15/12/2004 15h25 – Atualizado em 15/12/2004 15h25
Assessoria de Imprensa
O deputado estadual Akira Otsubo entregou, ao militar de renome internacional, Hiroo Onoda, o título de Cidadão Sul-mato-grossense. A solenidade, às 20h do dia 13 último, no plenário da Assembléia Legislativa, contou também com as seguintes presenças: deputado Jerson Domingos; comandante da Base Aérea de Campo Grande, coronel aviador Ademilton Tenório de Albuquerque; presidente da Associação Okinawa, desta Capital, Tetsu Arashiro; e presidente da Associação Nipo-Brasileira de Campo Grande, Paulo Tuyoshi Kinoshita, além de um grande número de autoridades, representantes de várias entidades e convidados diversos.
Eis, na íntegra, o discurso do deputado Akira Otsubo:
“Estou agradecido e honrado pelos meus colegas deputados, que, por unanimidade, aprovaram a proposta de conceder o título de Cidadão Sul-mato-grossense ao herói japonês Hiroo Onoda, nascido a 19 de março de 1922, na cidade de Kainan, província de Wakayama.
No primeiro plano da justificativa para conceder a honraria de hoje ao renomado Hiroo Onoda, está a sua longa trajetória de trabalho em terras brasileiras, iniciada em Mato Grosso do Sul no ano de 1975, quando, vindo do Japão, adquiriu uma propriedade rural na região de Várzea Alegre, Colônia Jamic, município de Terenos, e passou a contribuir pelo desenvolvimento agrário do Estado.
Vencendo as dificuldades que caracterizaram a história da imigração japonesa no Brasil, aplicou talento nas lides da bovinocultura de corte, por dez anos, aprimorando rebanhos e colaborando para a formação de uma economia forte em território sul-mato-grossense.
Entretanto, não bastava para Hiroo Onoda, prosperar materialmente e assegurar a sobrevivência digna para si mesmo e para a sua família. Ele quis apoiar e promover maior integração entre os membros da comunidade nipo-brasileira, e desta comunidade com a sociedade em geral, e por isso ajudou a fundar, em dezembro de 1978, a Associação Nipo-Brasileira de Várzea Alegre, da qual se tornou o primeiro presidente, dirigindo a entidade durante oito anos e depois se tornando um dos seus conselheiros.
A Associação Nipo-Brasileira se destaca pela solidariedade entre os irmãos; esforços de intercâmbio Brasil-Japão; preservação das raízes culturais; divulgação dos valores milenares como disciplina e trabalho, estudo e aperfeiçoamento técnico, saúde do corpo e da mente; e atividades sócio-esportivas e culturais-religiosas.
Essa organização dinâmica é reconhecida, portanto, como força positiva da comunidade que ajuda a compor e a engrandecer a história de Mato Grosso do Sul.
Hiroo Onoda, homem de consciência, sempre esteve atento ao dever de ajudar. Em 1982, sentiu a necessidade de dar maiores condições de acesso a Educação aos filhos dos imigrantes japoneses da comunidade Jamic, então projetou e construiu em Campo Grande a “Casa de Estudantes”, próxima ao Horto Florestal.
Passaram pela Casa de Estudantes, muitos alunos, descendentes de nipônicos, que se tornaram profissionais de sucesso em diversos segmentos na Capital e no Estado, não sendo raros os que se tornaram destaque no cenário sócio-econômico de outros estados brasileiros.
Era o ano de 1984. Hiroo estava bem-sucedido em suas atividades rurícolas e, graças aos seus feitos de interesse comunitário, já desfrutava de grande admiração e respeito social.
Voltou o olhar, contudo, também para os problemas vividos pelos jovens em sua terra natal. Sem se esquecer do conjunto de tarefas em que se empenha até hoje em solo brasileiro, rumou para o Japão, disposto a contribuir para o bem de uma parcela da juventude que se encontrava em situação de desvios comportamentais, padecendo seqüelas depressivas e outros conflitos de ordem psicossocial.
Desenvolveu na época a estrutura de uma escola para aperfeiçoamento de corpo e alma dos jovens, buscando resgatar a identidade e a dignidade, além de promover o reordenamento comportamental e de postura.
Em favor do seu projeto, Hiroo Onoda contava com a experiência de 30 anos vivida nas selvas Filipinas, onde aprendeu a considerar a Natureza como o maior dos mestres.
…
Para compreender o vigoroso perfil de Hiroo Onoda, é necessário remontar ao século passado, durante a Segunda Guerra Mundial. Convocado pelo Exército Japonês, foi submetido a rigorosos exames e exaustivos treinamentos para cumprir missões de guerra.
Em 1944 foi graduado como tenente, tendo recebido preparos especiais que o habilitaram a integrar o grupo de oficiais de elite.
Destacado para uma força militar composta de 250 homens foi para a ilha Lubang, Filipinas, cumprir tarefas estratégicas do Exército Japonês contra as forças americanas.
Por causa dos sucessivos bombardeios na ilha, o contingente do qual o tenente Onoda fazia parte foi reduzido a apenas 10 homens. Isso ocorreu em 1945, e, em 15 de agosto daquele ano, com a rendição do Japão, era encerrado o segundo grande conflito mundial.
