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Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019

13/10/2016 17h57

Expansão da Eldorado Brasil segue cronograma com infraestrutura pronta para receber a implantação da obra que vai gerar, no pico da construção, de 13 a 15 mil empregos diretos

Ricardo Ojeda, com Daniela Silis

Fotos: Ricardo Ojeda e Daniela Silis

Desde que foi lançada a pedra fundamental da primeira linha de Eldorado, um misto de descrença e outros de expectativas rondava a implantação da nova fábrica de celulose. Comentários do setor sinalizavam que o lançamento da empresa era uma aventura financeira.

Decorridos dois anos e cinco meses, a fábrica estava concluída, e os comentários mostraram-se improcedentes. Na ocasião da solenidade de inauguração, que ocorreu em 12 de dezembro de 2012, foi anunciada a produção de até 1,5 milhões de toneladas ao ano na única linha da fábrica.

Na imagem grande mostra a primeira unidade da Eldorado, abaixo a área pavimentada que dá acesso ao site onde será construído a segunda linha da fábrica, como informa a placa

VANGUARDA 2.0

Com o mercado mundial de celulose em expansão, a fábrica melhorou a capacidade produtiva, ampliando para 1,7 milhões de toneladas/ano, 200 mil toneladas a mais do que o projetado inicial. Com isso, a Eldorado Brasil encerrou o ano de 2015 consolidando-se entre as empresas que lideram o mercado global de celulose, com um faturamento de R$ 3,8 bilhões em 2015.

Em 15 de junho de 2015 – dois anos e meio depois da inauguração – a Eldorado lançou a pedra fundamental da segunda linha da fábrica. Denominado de Projeto Vanguarda 2.0, a nova fábrica terá capacidade para produzir mais de 2 milhões de toneladas de celulose por ano, o que fará do complexo o maior do mundo para a produção de celulose branqueada de eucalipto.

NOVO CENÁRIO

Entretanto, como da primeira vez, o cenário de desconfiança paira sobre o projeto. Desta vez a empresa foi alvo da Operação Lava Jato. Essa investigação acontece exatamente no momento em que a empresa busca recursos para investir na expansão.

Para saber como anda o cronograma e até onde essa ocorrência interferiu no projeto, a reportagem solicitou à empresa uma visita técnica ao site, para verificar in loco o andamento do empreendimento.

O Perfil News acompanhou desde a pedra fundamental até a conclusão da primeira linha, registrando a evolução do empreendimento. E desta vez não foi diferente. Depois que o projeto Vanguarda 2.0 foi lançado, a equipe de reportagem já esteve algumas vezes na empresa acompanhando o desenvolver das atividades.

A primeira visita ocorreu em 24 de fevereiro. Decorridos quase oito meses, pode-se perceber o avanço significativo da expansão do cronograma do empreendimento. A terraplanagem e toda infraestrutura estão prontas, como a alimentação elétrica, água, ruas asfaltadas, tubulações para a rede de drenagens e esgoto que chegam a 16,5 quilômetros, estando considerado pela liderança do projeto como “em condições para otimizar os próximos passos da obra”.

O canteiro está impecavelmente limpo, sem nada fora do lugar, à espera das empresas vencedoras que vão atuar no Projeto Vanguarda 2.0. Pela assepsia do local, pode-se concluir que será um projeto bem feito.

INFRAESTRUTURA CONCLUÍDA

A equipe de reportagem foi recebida por Carlos Monteiro, diretor técnico e industrial da Eldorado Brasil, e pelo gerente geral de projetos, engenheiro Antonio Di Pasquale. Monteiro, homem de fala mansa, mas segura, que tem no histórico quatro plantas de celulose construídas, cita com conhecimento de causa, o que faz parecer que o novo desafio em curso já está projetado em sua cabeça. O Vanguarda 2.0 será a quinta fábrica de celulose que terá sua participação direta.

De acordo com Monteiro, o projeto da expansão da fábrica está de pé, prosseguindo conforme o cronograma estabelecido anteriormente. A meta dos diretores da empresa é vê-la em operação no primeiro semestre de 2019.

Para cumprir esse calendário, desde que foi lançada a pedra fundamental, uma equipe técnica, dirigida por Carlos Monteiro e supervisionada com olhar criterioso do gerente geral de projetos, Antonio Di Pasquale, não parou um instante sequer. Comandando uma equipe enxuta, que desenvolveu um esquema tático de competência, focada.

