21/11/2002 15h57 – Atualizado em 21/11/2002 15h57
Jovens muçulmanos queimaram igrejas, saquearam lojas e destruíram veículos hoje em Kaduna, no norte da Nigéria, em protesto contra a realização do concurso de Miss Mundo no país.
As autoridades impuseram toque de recolher na cidade e enviaram militares para ajudar a polícia. Segundo testemunhas, pelo menos duas pessoas morreram no incidente.
“Na rua, posso ver uma igreja pegando fogo na área de Malali-Badarawa. Contei pelo menos dez igrejas queimadas. Vi e filmei dois corpos nas ruas”, disse um morador.
A realização do concurso de beleza na Nigéria provocou polêmica entre os muçulmanos, e a recíproca foi a mesma, já que várias candidatas ameaçaram boicotar o evento em protesto contra a condenação à morte de mulheres por tribunais islâmicos do norte do país.
Shehu Sani, militante dos direitos humanos em Kaduna, disse que ouviu relatos de que até nove pessoas morreram, mas que ele mesmo viu apenas um cadáver. “O tumulto assumiu uma nova dimensão”, afirmou.
Segundo Sani, algumas pessoas envolvidas na manifestação parecem estar buscando alvos políticos. “O shopping center que pertence ao governador e carros da sua campanha também foram queimados”, declarou.
Os protestos começaram ontem por causa de uma reportagem de jornal que associava o nome do profeta Maomé ao concurso. Rapidamente, a situação evoluiu para uma manifestação genérica contra o evento, marcado para 7 de dezembro na capital, Abuja.
A entidade Umma Muçulmana Nigeriana declarou “séria emergência religiosa” e pediu formalmente ao governo que cancele o concurso, apontado pelos muçulmanos como “um desfile de nudez”.
Segundo testemunhas, centenas de jovens irados, gritando “Allahu Akbar [Deus é grande, em árabe]” foram à sede do jornal “This Day”, que no sábado publicou o artigo considerado profano.
Hoje o jornal publicou na primeira página um pedido de desculpas, dizendo que o artigo foi publicado por engano. Mas isso não acalmou os muçulmanos, que são maioria no norte do país e decretaram a proibição do jornal.
O concurso de beleza é o maior evento de entretenimento já feito no país. As autoridades esperam que ele ajude a melhorar a imagem da Nigéria, abalada pela condenação à morte por apedrejamento de Amina Lawal, 31, que tem um filho de uma relação extra-conjugal.
O governo garantiu que nenhuma mulher será apedrejada, e depois disso cerca de 90 candidatas desembarcaram na Nigéria, na semana passada, muitas delas expressando apoio a Lawal e a outras mulheres condenadas por adultério pela lei islâmica.
A situação é tensa também em outras cidades do norte da Nigéria. Moradores disseram que a polícia está de prontidão em Kano, onde conflitos religiosos são frequentes.
Fonte: Reuters