Mas o tenente Onoda e seus homens desconheciam o fato de que a guerra havia terminado. Oculto nas selvas, mesmo encontrando folhetos com os dizeres: — “A guerra terminou no dia 15 de agosto. Desçam das montanhas” —, o pequeno grupo resistiu à rendição, convicto de que a mensagem era um movimento tático do inimigo para derrotá-lo.
A maior parte dos soldados já estava rendida, principalmente por falta de provisões. Porém, Onoda e mais três auxiliares, dois cabos e um soldado, incrédulos diante dos apelos sobre o término da guerra, continuaram no desempenho da missão a eles confiada pelo Exército Japonês.
Em 1946, o contingente, reduzido a quatro homens, continuava trocando tiros com os soldados filipinos, até restar apenas o tenente Onoda e o soldado Kazuka, que agora prosseguiam lutando, mas sem provisões, guiados pelo instinto de preservação e pela fibra inflexível do sentimento do dever.
Corria o ano de 1972. O único companheiro que restava a Hiroo Onoda sucumbiu em combate, mas o tenente, mesmo solitário, não se entregava e continuou nas selvas Filipinas, alheio às diversas missões organizadas para o seu resgate.
Foi somente no ano seguinte, 1973, que o herói combatente se dispôs a fazer contato com as equipes de salvamento. Em fevereiro de 1974, finalmente foi convencido por um turista, sobre o término da guerra, entretanto garantiu que somente regressaria à Pátria se recebesse, para tanto, ordens do seu oficial superior, o major Taniguchi, que lhe confiara a missão no início da Segunda Guerra Mundial.
Foi só em 12 de março de 1974, diante da ordem pessoal e direta de Taniguchi, em Lubang, que Hiroo Onoda decidiu se entregar e retornar ao Japão. Com 52 anos de idade, após 30 anos de sobrevivência na selva, o tenente apresentou-se com porte ereto de soldado, uniforme esfarrapado e remendado, um velho fuzil e a espada samurai – que fez questão de entregar ao presidente das Filipinas, Ferdinando Marcos.
Ao ser recebido como herói em seu País, por cerca de dois mil jovens, exclamou a seguinte frase: “O melhor de tudo foi ter cumprido as ordens. A realidade da guerra foi a minha vida!” A seguir, escreveu e editou o seu livro de memórias: “Os Trinta Anos de Minha Guerra”, ganhando notoriedade internacional.
…
Foi com os recursos auferidos por meio dos direitos autorais do seu livro, que Hiroo Onoda pôde estabelecer-se em Mato Grosso do Sul, no ano de 1975, dando início a uma nova história de lutas, uma outra etapa de 30 anos de esforço concentrado pela vida que, nele, é generosa e triunfante. Hoje, o nosso herói divide o seu tempo entre o Japão, administrando a Fundação Onoda, e o Brasil, conduzindo suas atividades rurais.
Em 2004, Hiroo comemora os 20 anos de constituição da escola que organizou no Japão e 15 anos da Fundação Onoda — implantada em agosto de 1991, quando foi concluída a construção do complexo escolar.
Co
mo reconhecimento do Ministério da Educação no Japão, recebeu em novembro de 1999 o Diploma de Mérito de incentivo à educação social dos jovens.
Quando foi acolhido de volta em sua terra natal, como filho querido cuja rendição tardia, na guerra, simbolizou, por outro lado, o imenso valor da resistência e fibra espiritual diante das adversidades, Hiroo Onoda tornou-se cidadão japonês no sentido mais amplo da palavra, por colocar os interesses do seu País acima dos seus interesses pessoais.
Instalado no Brasil, ampliou ainda mais o conceito de cidadania, tornando-se cidadão do mundo ao colocar os interesses das comunidades nipo-brasileira e japonesa, e sociedade em geral, nos dois Países, também acima dos seus interesses pessoais.
Nesses últimos trinta anos, instituições em todo o mundo têm reverenciado este oficial da força especial japonesa; aqui em Campo Grande, na segunda-feira passada, dia seis, Onoda foi agraciado pela Base Aérea com a medalha do mérito Santos Dumont, em reconhecimento à sua dedicação e coragem nos eventos da Segunda Guerra Mundial. O distintivo foi criado em 1956, para ser conferido aos civis e militares, brasileiros ou estrangeiros que hajam prestado ou prestarem destacados serviços à Aeronáutica Brasileira.
Hiroo Onoda, conte também conosco em suas novas batalhas, e aceite esta homenagem que lhe fazemos hoje, com o título de Cidadão Sul-mato-grossense, como demonstração simples do profundo respeito e admiração que consagramos à sua história e ao seu trabalho.
Quero, finalmente, agradecer mais uma vez à Mesa, pela harmonia com que conduz os trabalhos; aos órgãos de imprensa que prestigiam este evento; aos serviços de apoio e ao nosso grupo de Cerimonial, pela excelente qualidade do atendimento nesta casa de leis.
Muito Obrigado!”