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Religião não se vende em prateleiras

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10/09/2008 14h18 – Atualizado em 10/09/2008 14h18

*Pe. Wagner Ferreira

Abraçar uma religião é, segundo dados estatísticos da Pew Global Attitudes Project, mais importante para os países em desenvolvimento do que para as nações prósperas – do ponto de vista econômico. Mesmo assim, enquanto 59% dos norte-americanos crêem que a religião é importante em suas vidas, esse índice é bem menor em países como Alemanha (21%), França (12%) e Japão (11%).

O Brasil aparece como o segundo país na América Latina que mais cultiva a religiosidade, perdendo apenas para a Guatemala – 77% contra 80%, respectivamente. Espanta, também, que de cada três italianos apenas um se assuma católico, dado curioso ao considerarmos a presença do Vaticano na Itália.

Uma rápida análise sociocultural aponta para o crescimento do secularismo. Trata-se de um fenômeno característico da chamada pós-modernidade, na qual a pessoa humana, desconfiada das seguranças científicas afirmadas pelo racionalismo moderno, busca respostas no mundo sobrenatural. Parece que Deus estava “dormindo”, mas não “morto”, como afirmavam alguns. Em função disso, contempla-se uma “emergência espiritual”, acompanhada, segundo alguns sociólogos da religião, do “mercantilismo religioso”: a religião considerada produto.

Neste “mercado das crenças”, compreende-se o “trânsito religioso”, uma vez que nem sempre essa ou aquela religião consegue atender às necessidades imediatas da pessoa. Nas “prateleiras” do “mercado religioso”, tudo o que for soft é bem-vindo, atrairá mais clientes. Caso o cliente não se satisfaça, basta mudar para uma outra religião. Sem cairmos na tentação de absolutizarmos tal fenômeno, é como se a crença estivesse condicionada ao efeito rápido, como o de um medicamento.

Será que o desenvolvimento econômico, implicado também nas conquistas científicas das famosas mutações genéticas, tem conseguido transformar a religião em ópio do povo? Sem culpabilizarmos quem quer que seja, esse mercado religioso – que se vale do marketing do “é pra já” – tem se aproveitado da fragilidade de pessoas interessadas em buscar segurança em um mundo de rápidas mudanças.

Se antes a religião entrava na vida de uma pessoa pela fidelização cultural e familiar, hoje é por opção. Quantas pessoas se dizem católicas porque foram batizadas, mas não sabem o que é freqüentar a Missa aos domingos ou mesmo recorrer a Deus através da oração? Alguns sequer entendem o significado da fé cristã. O que fazer, então?

A resposta para o Catolicismo está na evangelização. Cada vez mais, percebemos que, ao ser realmente evangelizado, o fiel apresenta uma impressionante qualidade de vida cristã, acompanhada do testemunho da fé. A partir do momento que ele entende Quem é o Caminho, a Verdade e a Vida, também a consciência sobre seu papel no tecido social é transformada.

O interesse da Igreja Católica, apesar do fenômeno secularista e da emergência daqueles que buscam na religião respostas imediatas para os problemas do cotidiano, é que todos alcancem a salvação em Cristo Jesus. Para isso, o importante não é o número, não é entrar na competitividade do mercado religioso, mas formar na fé discípulos e missionários de Jesus Cristo. Afinal, Jesus contou com 12 Apóstolos para levar a sua Palavra ao mundo todo.

*Pe. Wagner Ferreira da Silva é membro da Comunidade Canção Nova (www.cancaonova.com) e vive em Roma (Itália), onde faz Doutorado em Teologia Moral na Academia Alfonsiana.

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