04/12/2002 09h28 – Atualizado em 04/12/2002 09h28
Pesquisadores revelaram que podem ter descoberto o crânio mais antigo das Américas: uma mulher de face alongada que morreu há cerca de 13.000 anos, que recebeu o nome de “Mulher de Peñon III”.
Até então, os dois crânios considerados mais antigos eram um encontrado no Brasil, com idade estimada de 11.500 anos, que recebeu o nome de Luzia, e outro descoberto em Idaho, Estados Unidos, que cientistas dizem ter entre 10.500 e 11.00 anos, chamado “Buhl Woman”.
O crânio descoberto no México, chamado da “Mulher de Peñon III”, estava junto a outros ossos e foi encontrado durante escavações nas proximidades do aeroporto internacional da Cidade do México, segundo os pesquisadores.
Como os resíduos foram descobertos fora dos Estados Unidos, os especialistas poderão analisar seu DNA e a estrutura do esqueleto sem a objeção de grupos nativos de índios americanos, que têm direito de reclamar e voltar a enterrar restos de seus ancestrais, de acordo com uma lei norte-americana de 1990.
Foi o que aconteceu com o crânio da “Mulher de Buhl”, encontrado em 1989, em uma escavação em Idaho. Os pesquisadores tiveram pouca oportunidade de estudar esses ossos, pois a tribo indígena Shoshone-Bannock reclamou sua propriedade e voltou a enterrá-los.
“Aqui, no México temos a oportunidade de estudar as pistas que esses ossos trazem sobre a chegada do homem ao continente americano”, disse o antropólogo mexicano José Concepción Jiménez López.
A “Mulher de Peñon III”, que os cientistas acreditam ser, atualmente, o mais antigo crânio do Novo Mundo — encontrava-se no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México desde 1959.
Insistência
Há algum tempo, a geóloga Silvia González passou a insistir que esses ossos seriam mais antigos que o calculado anteriormente.
Assim, o crânio foi levado à Universidade de Oxford, na Inglaterra, onde testes de radiocarbono provaram que González estava correta.
Os cientistas acreditam que a “Mulher de Peñon” morreu entre 12.700 a 13.000 anos atrás, com a idade de 27 anos.
Incentivada com sua descoberta, González tentará, agora, provar sua teoria de que os ancestrais da “Mulher de Peñon” são japoneses Ainu e não os índios americanos.
Sua hipótese, segundo explicou, tem como base o alongado e estreito crânio da “Mulher de Peñon”.
“Os índios americanos possuem face arredondada e bochechas largas; bem diferente da “Mulher de Peñon”, disse a geóloga.
González também acredita que os descendentes da tribo Ainu chegaram ao Novo Mundo em barcos.
Polêmica
“Se conseguir provar essa teoria, será bem contenciosa”, disse a geóloga, que é professora da Universidade John Moores, na Inglaterra, e recebeu uma bolsa do Governo britânico, na semana passada, para conduzir sua pesquisa.
“Vamos dizer aos índios americanos que, talvez, algumas outras pessoas, sem relação com eles, chegaram nas Américas antes deles”.
A teoria de González é polêmica, mas está ganhando crédito nos meios científicos, onde, até agora, muitos acreditavam que audazes caçadores de mamutes foram os primeiros a chegar às Américas, entre 14.000 e 16.000 atrás, cruzando para o Alasca através da Sibéria.
González e outros cientistas acreditam que os primeiros seres humanos chegaram ao continente americano há 25.000 anos.
As evidências para tal foram encontradas em campos de escavações no Chile, como ferramentas feitas por homens, pegadas humanas e até cabanas, datadas de mais de 25.000 anos e que poderiam provar a chegada do ser humano ao continente muito antes dos caçadores de mamutes.
González irá embarcar em uma jornada de três anos para provar sua teoria. Em seu roteiro está a Baixa Califórnia, onde estudará a tribo Pericue, que também possuía a mesma face alongada da “Mulher de Peñon”.
Ela disse acreditar que os Pericue, que por razões desconhecidas foram extintos no século 18, podem ter as respostas para a migração litorânea do homem da Ásia para a América.
Os ossos da “Mulher de Peñon” terão seu DNA extraído e comparado com o material genético dos Pericue, explicou González.
Os cientistas também esperam poder estudar as fibras de tecidos encontradas perto do crânio para tentar descobrir como a mulher morreu.
González disse que o esqueleto não possui sinal algum de feridas ou lesões evidentes.
“Ainda temos um longo caminho”, disse a geóloga. “Mas, já começamos bem”.
Fonte: CNN