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Três-lagoenses comentam sobre reconhecimento internacional da Roda de Capoeira

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02/12/2014 10h19 – Atualizado em 02/12/2014 10h19

Reconhecimento da Roda de Capoeira como Patrimônio Imaterial da Humanidade é comentado por integrantes de grupos de Três Lagoas

Para doutor em História do Brasil, título é oportunidade para brasileiros repensarem o projeto de sociedade através do jogo da capoeira, deixando o coletivo prevalecer sobre o individualismo

Guta Rufino

No último dia 26, a Roda de Capoeira recebeu o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). A reportagem do Perfil News conversou com integrantes de grupos de capoeira atuantes em Três Lagoas e também com um doutor em História do Brasil para falar sobre o reconhecimento internacional. Todos compartilham da mesma ideia: a capoeira pode contribuir para uma sociedade melhor e o reconhecimento internacional é um marco histórico.

TRÊS LAGOAS

O instrutor José Augusto Dias, o Baratta, do Abadá Capoeira, descreve a capoeira como sinônimo de socialização, integração e respeito às diversidades; uma arte que engloba várias artes. “Ela é símbolo da identidade brasileira, e agora, de toda a humanidade. A capoeira pode ajudar a tornar a nossa sociedade melhor, mais humana e mostrar que todos nós temos valores, independente do grau de instrução ou nível social. A Capoeira equilibra e harmoniza as pessoas”, e conclui explicando que “em uma aula de capoeira ninguém usa roupa bonita, acessórios importados. Todo mundo igual: roupa branca e pé no chão”.

A Contra Mestra Juliana Araújo, do Grupo Memória Capoeira, considera o reconhecimento como uma conquista. “A cada dia a capoeira vem quebrando paradigmas. É praticada por gente de qualquer classe social, além de ser maior divulgadora da Língua Portuguesa. Com esse reconhecimento a capoeira é valorizada no mundo todo”.

A professora de capoeira Fernanda Aranha é integrante do grupo Memória Capoeira e da Associação Cultural e Ancestral AfricaBrasil Capoeira. Ela participou recentemente – 2013 e 2014 – de reuniões com o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e ajudou a organizar o inventário necessário ao reconhecimento como patrimônio imaterial da humanidade. “Há mais de quatro anos eu e a Juliana participamos de reuniões políticas junto ao Ministério da Cultura e Fundação Palmares – 2008 e 2009. Também participamos ativamente da luta pelo reconhecimento da capoeira a nível internacional”, e concluiu, “a Capoeira é a história do meu povo e nós, que estamos dia a dia utilizando-a como ferramenta sócio cultural, somos a própria capoeira. Na prática não posso garantir que a Capoeira será mais respeitada pelo Poder Público, mas ao menos o mundo agora reconhece, oficialmente, a importância da nossa arte”.

FILHA DE PÉS NEGROS

A capoeira é um dos maiores símbolos da identidade nacional. O doutor em História do Brasil, Lourival dos Santos é professor no curso de Licenciatura em História da UFMS de Três Lagoas. Ele atentou ao fato da titulação ter acontecido no mesmo mês da Consciência Negra. “A capoeira é um dos ícones de nossa identidade no exterior, ao lado do samba e do futebol. Todas elas se não originadas, são fortemente marcadas por origens africanas. É neste ponto que mora a contradição: no mesmo mês da consciência negra em que repetimos as tristes estatísticas sempre desfavoráveis aos negros e negras do Brasil, a capoeira, filha de pés negros é reconhecida internacionalmente”.

FIM DO TRAUMA

O reconhecimento da roda de capoeira como Patrimônio Cultural da Humanidade é uma oportunidade para que os brasileiros repensem na imagem que fazem do exterior. “Somos marcados pelo ‘complexo de vira-latas’. Temos neste reconhecimento uma chance a mais de melhorarmos nossa autoestima”, definiu Lourival.

O ‘Complexo de vira-latas’ mencionado pelo professor é referência a uma expressão do dramaturgo e escritor brasileiro Nelson Rodrigues. É uma referência à inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo.

O professor de história conclui que o reconhecimento internacional é uma oportunidade para repensar o projeto de sociedade através do jogo da capoeira de maneira criativa, deixando o coletivo prevalecer sobre o individualismo.

HISTÓRIA

A capoeira foi originada no século XVII. A prática tinha como um dos objetivos a sociabilidade entre os africanos escravizados. Era uma das formas que encontravam para lidarem com a violência sofrida durante pleno período de escravidão.

PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO

Apesar de ter recebido o título de Patrimônio Imaterial da Humanidade neste ano, a roda de Capoeira, assim como o Ofício dos Mestres de Capoeira foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Brasileiro pelo IPHAN, em 2008.

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