram a incoerência entre o discurso e a prática do governo Lula.

O governo dizia que não ia ajudar, mas prolongava a agonia -por meio das estatais Infraero (que administra aeroportos) e BR Distribuidora (fornecedora de combustível)- ao renovar linhas de crédito ou tolerar a falta de pagamentos.

ELITE

O embaixador Danilovich também conta ter ouvido de fonte palaciana, em dezembro de 2004, argumento que justificaria a atitude de não socorrer a Varig: “Por que um governo liderado por um presidente do Partido dos Trabalhadores deveria subsidiar uma empresa mal administrada que atende a elite (o pobre não tem dinheiro para voar)?”.

Os telegramas trazem ainda uma revelação. Segundo o relato de Danilovich, em dezembro de 2004, durante reunião com o vice-presidente da Boeing, Thomas Pickering, Alencar afirmou que uma das soluções em estudo seria dividir a parte boa da Varig entre TAM e/ou Gol.

A Gol não tinha aparecido publicamente como parte de solução em estudo pelo governo. Porém a empresa acabou sendo a solução ao adquirir a Nova Varig, em 2007.
A aquisição evitou, mais uma vez, a falência da companhia, ameaçada pela disputa entre os sócios brasileiros e o fundo Matlin Patterson, dos EUA.

Na conversa, Alencar classificou de “um horror” a situação financeira da Varig. Adiar uma solução para o caso Varig, segundo relatos que o embaixador diz ter colhido, teria outra vantagem, além da questão eleitoral: dar tempo para TAM e Gol se prepararem para assumir as rotas internacionais.

VILÃO

Em 10 de junho de 2005, com a pressão dos credores donos de avião aumentando, Danilovich declarou: “Antevemos que a atual crise rapidamente se tornará muito pública e muito confusa”.

Quatro dias depois, o embaixador era procurado pela Varig, à época liderada por David Zylbersztajn e Omar Carneiro da Cunha, que lhe fez apelo para tentar impedir que a ILFC entrasse com ação de retomada de aviões por falta de pagamento.

Como o embaixador não se comprometeu, em 17 de junho, data em que a ILFC planejava retomar as aeronaves, a Varig entrou em recuperação judicial -ficando protegida do arresto dos aviões.

A ILFC, subsidiária da seguradora AIG, era o credor americano mais aguerrido. A Boeing, parceira antiga da Varig, apoiou o plano. Não por benevolência, mas por questão de imagem.

“Dada a popularidade da Varig no Brasil, a Boeing não queria ficar com a fama do vilão que levou a empresa à falência”, escreveu o encarregado de negócios Philip Chicola em julho de 2005. Esse papel coube à ILFC.

Os informes constam nos milhares de despachos diplomáticos que o WikiLeaks começou a divulgar em novembro. A Folha e outras seis publicações têm acesso ao material antes da divulgação no site da organização (www.wikileaks.ch).

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