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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Ônibus 499: ambulante se diz arrependido e pede perdão

11/11/2006 15h24 – Atualizado em 11/11/2006 15h24

Estadão.com

Depois de passar mais de dez horas apontando uma arma para a ex-mulher Cristina Ribeiro dentro do ônibus 499, o ambulante André Ribeiro, já na 52ª Delegacia Policial, no Rio de Janeiro, se disse muito arrependido, chorou copiosamente e pediu perdão à ela e aos três filhos do casal.

O advogado Flávio Augusto Campos Fernandes, que defende Ribeiro, contou que ele está profundamente abalado pelo que fez. O ambulante está preso na unidade policial numa cela com outras dez pessoas, homens acusados de não pagar pensão alimentícia aos filhos. “Tivemos o cuidado de não deixá-lo sozinho numa cela porque existe o risco de ele se matar”, disse Fernandes.

Ribeiro não prestou depoimento à polícia, orientado pelo advogado. “Ele não está falando coisa com coisa”. O vendedor foi autuado por lesão corporal, segundo Fernandes, mas não por seqüestro. Segundo ele, as testemunhas afirmaram que permaneceram no coletivo por vontade própria, para resguardar Cristina e até mesmo Ribeiro. “Parece até Síndrome de Estocolmo (quando vítimas de seqüestro se afeiçoam aos seqüestradores)”, disse.

Fernandes criticou a ação policial, qualificada por ele como “desmedida”. “Foi uma palhaçada. Mise-en-scène puro. O Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) é uma unidade que atua contra traficantes armados de fuzis e todo mundo sabia que se tratava de um trabalhador”, afirmou o advogado. O drama aconteceu na Rodovia Presidente Dutra, próximo a Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

 

Discussão sobre tipo de crime

Policiais e promotores discordam quanto à tipificação do crime cometido por Ribeiro. Policiais civis que o autuaram consideram que houve sim cárcere privado (o que na prática, segundo o Código Penal, é o mesmo que seqüestro) – mesma opinião de promotores ouvidos pelo Estado.

No entanto, o promotor Carlos Guilherme Santos Machado, que, apesar de não ter atribuição para cuidar do caso ajudou nas negociações, considera que ele não deve responder por seqüestro. Isso porque, segundo ele, os passageiros ficaram no coletivo porque quiseram.

Procurada pelo Estado a família de Ribeiro não foi encontrada. Cristina, que foi acolhida por parentes, que tentam preservá-la devido ao abalo emocional, também não foi localizada. Depois que deixou o ônibus, ela foi atendida no Hospital da Posse.

 

Horas de tensão

Após uma noite mal dormida, a técnica de enfermagem C., de 38 anos, que preferiu não ter a identidade divulgada, contou as horas de tensão que viveu. Ela discorda do advogado, quando ele diz que os passageiros tinham liberdade de ir e vir. “Ele (Ribeiro) não disse que nós tínhamos de ficar. Mas também não nos deixava sair”, explicou. “Quem ia colocar a cabeça a prêmio? Ninguém pode ficar tranqüilo ao lado de uma pessoa armada, descontrolada e de comportamento oscilante”. C. disse ainda que Cristina foi muito humilhada. “Ele esfregava a arma nela, xingava com todas as palavras de baixo calão que se possa imaginar”, afirmou.

A técnica de enfermagem destacou a confusão mental em que Ribeiro se encontrava. “Ora ele conversava com a gente nos tranqüilizando de que nada ia acontecer. Ora nos mandava calar a boca. Dizia `eu amo essa desgraçada´ e depois batia muito nela”. C., que em junho de 2000 assistiu pela TV o drama dos passageiros do ônibus 174, seqüestrado no Jardim Botânico, revelou que nas cinco horas em que ficou no 499 só pensavam nas imagens do outro seqüestro.

“Na minha cabeça passaram dois filmes. O do 174 e o do ônibus queimado”, contou, fazendo referência ao ônibus 350 incendiado a mando de traficantes na Zona Norte do Rio há um ano. C. está sob medicação e não foi trabalhar ontem por falta de condições emocionais.

Já Adriano de Souza Oliveira, 26 anos, que trabalha no departamento de vendas das Lojas Americanas, não pôde tirar o dia de folga. Sua mãe, a dona de casa Maria de Fátima Oliveira, de 47 anos, contou que o rapaz ficou muito impressionado com o que ele viu. “Ele viu crianças chorando, senhoras passando mal, cenas horríveis. Disse que não vai esquecer”. Maria de Fátima entrou em pânico quando viu pela TV que o ônibus seqüestrado era o que seu filho costumava pegar para ir ao trabalho. Ela foi para o local para acompanhar de perto o desfecho. “Fomos eu, a mulher dele e o filho de um ano e meio. Tínhamos de estar lá”, afirmou.

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