11/12/2002 16h56 – Atualizado em 11/12/2002 16h56
SANAA (CNN) – Os Estados Unidos permitirão que o Iêmen retome a posse de um carregamento de 15 mísseis Scud apreendido por forças espanholas e norte-americanas em um navio que havia zarpado da Coréia do Norte e trafegava pelo Oceano Índico.
O anúncio foi feito por autoridades iemenitas depois que o governo do país protestou contra a invasão do navio, afirmando que os mísseis haviam sido comprados por meios legais e teriam objetivo exclusivo de defesa.
O governo norte-americano reconheceu que não há qualquer lei internacional que autorize a apreensão de armas convencionais que não sejam consideradas proibidas pelos tratados em vigor.
Por outro lado, Washington também alegou não haver nada que proibisse explicitamente tal apreensão.
A operação, realizada na última segunda-feira e revelada no dia seguinte, deu origem a consultas urgentes entre autoridades norte-americanas e iemenitas.
No Pentágono, funcionários disseram que, antes da invasão do navio, autoridades do Iêmen haviam negado que o carregamento de armas lhe pertencesse.
Uma importante autoridade norte-americana disse, em entrevista à CNN na manhã desta quarta-feira, que os Estados Unidos estavam “99 por cento certos” de que o destino original do navio, sem bandeira, seria o Iêmen.
Os Estados Unidos defenderam a operação, classificando-a como coerente com a nova política do governo do presidente George W. Bush, que prevê a interdição de navios transportando armas capazes de provocar destruição em massa.
O governo iemenita divulgou uma nota de protesto formal pela apreensão do navio, encaminhada à embaixada norte-americana.
“O carregamento faz parte de contratos assinados há algum tempo”, disse a agência de notícias oficial Saba, citando o ministro das Relações Exteriores Abubakr al-Qaribi. “Ele pertence ao governo iemenita e a seu Exército e tem objetivos de defesa”.
A agência informou ainda que o chanceler havia convocado a chefia da missão diplomática norte-americana em Sanaa para apresentar um protesto formal.
“O ministro das Relações Exteriores ressaltou a importância da devolução do carregamento ao governo iemenita”, acrescentou.
EUA criticam Pyongyang
Horas antes, ao iniciar uma visita à China, o subsecretário de Estado norte-americano Richard Armitage havia declarado que a descoberta dos mísseis a bordo do navio, o So San, confirmava a suspeita dos Estados Unidos de que Pyongyang prolifera armas.
“Obviamente, as autoridades norte-americanas já suspeitavam disso há algum tempo”, afirmou.
“A Coréia do Norte, como a doutora (Condoleezza) Rice, a nossa assessora de Segurança Nacional, já disse em diversas ocasiões, é um dos países que mais proliferam armas e parece que eles estavam ocupados, proliferando de novo”, acrescentou o subsecretário.
A notícia sobre a interceptação veio à tona na noite de terça-feira, quando autoridades do Pentágono disseram que especialistas em armas encontraram mísseis Scud no cargueiro, que foi abordado pela Marinha espanhola, com apoio norte-americano, no Oceano Índico, a sudeste do Iêmen.
Nesta quarta-feira, o navio foi entregue a autoridades militares norte-americanas, que o estavam levando para a base naval de Diego Garcia, no Oceano Índico.
O governo espanhol informou que 15 mísseis Scud e 85 contêineres de produtos químicos não identificados foram encontrados a bordo da embarcação.
Os Scud são mísseis que o presidente iraquiano Saddam Hussein utilizou para atacar tanto a Arábia Saudita como Israel durante a Guerra do Golfo, em 1991.
O serviço de inteligência dos Estados Unidos estava monitorando o navio desde sua saída da Coréia do Norte, há alguns dias, com destino à região do Mar da Arábia, segundo as autoridades norte-americanas.
O cargueiro foi interceptado na segunda-feira por dois navios de guerra espanhóis, que patrulham essa região do Oceano Índico. A embarcação ainda tentou fugir, levando os barcos espanhóis a fazer disparos de advertência.
Uma comissão espanhola abordou o navio e começou a inspecionar a carga, que seria de cimento, segundo seus tripulantes.
Mas, após uma inspeção detalhada, foram encontrados, em vez de cimento, contêineres com as peças dos mísseis.
Os espanhóis decidiram pedir ajuda a especialistas dos Estados Unidos, que enviaram uma equipe de remoção de artilharia.
Cada míssil é avaliado no mercado negro em cerca de quatro milhões de dólares.
Quanto à propriedade ou nacionalidade do navio, um alto funcionário norte-americano disse à CNN que “parece ser uma embarcação sem bandeira”.
Tensões entre Washington e Pyongyang
Em agosto passado, o presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, confirmou que o país havia comprado mísseis balísticos táticos Scud-C (conhecidos pela sigla em inglês TBMs) da Coréia do Norte, entre 1999 e 2000, de acordo com a publicação especializada Janedocument.write Chr(39)s Defense Weekly.
Saleh defendeu a compra como sendo uma legítima transferência de armas porque seu país não está sob nenhuma proibição de importação de equipamentos bélicos, ainda segundo a Janedocument.write Chr(39)s.
Embora o cargueiro estivesse sem bandeira, as autoridades espanholas disseram que seus 21 tripulantes são norte-coreanos.
A notícia sobre a interceptação do navio surgiu em meio a uma crescente tensão nas relações entre os Estados Unidos e a Coréia do Norte.
Em outubro passado, a Coréia do Norte admitiu que estava desenvolvendo armas nucleares, apesar de sua concordância, em 1994, em congelar seu programa nuclear para fins militares.
Na semana passada, o secretário da Defesa norte-americano Donald Rumsfeld chamou a Coréia do Norte de “o país que mais prolifera mísseis balísticos” e disse que o regime de Pyongyang é “uma ameaça para o mundo”.
Fonte: CNN