05/10/2005 07h49 – Atualizado em 05/10/2005 07h49
Agência Brasil
O superintendente da Polícia Federal (PF) no Rio de Janeiro, delegado José Milton Rodrigues, revelou na tarde desta terça-feira que 20 quilos de cocaína apreendidos em 2004 sumiram da Superintendência da PF no Rio. A droga estava no mesmo cofre de que foram roubados cerca de R$ 2 milhões apreendidos na Operação Caravelas. Rodrigues acredita que a cocaína tenha sido substituída por outra substância.O sumiço da droga foi revelado por uma auditoria na Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). O material foi enviado a Brasília para perícia. “As informações que eu tenho é que realmente tal fato ocorreu”, disse o delegado. Um novo inquérito policial e de sindicância foi aberto para apurar o caso. As investigações dirão se o crime foi cometido pela mesma quadrilha. Rodrigues admitiu que o responsável pela guarda da chave do cofre onde estaria o dinheiro “é culpado em tese”. Nos dois casos, a pessoa responsável pelo depósito era o chefe do cartório da PF, o escrivão Fábio Kahir. “Eu não estou aqui dizendo que seja ele o autor desse fato, mas ele terá que prestar explicações e esclarecimentos”, afiançou Rodrigues. Como o escrivão aparece nos dois casos, o Superintendente da PF no estado acrescentou que “ele vai ter que se explicar, apresentar uma justificativa muito boa para essas duas ocorrências”. Rodrigues disse que já está sendo pedida à Justiça a quebra dos sigilos fiscal e bancário dos suspeitos.Roubo dos R$ 2 milhõesA PF também afirmou nesta terça-feira que tem “95% de certeza” sobre a autoria do roubo dos R$ 2 milhões. “Temos também a convicção de que essas pessoas que participaram desse ato aqui na Polícia Federal são servidores da Polícia Federal”. Os R$ 2 milhões haviam sido apreendidos na Operação Caravelas – para desmantelar uma quadrilha de tráfico internacional de drogas. A ação, desencadeada em 15 de setembro, desmantelou uma quadrilha de tráfico internacional de drogas e evitou a remessa de 1,6 mil tonelada de cocaína para fora do Brasil. O dinheiro sumiu de dentro do prédio da superintendência da PF no Rio de Janeiro três dias após ser apreendido. Segundo Rodrigues, existe a possibilidade de que a quadrilha tenha contado com ajuda externa, inclusive de pessoas estranhas ao órgão. Tudo isso está sendo investigado, garantiu Rodrigues. Rodrigues disse que já tem “quase certeza absoluta de quem são os autores do crime”. O delegado afirmou que todos que trabalharam na operação são suspeitos em potencial. “Precisa agora localizar a prova material, que é o dinheiro”, indicou. “Este é o grande desafio”, disse o superintendente. José Milton Rodrigues manifestou ter certeza de que o dinheiro será recuperado. Segundo o delegado, os R$ 2 milhões se encontram dentro do Estado. Rodrigues admitiu que está em contagem regressiva para deixar o cargo. Além dele, outros dois delegados dirigiram a PF no estado durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: Marcelo Itagiba, atual secretário estadual de Segurança Pública, ficou no posto até maio de 2003, e Roberto Precioso Junior ocupou o cargo por menos de um ano – até abril de 2004. Ele informou que antes de deixar a Superintendência, quer resolver a questão do roubo dos R$ 2 milhões, ocorrido no dia 18 de setembro, três dias após a apreensão do dinheiro com a quadrilha internacional de tráfico de drogas desmantelada pela PF durante a Operação Caravelas. “É uma questão de honra”, afirmou. Crise internaRodrigues admitiu nesta terça-feira que há crise dentro da organização no Estado. “Em um grupo como a Polícia Federal, que tem cerca de 1,2 mil servidores, há dissidências e interesses contrariados pela administração”, reconheceu o delegado. Ele negou, porém, que a crise seja institucional. Ele disse que o desaparecimento do dinheiro apreendido pela Operação Caravelas “é uma crise grave que, infelizmente, foi ocorrer na Superintendência do Rio de Janeiro, como poderia ocorrer em qualquer local”. Ele ressaltou, no entanto, que está preparado para agir “diante de uma crise”, de acordo com a gravidade do fato. O episódio de sumiço do dinheiro apreendido antecipou a mudança de chefia em delegacias da corporação no Estado e na sede da capital, localizada na Praça Mauá. Segundo Rodrigues, a alternância das lotações é um ato rotineiro. Toda a equipe da Delegacia de Entorpecentes e duas equipes do plantão no dia 18 de setembro, quando foi descoberto o furto do dinheiro, totalizando 59 servidores, foi afastada pela superintendência. A Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE), de onde sumiu o dinheiro da Operação Caravelas, ficará durante um período de 90 dias sob a responsabilidade de dois delegados transferidos do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.