Em pouco mais de um ano de trabalho, os resultados são visíveis. Durante esse período, foram movimentados mais de 5 milhões de metros cúbicos de terra (sem adição de material externo) e terraplanada uma área de 575.550,00 m², resultando em economia no orçamento do empreendimento, pois as empresas vencedoras dos pacotes de obras irão receber a infra 100% concluída. Com isso, a negociação será mais facilitada, sem acúmulo de trabalho, o que trará ganhos na negociação, disse Carlos Monteiro.

ENVOLVIMENTO NA LAVA JATO

Indagando se o envolvimento da Eldorado Brasil com os fundos de pensões Petros e Funcef – com 8,53% de participação na companhia, cada – na Operação Lava Jato poderia comprometer a expansão, o diretor Industrial disse que a obra prossegue. “A gente continua com todas as etapas já delineadas, desde o cronograma que nós te apresentamos na vez passada. Hoje nós estamos com a estrutura praticamente concluída”, reiterou Monteiro. Para ele as notícias veiculadas na grande mídia não afetaram a credibilidade da empresa: “esses fatos que tu levantou, realmente foram noticiados e você acompanhou. Mas, foram resolvidos e não tiveram interferência nenhuma no projeto. Sobre continuar conosco para o próximo projeto, os fundos são quem irão decidir se vão continuar ou se vão vender as suas participações”.

A captação de recursos para atingir os R$ 10 bilhões de reais do orçamento do projeto, segundo Carlos Monteiro, 30% do investimento será de equity (capital próprio) e os outros 70% devem vir de linhas de financiamento, tanto internos quanto externos – instituições financeiras, fundos e agências de créditos à exportação. “Hoje existe a possibilidade de você captar recursos dentro e fora do país. Estamos acompanhando todos os movimentos e nos preparando internamente para as possibilidades que vierem, no momento certo estaremos preparados”. Ele completa: “tudo está andando, nada parou, e continua no mesmo ritmo”.

CRISE ECONÔMICA X EXPERIÊNCIA

A crise econômica instalada no país foi outra situação que trouxe preocupação, mas não afetou o cronograma. Monteiro é da opinião que a admissão de investimentos é uma busca constante. “A gente tem que buscar sempre melhores condições para ganhar nas negociações e reduzir custos”.

Na sequência, a primeira foto mostra a equipe comandado pelo gerente geral de projetos, Antonio Di Pasquale, que em pouco mais de 1 ano deixara toda infraestrutura do empreendimento concluída para receber a obra, como mostram as imagens

Conforme ficou planejado em recente reunião, os diretores do Vanguarda 2.0 decidiram fazer um projeto diferente. Carlos Monteiro falou que “ao invés de sair nas etapas normais do projeto, vamos até o final do ano colocar o pedido de engenharia, para que a gente tenha um projeto muito mais detalhado, para diminuir as contingências. Isso é uma maneira de reduzir custos”.

Ele exemplificou sua fala fazendo uma comparação: “imagina você fazer uma sala aqui. Quando ela só estiver em projeto, só na sua cabeça, ou quando ela é totalmente detalhada e você sabe exatamente o quanto que você vai gastar”, esse é o nosso objetivo.

Outro detalhe que pode ser incorporado de forma positiva ao empreendimento é a experiência que os responsáveis pelo projeto reúnem. Trabalhando juntos há 28 anos, Carlos Monteiro e Antonio Di Pasquale se definem como um time de futebol que tem um esquema tático preciso e atuam de forma orquestrada junto aos demais profissionais da equipe.

“Quando você tem um time que já trabalha junto e com poucas pessoas, o poder de decisão é muito mais rápido. Então você delega para as pessoas, cobra resultados, evidentemente as respostas são muito mais rápidas do que uma estrutura monstruosa, que para fazer uma mudança aqui, tem que ir lá unir todos aqueles caras para tomar a decisão. Isso custa dinheiro. Então as decisões aqui são muito rápidas. Tanto na decisão do projeto, quanto na fábrica”, disse Monteiro.

GERAÇÃO DE EMPREGOS

A previsão para mobilização de grande número de trabalhadores está programada para ocorrer no final do primeiro semestre de 2017, quando iniciará o estaqueamento da obra. Porém a contratação de colaboradores será gradativa, podendo envolver no pico da obra um contingente de 13 a 15 mil pessoas diretamente. Atualmente, cerca de 300 pessoas trabalham no canteiro de obras, mas até final do ano esse grupo será desmobilizado, devendo iniciar novas contratações a partir do próximo ano.

