34 C
Três Lagoas
sexta-feira, 26 de abril de 2024

Consórcio UFN3 promove demissão em massa em Três Lagoas

16/10/2014 18h39 – Atualizado em 16/10/2014 18h39

Além da demissão em massa, trabalhadores desligados reclamam de não receberem verbas rescisórias

Nova onda de reclamações de fornecedores e demissões em massa, mais de 2.500 colaboradores, assola a edificação da indústria de fertilizantes da Petrobras, que surgiu como um advento promissor em termos de economia para Três Lagoas e região, mas que agora vem caindo no descrédito

Léo Lima e Ricardo Ojeda

A edificação da maior fábrica de fertilizantes nitrogenados da América Latina, a UFN3, foi um dos adventos mais importantes em termos de fortalecimento da economia local, ao lado da chegada das indústrias de celulose e papel. A prosperidade da obra bilionária (em torno de R$ 4 bilhões), desde o anúncio e início da construção, em 2011, alvoroçou o meio empresarial de Três Lagoas, sede do empreendimento, inclusive movimentando o comércio e assanhando fornecedores. No entanto, passada essa fase de euforia, a realidade se mostrou outra, pelo desempenho da administração do Consórcio, prevalecendo desgostos, compromissos não cumpridos e fornecedores “a ver navios” pela falta de recebimento dos serviços e produtos prestados.

Três grandes empresas ganharam a concorrência para edificar o empreendimento – GDK, Sinopec e Galvão Engenharia. Após a conclusão de 40% das obras, que ocuparam cerca de seis mil trabalhadores, a GDK deixou o canteiro de obras, sem que as razões fossem informadas pela direção do Consórcio.

Quando as obras alcançaram algo em torno de 70% do projetado, teve início o processo caloteiro da direção do Consórcio que começou a atrasar o pagamento aos fornecedores (alimentação, alojamento, fornecedores, entre outros serviços), dando um prejuízo na região em torno de R$ 100 milhões; só em Três Lagoas, foram R$ 50 milhões que não foram pagos aos fornecedores locais, deixando-os em uma situação de dificuldade para honrar, também, os compromissos assumidos com a montagem de infraestrutura para atender a demanda de serviços.

Por conta disso, os fornecedores formaram uma comissão que se reuniu com a Associação Comercial e Empresarial de Três Lagoas para tentar uma negociação com a direção do Consórcio, o que foi realizado. Porém, somente alguns fornecedores receberam o pagamento, mas de forma escalonada; outros, até o momento continuam buscando seus direitos.

Quando um fornecedor tenta negociar com o Consórcio, assuntando prazo para receber os serviços prestados, a resposta é: “posição é de indisponibilidade de pagamento”.

DEMISSÕES

Não bastasse o não cumprimento das dívidas com os fornecedores, o Consórcio começou a demitir trabalhadores, num processo preocupante por conta do volume de colaboradores desligados. A cada mês, o anúncio de centenas de trabalhadores demitidos. As demissões em massa provocaram revolta aos que vieram de outros estados em busca de sustento às famílias.

A reportagem do Perfil News, para levantar informações a respeito, foi ao Sintricom (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Imobiliário, Cerâmica e Montagem de Três Lagoas e Região) e junto com representantes da entidade esteve em um dos alojamentos na área urbana, onde foi constatada a demissão em massa que está novamente ocorrendo. “Só aqui nós somos uns cem [trabalhadores demitidos] e estamos à espera do acerto”, contou um alojado, que não quis ser identificado por receio de represálias.

De acordo com informações repassadas pelos próprios trabalhadores aos sindicalistas, mais de 2.500 colaboradores do Consórcio já foram demitidos e estão aguardando a rescisão trabalhista no alojamento Comodato, instalado próximo da fábrica, na BR-158. “Já pensou se esse pessoal vem para a cidade”, questionou preocupado um alojado na área urbana.

“Existe muita gente alojada em hotéis sem receber pagamento. A rescisão está demorando até um mês para ser paga e depois mais 20, 25 dias para pagamento da multa”, colocou o advogado Valdisnei Delegado, do Sintricom.

Leia no arquivo abaixo a Nota de Esclarecimento do Sindicato

DESABAFO

No alojamento urbano localizado na saída para Campo Grande, as histórias de desilusão com o sonho de poder ter recursos para mandar para a família se avolumam. No semblante dos alojados, a indignação e revolta estão estampados. “Estamos a ver navios”, comentou um trabalhador demitido. Para ele, outra situação o preocupa, assim como aos demais: a pressão que vem sofrendo por causa da presença constante da polícia a vigia-los. “Não somos bandidos, precisamos é sustentar nossa família, temos dívidas para pagar e não temos previsão de receber”, reclamou o baiano, que está há oito meses em Três Lagoas.

Outro trabalhador alojado no mesmo lugar disse que está há três meses na cidade. Desde que chegou estava aguardando ser “fichado”. Mesmo sem ter trabalhado um dia sequer, foi desligado. “Mesmo assim, na rescisão, descontaram faltas ao serviço, sem que eu estivesse trabalhando”, contou ele, ao comentar sobre problemas que teve na feitura do documento rescisório. “Meu acerto era para o dia 3 deste; tenho dois filhos, sou casado, e não tenho dinheiro para mandar para casa”, lamentou, acrescentando que já tem emprego em vista e como não está liberado por conta da rescisão não pode viajar para o local onde vai trabalhar.

Todos os entrevistados não quiseram ter o nome revelado por receio de que possam sofrer retaliações. “Me sinto preso”, resumiu outro baiano demitido.


Acompanhando a diretoria do Sintricom a reportagem do Perfil News foi até um alojamento conversar com os trabalhadores demitidos que denunciaram estarem há mais de 30 dias sem receber as verbas rescisórias (Foto: Léo Lima)

Em junho do ano passado,por melhores condições salariais e de trabalho, operários paralisaram durante 30 dias o canteiro de obras (Foto: Arquivo/Ricardo Ojeda)

Muitos colaboradores desligados do Consórcio reclamam que não podem seguir viagem para seus estados de origem devido a falta do acertos rescisórios (Foto: Léo Lima)

Sem acordo com a direção do Consórcio as obras ficaram paralisadas durante 30 dias em junho do ano passado e com a recente demissão em massa promovida pela empresa o cronograma de empreendimento pode ficar comprometido mais uma vez (Foto: Arquivo/Ricardo Ojeda)

Leia também

Últimas

error: Este Conteúdo é protegido! O Perfil News reserva-se ao direito de proteger o seu conteúdo contra cópia e plágio.