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Indústria contrai cerca de 10% e opera no nível mais baixo em 10 anos

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19/12/2015 09h47 – Atualizado em 19/12/2015 09h47

Produção da indústria de transformação caiu 9,6% no ano, até outubro

Da Redação

A piora da atividade econômica em 2015 empurrou a produção industrial brasileira a níveis de 10 anos atrás, provocando um estrangulamento do setor, que encolheu para uma mínima histórica em termos de participação no PIB (Produto Interno Bruto).

Dados da Tendências Consultoria Integrada, a partir dos números do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que no acumulado no ano até o 3º trimestre, a participação da indústria de transformação na composição total do PIB caiu para 11,4%, ante uma fatia de 11,7% em 2014.

Para 2016, as projeções apontam que essa participação irá ficar pela primeira vez abaixo de 10%.
A retração da indústria está diretamente relacionada à crise de confiança dos empresários e consumidores. O desânimo acaba afetando tanto as vendas e encomendas como os planos de investimento e de expansão da capacidade produtiva.

“A indústria é o setor mais afetado pela crise. Além de vir perdendo competitividade, a produção de setores como de veículos, máquinas e equipamentos é muito sensível à redução da confiança ou à paralisação dos investimentos”, afirma o analista da Tendências Rafael Bacciotti.

A produção industrial acumula queda de 7,8% no ano, até outubro (últimos dados divulgados pelo IBGE).
Na indústria de transformação (máquinas e bens de consumo), considerada a mais importante pelo efeito multiplicador na economia e por empregar o maior número de mão de obra formal e especializada, a queda no ano é de 9,6%.

Já no segmento de bens de capital, que inclui máquinas e equipamentos e que funciona como uma espécie de termômetro dos investimentos no país, o encolhimento é ainda mais profundo, de 24,5% – o maior da série histórica, iniciada em 2002.

PRODUÇÃO RECUA A NÍVEL DE 2005

O setor industrial está operando no nível mais baixo desde 2005, segundo levantamento da Tendências. Entre janeiro e outubro, o nível de produção da indústria de transformação ficou em 90,27 em número índice – pior patamar desde 2005, quando registrou nível de 89,35. O pico da série iniciada em 2002 foi registrado em 2013, quando chegou a 102,81 pontos.

O encolhimento ocorre mesmo diante da desvalorização do real frente ao dólar e à queda das importações, o que, em tese, contribui para uma maior competitividade da produção nacional.
O analista de bens de capital da tendências, Felipe Beraldi, explica que a crise da indústria está diretamente relacionada à deterioração da demanda doméstica.

Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que o percentual de utilização da capacidade instalada foi de 77,7% em outubro. Há um ano estava em 81%. Na indústria de máquinas e equipamentos, o nível de uso da capacidade tombou para 66,4% – o pior desde 1980, segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).

“Temos observado em 2015, uma deterioração muito grande da confiança devido ao elevado grau de incertezas tanto no ambiente econômico quanto no político. E quando o empresário tem uma capacidade ociosa, ele segura o investimento”, diz Beraldi, acrescentando que a indústria de bens de capital também tem sido fortemente afetada pelos impactos da operação Lava Jato nos setores de petróleo e gás e infraestrutura.

Segundo estudo do Ministério da Fazenda, somente a redução dos investimentos da Petrobras implicou em uma queda de “2 pontos percentuais do PIB ao longo de 2015”.

Nas empresas, a queda das encomendas tem se transformado em corte de trabalhadores. Na RTS Válvulas, em Guarulhos, metade dos funcionários foram demitidos em 2015 após o faturamento cair cerca de 30%.
“Eu tive que fazer uma redução de 100 funcionários e diminuir também a jornada de trabalho por 4 meses”, conta o empresário Pedro Lúcio. “O plano para 2016 é tentar manter a porta aberta e a luz acesa”, completa.

Fabricante de válvulas do tipo borboleta e de retenção, a empresa tem entre seus principais clientes as indústrias dos setores de óleo e gás, saneamento, siderurgia e mineração. “Parou tudo. Não se tem mais negócio, mais projeto. O que eu vendo para a Petrobras hoje é 1% do que vendia nos anos anteriores”, diz o empresário.

SETORES MAIS AFETADOS

Os números do IBGE mostram que a crise na indústria é generalizada. Dos 26 ramos industriais analisados, apenas o das indústrias extrativas (mineração e petróleo) não registram queda em 2015. Mas a alta de 6,3% na produção veio acompanhada de uma forte queda nos preços internacionais do minério de ferro e do petróleo.
A queda mais acentuada na produção foi verificada nos setores de veículos automotores, reboques e carrocerias (-24,6%) e de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-29,2%).

Dados da Anfavea mostram que a produção de veículos recuou ao menor nivel desde 2006. No acumulado no ano, até novembro, a indústria automobilística acumula queda de 22,3% na produção, com 2,28 milhões de unidades fabricadas.

Outros ramos da indústria que registraram forte encolhimento em 2015 foram os de produtos têxteis (-13,7%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-13,3%), móveis (-13,2%) produtos de metal (-11,2%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-11,0%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (-10,1%).

(*) Correio do Estado

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