Outro setor da empresa que acompanha o processo de expansão é o florestal, que está ampliando a plantação e diminuindo a distância entre a floresta e a fábrica. Os municípios de Bataguassu, Brasilândia, Ribas do Rio Pardo, Selvíria e Inocência são os alvos de investimentos florestais. Atualmente, a Eldorado possui um ativo de 240 mil hectares de florestas plantadas, dos quais 80% são em áreas arrendadas.

LOGÍSTICA

A logística para atender a nova fábrica será a mesma que já é utilizada, que consiste nos modais rodoviários e ferroviários, por meio da linha existente no município de Aparecida do Taboado. Mas, de acordo com Carlos Monteiro, o transporte fluvial pelo Rio Tietê pode ser restabelecido em breve, tudo vai depender do aumento do calado do rio, que permite a navegação das embarcações. O transporte da carga de celulose seguira até Pederneiras (SP) e de lá poderá seguir em vagões de bitola larga – que possibilita empregar mais velocidade e maior capacidade de carga – até o Porto de Santos, onde a Eldorado possui um terminal próprio para receber a carga. “A partir disso, vamos ganhar agilidade e competitividade. Ao invés de termos 120 carretas na estrada, vamos ter 4 ou cinco balsas”, enfatiza Monteiro.

FOCO NO DETALHE

Mesmo em tempos de crise que abala a economia do país, como é possível alavancar um projeto de R$ 10 bilhões? Monteiro, com a tranquilidade que lhe é peculiar, tem a resposta na ponta da língua: “Aqui nós trabalhamos com entusiasmo, somos motivados, tomamos atitude que o dono tomaria, então assumimos o risco que ele assumiria e isso nos impulsiona positivamente para seguir em frente, com responsabilidade”, diz enaltecido.

Quando se fala em equipe motivada, são os programas de modelos de gestão que valoriza as pessoas, possibilitando o crescimento dentro da empresa. A empresa, de acordo com Monteiro, dá muita importância para seus profissionais. “Nós temos um programa chamado ‘Foco do Detalhe’, que é baseado em três pilares: primeiro pilar é concentração, você sabe que isso aqui (mostra o celular) tira a concentração de todo mundo hoje. Dentro de uma fábrica, se você não tem foco, é igual dirigir carro e falar no telefone. O segundo pilar: responsabilidade. Então a atividade é sua, você é cobrado e é responsável por ela e, claro, também pode ser reconhecido. Então se eu sou seu chefe, eu estou vendo o seu trabalho, vendo onde você precisa melhorar, então você se sente valorizado. Se não é igual enxugar gelo. E o terceiro pilar é o conhecimento. Se você não tem conhecimento, você está aberto a perguntar. A gente fala que aqui a gente volta a ser criança, você pergunta tudo. Quando você vira adulto, cria uma barreira, então a gente quebrou isso, então pode perguntar. Pergunta tudo o que você precisa saber, se a gente não souber responder, a gente vai procurar quem sabe para aumentar o seu conhecimento. Então esses três pilares formam o foco no detalhe”, conclui.

LIDERANÇA DE PONTA

Atualmente o Brasil detém a ponta da produção de celulose do planeta. As melhores e mais competitivas fábricas de celulose estão instaladas no país.

O mercado do papel tissue, por ser considerado de necessidade básica da higiene, tem futuro promissor tanto na América Latina quanto na Ásia. Nos EUA e na Europa já está mais consolidado, porém não se investiam nessas commodities nos últimos 24 anos. Conforme disse Carlos Monteiro, “os americanos e canadenses deixaram de investir nas fábricas deste setor em seus países, partiram para outro tipo de negócio e as fábricas foram ficando obsoletas, com custos alto”. Monteiro prosseguiu dizendo que outro fator importante é que muitas fábricas na Europa e na Ásia, principalmente por problemas de poluição, vão começar a sair do mercado. Isso possibilitará os investimentos em novas linhas de produção no Brasil, com custos operacionais mais eficientes.

