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ARTIGO:Quem paga a conta do prejuízo da próxima safra?

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24/06/2006 08h22 – Atualizado em 24/06/2006 08h22

*Glauber Silveira.As medidas de apoio à agricultura, já anunciadas e que ainda serão anunciadas pelo governo, atendem parcialmente às solicitações do setor agrícola. Infelizmente tratam apenas de questões emergenciais como, dívidas vencidas e a vencer em um curto período. As medidas ditas estruturantes que impactam sobre os custos de produção serão tratadas posteriormente. Sendo assim, como a próxima safra será viabilizada?O Plano Agrícola e Pecuário 2006-07 não tem ações concretas sobre os custos de produção, fatores como óleo diesel, carga tributária e insumos agrícolas que em apenas 3 anos impactaram os custos em 500 reais por hectare (ha.), não foram contemplados no plano.A Companhia Nacional de Abastecimento (Cohab) divulgou a estimativa do custo de produção para soja da próxima safra para a região Centro Oeste prevendo gastos em torno de R$ 1320,00/ha., considerando produtividade média de 50 sacas/ha. O produtor teria que vender cada saca de soja a um preço no mínimo de R$ 26,32, para que pudesse pagar apenas os custos de produção.Se considerássemos um preço futuro de 10 dólares a saca de soja, a um câmbio de 2,26 o produtor receberia R$ 22,60, teria um prejuízo de R$ 3,90 por saca, considerando-se uma produção de 50 sacas, isso totaliza uma perca de R$ 195 por há. Isto se tudo desse certo, porque se a colheita for de 43 sacos – a média do MT na safra passada – o prejuízo seria de no mínimo R$ 380,00.Se a própria Conab, órgão oficial do governo, estima um custo acima de 26 reais por saca de soja produzida. Quem vai arriscar a plantar a próxima safra tendo em vista as atuais projeções futuras do preço da soja. Somente aqueles que não fizerem as contas, e quiserem aumentar ainda mais suas dívidas, já que não existe nenhuma expectativa de obter rentabilidade futura. Os insumos: semente, fertilizantes e adubos, que equivalem a 50% dos custos de produção da soja precisam ser equalizados. Estes insumos estão com custos superiores a 30 sacas/ha., com custos nestes patamares quem plantar estará declarando a falência de sua próxima produção. Na cadeia produtiva existem ainda outros custos importantes que devem ser levados em conta antes de optar por plantar.No atual patamar em que os custos se encontram, seria mais seguro e viável que o produtor não plantasse a próxima safra, pois ao menos não estaria aumentando sua dívida, tornando-a ainda mais impagável. É loucura plantar um pé de soja no Centro Oeste do Brasil. Isso sem considerar que a estimativa da Conab está baixa e não levam em conta dívidas passadas.Para produzir a próxima safra, o produtor precisa ter rentabilidade, não precisa apenas de prorrogação de dívidas. É preciso baixar custos já que o governo diz não poder mexer no câmbio, não adianta prorrogar o problema para o futuro. Sem renda não se paga contas. Questões como ferrugem, genéricos, preço mínimo, preço de insumos agravados pelo preço do óleo diesel, precisam ser equalizados imediatamente.Nos patamares que se encontram os custos de produção e com o que foi anunciado até agora, se o produtor plantar é prejuízo na certa e grande. Só em Mato Grosso serão mais 2 bilhões só na soja. Se o produtor não plantar, milhares de pessoas serão demitidos. O Estado entrará em colapso e, ao que tudo indica, o governo deve estar preparado para importar alimentos e também absorver a grande queda na balança comercial; resta saber quem pagará esta conta.Secretário de Agricultura, Pec. Meio Ambientepresidente do Sindicato RuralVice-presidente Oeste da AprosojaDiretor do FolhaMTEmail:glauber@folhamt.com.br

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