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Índios se unem para conquistar eleitores

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04/10/2002 09h29 – Atualizado em 04/10/2002 09h29

Vinte anos depois da eleição do deputado federal Mario Juruna (PDT-RJ) e motivados por casos vitoriosos em países vizinhos, lideranças do movimento indígena brasileiro decidiram se candidatar com o objetivo de criar uma representação política e formar o chamado “voto étnico” no país.

Ao todo, o grupo indicou sete candidatos a deputado estadual e um a deputado federal em sete Estados do país: AC, MT, MS, PA, SC, RO e RR.

“Juruna faz parte da história do país como o primeiro parlamentar indígena, mas hoje as novas lideranças não querem ser parte de um contexto que foi considerado folclórico”, disse o candidato a deputado estadual Marcos Terena (PST-MS), 48, ex-coordenador dos Direitos Indígenas da Funai (Fundação Nacional do Índio).

A idéia do lançamento simultâneo surgiu de discussões em encontros das organizações indígenas depois de 2000, quando foram eleitos no país 81 vereadores, seis vice-prefeitos e até um prefeito -Marcos Potiguara (PMDB), em Bahia da Traição (PB).

“A maioria dos vereadores eleitos foi indicada por lideranças políticas brancas, sem compromisso com o movimento indígena”, diz José Adalberto Macuxi (PC do B-RR), candidato a deputado federal ligado à Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

Para Macuxi, o que prejudicou Juruna foi essa falta de apoio. “Na época não havia organizações fortalecidas e Juruna ficou isolado no Congresso, manipulado pelos brancos. Era um líder fantástico que morreu isolado”. Juruna morreu em julho, em Brasília.

O surgimento nos últimos anos de políticos indígenas em países da América do Sul e Central também serviram de inspiração para o movimento indígena brasileiro.

No ano passado, o Peru elegeu Alejandro Toledo, primeiro presidente eleito de origem indígena. Na Venezuela, a Constituição de 99 garante três cadeiras permanentes a índios na Assembléia.

Em contraponto, no país o número de candidaturas indígenas nem sequer é registrado pelo TSE. “Isso seria discriminação”, disse a assessoria de imprensa do órgão.

Disputa interna

A iniciativa do grupo é minoritária dentre indígenas que disputam estas eleições. Segundo levantamento da Funai, existem pelo menos mais onze candidaturas.

Todos os candidatos disputam os votos dentro das aldeias -estima-se que 60 mil índios dessas comunidades votarão este ano.

O desafio das lideranças indígenas é conquistar esses eleitores, que, segundo eles, estão acostumados a práticas clientelistas. “O processo de cooptação do candidato mau caráter nas aldeias vai desde a cachaça até o churrasco”, disse Terena.

Caso a experiência deste ano seja considerada satisfatória, as próximas metas do grupo serão disputar prefeituras com grande população indígena e discutir a criação de um partido próprio.

De acordo com informações preliminares do Censo 2000, o número de índios pulou de 294.135, em 91, para 701.462, em 2000 -um aumento de 138%. Apesar do crescimento, representam apenas 0,4% dos brasileiros.

Fonte: Agência Folha

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