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quarta-feira, 30 de abril de 2025

O fiasco da novela “Metamorphoses”

24/04/2004 11h03 – Atualizado em 24/04/2004 11h03

Quando estreou, em pleno domingo, Metamorphoses até parecia ter grandes chances de engrenar. A novela registrou média de 11 pontos e picos de 17, números altos para o padrão da Record, principalmente em teledramaturgia. Sem tradição no gênero, a emissora nunca conseguiu mais de 10 pontos com uma novela.

Além da estratégia de estrear Metamorphoses no dia que a tevê aberta oferece suas piores opções, a emissora investiu pesado para divulgar o produto. Foram mais de R$ 1 milhão gastos em “outdoors” e anúncios em revistas e jornais. Também contratou um elenco repleto de ex-globais, como Paulo Betti, Luciano Szafir e Vanessa Lóes. E ainda utiliza tecnologia de cinema – é a primeira novela totalmente produzida em alta definição – HDTV.

Tudo isso, pelo visto, atiçou a curiosidade dos telespectadores para assistir ao primeiro capítulo, como comprovou a audiência. Mas não foi suficiente para sequer segurá-los até o dia seguinte. Do segundo capítulo até o fim da semana, a média da novela caiu para seis pontos. Aos poucos a audiência se fixou em cinco e agora não passa dos quatro. Às sextas, por exemplo, costuma registrar pífios três pontos. Em alguns dias, a emissora chega até a perder para a Rede TV!, que freqüenta habitualmente o sexto lugar no “ranking” do Ibope.

A principal explicação para este fiasco está no próprio texto. A trama, que mistura cirurgia plástica e máfia japonesa, é rocambolesca. Para piorar ainda mais a situação, a história é contada de forma linear, como se fosse um filme. Os folhetins, desde sempre, têm a característica de a cada capítulo recontar toda a trama para quem está vendo, ouvindo ou vendo pela primeira vez. Tanto que é possível acompanhar qualquer novela normal assistindo a um capítulo por semana, por exemplo. A forma como a repetição das informações é feita – se vai abusar ou não da paciência do espectador – depende do talento de cada autor, mas a redundância está na essência do gênero.

O que a novela da Record faz é desprezar a técnica desenvolvida desde os primeiros folhetins, ainda nos jornais. E consegue com isso afastar quem não é telespectador assíduo. Ou seja: Metamorphoses é uma novela hermética. Mas como desgraça pouca é bobagem, a produtora Casablanca decidiu que não deveria divulgar os capítulos através da imprensa.

A trama mirabolante de Metamorphoses é fruto do desejo – quase capricho – de Arlette Ciaretta, dona da produtora Casablanca, de virar autora de telenovelas. Ela até contratou conhecidos autores de novela, mas a função deles era apenas passar para o papel a “brilhante” história que ela tinha em mente. Essa relação, como era previsível, não deu certo. Todos abandonaram o barco. Primeiro foi Marcílio Moraes, depois Mário Prata e, por último, José Louzeiro. Hoje a novela é escrita por um time de menor renome – sob o pseudônimo de Charlotte K. A autora mais conhecida é Yoya Wursch, que participou de tramas como Mandacaru, da extinta Manchete, Colégio Brasil e Dona Anja, ambas do SBT. Com tanta confusão e despreparo, seria surpreendente se a novela tivesse emplacado.

Agora, até a direção pode ficar comprometida. A experiente Tizuka Yamasaki deixou a novela para se dedicar a finalização do longa Gaijin 2. Ela alegou também que só ficaria – como seu contrato previa – o tempo suficiente para dar formato ao produto. Todos os percalços de Metamorphoses podem justificar o fracasso, mas, curiosamente, o mesmo não acontece com as novelas mexicanas exibidas pelo SBT. Apesar da qualidade infinitamente inferior, tem uma fatia de público que rende sempre uma audiência garantida para a emissora. A Record, antes de mais nada, tem de adquirir tradição em novelas. Resta saber se a emissora vai desanimar com o desempenho de Metamorphoses e não dar continuidade à produção de teledramaturgia, como fez depois de sucessivas tentativas com Marcas da Paixão, Vidas Cruzadas e Roda da Vida – essa última exibida em 2001.

Fonte:TV Press

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