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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Gordura pode oferecer chave para síndrome de Lou Gehrig

23/09/2002 13h00 – Atualizado em 23/09/2002 13h00

O exame da medula espinhal de vítimas da síndrome de Lou Gehrig apresentou resultados surpreendentes para os cientistas que buscam explicações sobre essa doença fatal. As mesmas células que a doença ataca têm um depósito anormal de substâncias gordurosas.

A descoberta levou a um questionamento: será que bloqueando de algum modo a formação de gordura seria possível amenizar a inexorável paralisia causada pela doença?

O neurocientista Mark Mattson, do Instituto Nacional de Saúde, dos Estados Unidos, está tentando encontrar a resposta. Ele injetou em ratos destinados geneticamente a desenvolver a síndrome de Lou Gehrig uma droga experimental que parece bloquear os lipídios anormais.

Mas ainda serão necessários muitos anos para que a droga possa ser testada em seres humanos. Ninguém sabe o que causa a síndrome de Lou Gehrig e várias tentativas recentes de tratamento fracassaram.

Assim sendo, qualquer nova chave é bem-vinda e todos observam o resultado do trabalho de Mattson com um misto de esperança e cautela.

“Parece interessante, mas já houve pistas falsas antes”, diz o Dr. Daniel Newman, do Hospital Henry Ford, em Detroit.

O especialista trata pacientes com a síndrome, formalmente conhecida como esclerose lateral amiotrófica (E.L.A).

Entre os pacientes, porém, a descoberta já causou especulações sobre a possibilidade de a dieta ter um papel importante no desenvolvimento da doença. Afinal, há pouco tempo pesquisadores descobriram uma ligação entre dietas ricas em gordura e outra doença neurológica, o mal de Alzheimer.

O Instituto Nacional de Saúde vai estudar se a ingestão de alguns ácidos gordurosos afetam a E.L.A, mas os especialistas mais céticos estão alertando seus pacientes para que não façam alterações drásticas em sua dieta.

A síndrome de Lou Gehrig afeta 30 mil norte-americanos. A doença destrói os neurônios do cérebro e da medula espinhal, paralisando progressivamente suas vítimas, que morrem em cerca de cinco anos.

A paralisia acaba por impedir que a pessoa coma ou respire. Os tratamentos disponíveis apenas prolongam a vida por cerca de três meses.

Numa pequena proporção, a E.L.A é uma doença hereditária, mas a causa da maioria dos casos permanece um mistério.

A doença costuma atacar pessoas na faixa dos 50 anos de idade. O Dr. Mattson sabia que a forma como o organismo metaboliza os lipídios muda com a idade. Além disso, mudanças nos lipídios dentro das células são importantes causas para a morte da célula.

Por isso, o Dr. Mattson decidiu examinar o nível dos lipídios nos portadores de E.L.A.

Os cientistas descobriram que a medula espinhal dos portadores da síndrome abrigam um nível muito mais alto de vários lipídios do que a dos pacientes saudáveis.

Se o colesterol apresentou alguma elevação dentro das células, o que causou mais preocupação foi o nível de lipídios chamados ceramidas, um bioproduto de uma gordura importante no isolamento das células nervosas.

Isso sugere que as ceramidas têm papel crucial na degeneração dos neurônios. Mas o que causa a formação de gordura?

A autópsia dos tecidos não revela quando as gorduras anormais aparecem. Então, o Dr. Mattson resolveu estudar os ratos geneticamente alterados para terem a doença – e descobriu que os níveis de ceramida crescem antes que os ratos apresentem sintomas da E.L.A.

O cientista expôs as células nervosas dos ratos a radicais livres – substâncias químicas produzidas durante o metabolismo e que se supõe que causem danos às células.

Há muito se supunha que os radicais livres tinham seu papel no desenvolvimento da síndrome de Lou Gehrig.

Na experiência de Mattson, publicada na edição deste mês da revista Annals of Neurology, os radicais livres levam as ceramidas a aumentar dentro dos neurônios.

O Dr. Mattson soube ainda que pesquisadores de câncer estavam experimentando uma droga chamada ISP-1, que bloqueia a produção da gordura que se transforma em ceramidas.

Ele usou a droga para tratar neurônios dos ratos e as expôs em seguida a radicais livres. As células tratadas com a droga permaneceram saudáveis, com baixos níveis de lipídios.

Agora, o neurocientista está dando ISP-1 aos ratos para ver se a droga retarda a paralisia.

Porém, ainda que a teoria do Dr. Mattson esteja correta, é muito cedo para saber se a dieta pode ter um papel no desenvolvimento da síndrome de Lou Gehrig.

Afinal, somente nos Estados Unidos milhões de pessoas têm colesterol alto e relativamente poucas desenvolvem a doença.

(Com informações da Associated Press)

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