28/03/2006 11h34 – Atualizado em 28/03/2006 11h34
BBC Brasil
A queda do ministro Antonio Palocci foi destacada nesta terça-feira pelos principais jornais internacionais, em reportagens que comentam o seu enfraquecimento nos últimos dias em meio ao escândalo de corrupção.
“Enfrentando a possibilidade de um longo e politicamente danoso processo de impeachment, o ministro da Fazenda do Brasil, Antonio Palocci, renunciou na segunda-feira, como a última vítima de um escândalo de corrupção que vem debilitando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo por quase um ano”, diz a reportagem publicada pelo New York Times.
O jornal americano observa que sua renúncia ocorreu quando os mercados financeiros no Brasil já estavam fechando, mas que ainda assim não se espera uma reação negativa após a reabertura nesta terça-feira.
“Insustentável”
O espanhol El País destaca a figura de Palocci como “superministro” durante grande parte do governo Lula, dizendo que ele “se manteve de pé após a chuva de acusações de corrupção durante seu mandato como prefeito de Ribeirão Preto”.
“Porém, sua situação se tornou insustentável depois que Francenildo Costa, o caseiro de um local alugado em Brasília por três assessores do ministro, assegurou tê-lo visto visitar em 2004 a mansão, onde supostamente faziam festas e dividiam fundos provenientes de subornos”, diz o jornal.
O diário espanhol comenta ainda sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro após suas declarações na comissão de inquérito do Congresso, no que o presidente do Supremo Tribunal Federal, Nelson Jobim, considerou como “o fato mais grave cometido numa democracia”.
Outro jornal espanhol, El Mundo, observa que os problemas de Palocci “vinham de longe”, desde antes do início do escândalo do mensalão, mas que sua situação piorou “com as recentes declarações de um caseiro de uma casa localizado em Brasília ¿ onde aparentemente Palocci e alguns de seus colaboradores se reuniam para fazer negócios e festejar com prostitutas ¿ e a péssima defesa elaborada pelos assessores do ministro”.
O argentino La Nación, por sua vez, diz que Palocci estava “encurralado pelas denúncias de corrupção contra ele e impotente para conter o escândalo que o cercava”.
Para o jornal, a saída do “homem forte” de Lula deixou o presidente “mais isolado e sem mais um de seus principais colaboradores, a quem havia defendido com unhas e dentes, quando faltam somente seis meses para a eleição”.
A reportagem do diário argentino comenta que, sob o comando de Palocci, a economia brasileira teve “o menor nível de aumento em comparação com o resto das economias emergentes do mundo”.
O jornal observa ainda que a renúncia deixa Palocci “à beira da morte política, algo impressionante para quem era visto até o ano passado como um possível sucessor de Lula”.
Para o também argentino Clarín, a renúncia de Palocci é “uma expressão renovada da crise política, que o presidente Lula não pôde frear”. O jornal observa que, com sua condição de “garantidor” da estabilidade econômica, “a oposição a Lula não havia se animado até agora a tocá-lo”.
O Clarín comenta que o escolhido para suceder Palocci no ministério, Guido Mantega, é um membro “histórico” do Partido dos Trabalhadores que “assessora Lula desde 1993 e não tem o perfil de seu antecessor: há pouco criticou o ex-ministro por manter as taxas de juros em níveis tão elevados que convertem o Brasil em campeão mundial em matéria de juros”.
O jornal observa que os mercados financeiros permaneceram “tranqüilos” na segunda-feira, “aparentemente descartando que a queda de Palocci possa provocar uma virada radical na política econômica do governo”.
A análise de um comentarista do jornal observa que Lula sustentou Palocci o quando pôde, mas que “em ano eleitoral, os riscos de que as denúncias de corrupção colassem na campanha eram altos demais”.
Para o comentarista, apesar dos perfis diferentes, Mantega deve manter a política de Palocci. “Com as eleições de outubro no horizonte, Lula não parece disposto a gerar sofrimentos”, conclui.