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‘Estou acobertando um monte de coisa’, diz médico investigado pela PF

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09/05/2013 10h15 – Atualizado em 09/05/2013 10h15

Escutas revelam indícios de que ex-diretor de hospital recebia propina. Operação Sangue Frio apurou desvios de cerca de R$ 1 milhão.

Da Redação

A Operação Sangue Frio, da Polícia Federal em conjunto com os Ministérios Públicos Federal e Estadual e a Controladoria-Geral da União, já conseguiu apurar o desvio de cerca de R$ 1 milhão em contratos irregulares fechados pelo Hospital Universitário, na gestão do médico José Carlos Dorsa. O ex-diretor é acusado, entre vários crimes, de fraudar licitações e receber propina de empresas que prestavam serviços ao HU.

As investigações da Polícia Federal revelaram que, para fechar contratos com o hospital, fornecedores davam dinheiro ao então diretor da instituição. Em uma das ligações interceptadas com autorização da Justiça, em agosto de 2012, Dorsa combinaria como os valores seriam recebidos.

Homem: Você está no HU?

Dorsa: Tô aqui já.

Homem: É… como que eu faço pra te entregar? Você quer que eu vá aí, ou quando você sair daí você me liga? Acabei de pegar! Vai querer fazer o rateio, igual da outra vez? Deixou um documento em cada lugar.

Dorsa: Ah, sim. Exatamente. Mas aí seria em dois lugares, né.

Homem: É? Ué, fala pra mim qual você quer, que eu faço.

Dorsa: Aí a minha ideia seria: é Banco do Brasil, né… e o outro seria na Caixa.

Homem: Tá, eu tenho as duas. Metade em cada?

Dorsa: É. Tem que ser. É R$ 500 a menos, né.

Homem: Aham. Dá sim.

Dorsa: Aí retém isso, um extra. Depois você me dá, amanhã.

Homem: Então tá, beleza. Beleza, então.

Em outra ligação, fica claro para a polícia o negócio ilícito. Irritado com algum problema no esquema, Dorsa decide mudar a estratégia na relação com os fornecedores.

Dorsa: E aquele cara, não acertou?

Homem: Ele vai mandar uma parte terça, e outra parte na outra terça.

Dorsa: Que história é essa, terça e outra terça?

Homem: Não tem problema!

Dorsa: Claro que tem! Hoje é dia 20. Foi… faz um mês já.

Homem: Mas ele vai ajeitar esse negócio, fica tranquilo.

Dorsa: Ou regulariza, ou eu vou cancelar. Negócio é no mesmo dia! E lá, eu estou acobertando um monte de coisa? Errado.

Homem: Também acho. Dá só o dinheiro e pronto.

Dorsa: Ô cara, é o seguinte: como você já saiu do limite, vai ser o seguinte. Eu vou assinar de manhã, você vai acertar no dia anterior, senão não tem assinatura.

Entre os investigados, está o primo de Dorsa, Antônio Carlos Cantero Dorsa, o Cacaio. Ele foi assessor do ex-diretor do HU e também trabalhava para uma empresa que prestava serviços ao hospital. Segundo a polícia, era Cacaio quem recebia a propina dos fornecedores e dividia o montante. Em uma das gravações autorizadas pela Justiça, Cacaio e Dorsa combinam a entrega do dinheiro.

Dorsa: Cadê você, guri? Tô saindo aqui do HU, viu.

Cacaio: Ahn. Não, a hora que você quiser, a hora que você quiser, eu desço lá embaixo, você que sabe.

Dorsa: Você quer que passe aí, em frente da sua casa?

Cacaio: Você que sabe. Passa aí, então. E me avisa. Já tô chegando em casa, vou pegar o negócio e desço.

Dorsa: Tá bom, tchau.

Em outra conversa, interceptada em setembro do ano passado, um dos fornecedores combina com Cacaio um encontro em uma agência bancária.

Homem: Está tendo uma divergência no negócio lá no BB (Banco do Brasil). Você quer, você quer pegar uma parte hoje, outra amanhã?

Cacaio: É, dá pra pegar um pouco hoje porque o homem vai viajar amanhã à tarde.

Homem: Então tá… vamos lá, então.

A polícia já anexou ao inquérito a imagem do circuito interno da agência bancária, quando o atendente de caixa entrega vários maços de dinheiro ao homem que se encontrou com Cacaio na agência. Os investigadores descobriram também que Cacaio era cobrado pelos fornecedores quando atrasava o repasse dos contratos irregulares fechados com o HU.

Homem: E aí, meu irmãozinho! Eu tô daquele jeito, mais agoniado que…

Cacaio: Não, tem que chegar o negócio, lá, pra fazer pra você.

Homem: Então, mas o cara quer ir aí falar com o seu primo (Dorsa), aí.

Cacaio: Não é bom! Fala que não é bom! Espera cair o negócio lá, que vai dar certo.

Homem: Então, porque o povo está me crucificando… os fornecedores nossos não estão esperando mais.

Cacaio: Você não precisa se preocupar em não receber, não vai ter problema! Fala pro pessoal aí que o papel está assinado. O negócio é cair o negócio (dinheiro) no troço lá, pra poder mandar pra você.

Homem: Então, bicho, mas conversa com o Dorsa aí, aguenta outra bucha aí e dá prioridade pra nós aí, cara!

Cacaio: Deixa cair. Atrasou muita coisa. Ficou 5 meses sem orçamento, entendeu? A hora que tiver o negócio, vai ter o teu separado, lá. E eu não sei quando que vem o negócio, entendeu?

Homem: É, vem hoje, amanhã, e nunca vem, né?

Cacaio: É, vou ver, a hora que tiver lá, te aviso.

A Polícia Federal ainda não concluiu as investigações e não tem prazo para isso. Técnicos analisam todo o material apreendido e reunido durante as buscas e as operações. É nessa etapa dos trabalhos que são feitos os cruzamentos de dados. “É uma gama enorme de documentos e materiais de mídia. Isso tudo está sendo submetido à nossa perícia para ser confrontado com as outras provas que nós temos do cometimento desses ilícitos todos”, diz o superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, Paulo Marcon.

Cacaio: Tô quase pegando!

Dorsa: Eu tô em casa, te aguardando. Sim?

Cacaio: Ó, o velho vai mandar 38, completa 50 segunda.

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Homem: Você precisa arrumar um lugar de guardar o dinheiro.

Cacaio: Eu tenho um cofrinho lá na minha casa. Tenho um cofre embutido.

Homem: O duro é que se eu comprar um cofre, vai despertar o olhar da mulher, né! E comprar um muito pequenininho também, a empregada põe embaixo do braço e leva tudo.

Cacaio: Leva embora, leva embora.

Homem: Não tem onde guardar esse dinheiro.

Cacaio: Ah, não tem!

(*) Com informações de G1 MS

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