A Eldorado Brasil virou referência mundial de gestão e produtividade, atingindo em 21 de abril deste ano a marca histórica de 5.000.000 de toneladas de celulose. Por conta disso, constantemente recebe visita de cliente do Brasil e de vários outros países. Por isso empresa se preocupa muito com os mínimos detalhes, principalmente com a limpeza e da área verde, como mostram as fotos abaixo

REFERÊNCIA MUNDIAL

Atualmente a planta da Eldorado Brasil é referência no mundo em custos operacionais. “A fábrica é referência mundial. Só para você ter uma ideia a planta foi projetada para 1,5 milhão de toneladas/ano e nós estamos operando em ritmo de 1,7 mm/tons/ano, são 200 mil toneladas adicionais além do projeto. Não conheço nenhuma no mundo!”, exclama.

“Essa conquista deve-se à participação da equipe, que trabalha motivada, e isso é fundamental. É o modelo de gestão adotado nessa empresa que veio desde a concepção do projeto. Então aqui a gente somou as duas coisas: o projeto foi muito bom, foi muito bem pensado e a operação foi de excelência”, raciocina.

Monteiro explicou ainda que constantemente a empresa recebe visita de pessoas do Brasil e do exterior, que querem conhecer a fábrica, e eles encontram tudo limpo e organizado. “O mundo inteiro vem visitar a Eldorado por que ela é organizada, tem gestão, enquanto em outras companhias em momento de crise, a primeira medida que toma é cortar gente, demitir, para aliviar a folha. Esse procedimento não acontece aqui na companhia. Nós valorizamos nossos colaboradores que nos ajudam a bater metas. Se as pessoas estiverem motivadas, a empresa ganha em produtividade”, finaliza.

NOVOS DESAFIOS

Com pouco mais de uma hora de entrevista, o diretor Técnico e Industrial da Eldorado Brasil, Carlos Monteiro, esclareceu todas as questões, mostrando como a empresa valoriza seus colaboradores, desde a pessoa que trabalha na limpeza das ruas até o mais graduado funcionário, e o resultado disso é a eficiência e a competitividade.

É o modelo de gestão que impulsiona a companhia para ganhos de produtividade. “Se tu lembrar, eu vim de uma outra empresa pra cá. Não tinha madeira, a região não entendia nada de celulose, mas o importante foi buscar as pessoas que entediam e que estavam no meio, tinham capacitação para fazer o que aconteceu aí. Hoje você vê que a Eldorado foi escolhida pelo jornal Estadão como a empresa mais eficiente no setor de celulose. Ganhamos um prêmio agora na quinta-feira passada. Somos calouros no negócio, muito novinha e já chegamos lá com empresas que tem 100 anos de existência. E chegamos em um grupo. Todo esse pessoal aqui é de bagagem”, conclui Monteiro.

Com a bagagem de décadas de experiências no setor, Monteiro ergueu uma fábrica no meio do nada que se tornou referência mundial de produtividade. Agora, o novo desafio é o Projeto Vanguarda 2.0.



A nova unidade da fábrica da Eldorado Brasil terá produzirá 2 milhões de toneladas de celulose por ano, podendo chegar a 2,3 milhões, seu custo está estimado em R$ 10 bilhões, devendo entrar em operação no segundo semestre de 2019 (Foto: Reprodução)

Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019

Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019

Antonio Di Pasquele, gerente geral de projetos e Carlos Monteiro, diretor industrial falaram por mais de 1 hora sobre a expansão da fábrica ao jornalista Ricardo Ojeda (Foto: Daniela Silis)

Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019

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De camisa branca, o gerente geral de projetos, engenheiro Antonio Di Pasquale mostrou todos os detalhes do empreendimento à reportagem (Foto: Daniela Silis)

Pasquale disse que para execução da terraplanagem foram movimentados mais de 5 milhões de metros cúbicos de terra (sem adição de material externo) em uma área de 575.550,00 m² (Foto: Daniela Silis)

Anteriormente nesse local existia um terreno acidentado, com morros que impedia uma ampla visualização da fábrica. Em pouco mais de 1 ano a área apresenta um novo visual (Foto: Daniela Silis)

Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019

A equipe de engenharia do Projeto Vanguarda 2.0 comandada pelo engenheiro Antonio Di Pasquale, gerente geral de projetos (Foto: Ricardo Ojeda)

O gerente geral de projetos da Eldorado Brasil, Antonio Di Pasquale, com os jornalistas, Ricardo Ojeda e Daniela Silis (Foto: Sidnei Ramos)

Placa comemorativa da produção alcançada em 21 de abril deste ano, a marca histórica de 5.000.000 de toneladas de celulose (Foto: Ricardo Ojeda)

Orçada em R$ 10 bilhões, nova linha da Eldorado vai operar no 1º semestre de 2019


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