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sexta-feira, 26 de abril de 2024

BR-262 é “esquecida” e números de mortes só aumentam

07/08/2018 16h42

BR-262 é “esquecida” e números de mortes só aumentam

O que falta de acostamento e sinalização sobra em buracos e ondulações na pista; acompanhe um raio-x da rodovia que já era para ter sido reparada, mas que acabou esquecida

Gisele Berto

Todos os dias uma multidão circula pelos mais de 330 km da BR-262 que ligam Três Lagoas a Campo Grande. Calcula-se que cerca de 3 mil veículos façam, diariamente, esse trajeto.

Construída em 1982 a rodovia tornou-se uma das principais rotas de escoamento da produção do Estado. Com a chegada das indústrias de celulose, mudou o padrão dos veículos que utilizam a estrada: carros de passeio e caminhões convencionais dividem a estrada com quase 400 carretas carregadas de eucalipto, biminhões e treminhões, tornando o trajeto em suas vias uma perfeita mistura entre tensão, paciência e sorte.

No entanto, com o aumento do número (e do peso) dos veículos e a falta de investimentos em manutenção fizeram a rodovia merecer o apelido dado pelo Perfil News – Rodovia da Morte.

Especialmente no trecho entre Três Lagoas e Água Clara, trafegar pela rodovia é praticar roleta-russa: se você escolher desviar dos buracos pode cair no acostamento mais esburacado ainda (quando ele existe) ou invadir a faixa de contramão.

O trecho de volta de Campo Grande a Três Lagoas consegue ser ainda pior que o trecho de ida, e a razão é o peso das carretas de eucalipto, que vão vazias e voltam carregadas, sobrecarregando a pavimentação e requerendo ainda mais manutenção.

No ano passado 14 pessoas morreram nessas estradas, no trecho entre Três Lagoas e Campo Grande. Neste ano, o número já chega a oito – e pode ser ainda maior, que os dados informados pela Polícia Rodoviária Federal contabilizam apenas os óbitos no momento do acidente, não levando em consideração as pessoas que morrem em decorrência dos ferimentos.

E por que tantos acidentes acontecem e tantas vidas se perdem? A explicação pode estar na lentidão dos prazos e nos processos burocráticos.

AS OBRAS QUE NUNCA TERMINAM

Em setembro do ano passado, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) publicou o resultado da licitação para manutenção da rodovia que corta o Estado. Ao todo, os contratos de serviços de manutenção e restauração somam mais de R$ 178,7 milhões. Além disso, um outro contrato (nº 680/2017) cuja vencedora da licitação foi a empresa Pavidez Engenharia, foi firmado para manutenção dos trechos de divisa da travessia do Rio Paraná, entroncamento da MS-338 para Santa Rita do Pardo e o acesso à ponte rodoviária do lado de São Paulo, do segmento do Km 0 ao KM 191,2 e KM 318,70 ao KM 322,14, numa extensão de 194,65 quilômetros.

O DNIT-MS contratou o Consórcio Ethos/Pavidez/Spazio por R$ 149.999.999 para restauração do asfalto da BR-262. O resultado do RDC (Regime Diferenciado de Contratação) foi divulgado no Diário Oficial da União.

O Departamento havia divulgado que as obras teriam início até março deste ano, após o período de chuvas. Depois, passou para maio; então junho e por fim, julho. Como entramos em agosto e, até agora, nem sinal das obras, o Perfil News entrou em contato com o DNIT, mas o Departamento não conseguiu responder em tempo hábil. O jornal publicará a resposta tão logo o órgão encaminhe.

Diferente da licitação, quando o órgão fornece o projeto executivo, a contratação integrada da empresa prevê a elaboração dos projetos básico, executivo e a obra em si do remanescente da restauração da rodovia, com melhoramentos e adequação da capacidade da estrada.

Os trechos da BR-262 a serem restaurados seriam os segmentos do quilômetro 4 ao quilômetro 8,94, de pista dupla, e do km 8,94 ao km 191,10, em pista simples. São 187,10 de pista, em extensão total de 192,04 km na região de Três Lagoas, até o entroncamento com a MS-338.

No entanto, neste modelo de contratação, o valor global da obra não é informado pelo órgão e é tratado como sigiloso. Venceu, no caso, o consórcio por ter ofertado o menor valor previsto. O prazo de execução da obra seria de 900 dias.

A empresa foi contratada por RDC – Regime Diferenciado de Contratações Públicas que não é uma modalidade de licitação. Foi um instrumento criado para grandes obras que precisam ser executadas pelo Governo Federal em um curto prazo de tempo, visando a Copa do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016).

Criticado por especialistas, o RDC apresenta maiores riscos para as empresas sobre as garantias da obra, assim como abandono do projeto, caso ele se torne inviável.

Acidente no final de julho deixou duas pessoas mortas, sendo uma criança. Mulher que morreu no hospital não entrou nas estatísticas de mortes na estrada, já que a PRF contabiliza apenas os que perdem a vida no local. Foto: Marcia Hellen

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