23/08/2004 08h02 – Atualizado em 23/08/2004 08h02
Se executar com perfeição suas duas marcas registradas, o duplo twist carpado e o duplo twist esticado, Daiane dos Santos escreverá mais uma vez seu nome da história da modalidade e se transformará em uma das personagens desta Olimpíada.
Os dois saltos são invenções da atleta gaúcha. O carpado se chama, oficialmente, “Dos Santos” na nomenclatura da Federação Internacional de Ginástica (FIG). O outro só não foi batizado porque a gaúcha ainda não o apresentou em nenhum Mundial ou Olimpíada -as únicas competições que “valem nome” para as acrobacias mostradas no picadeiro.
Daiane já é referência na história da ginástica brasileira. Foi a primeira a ganhar uma medalha de ouro em um Mundial -em Anaheim (EUA), no ano passado- e também a primeira a chegar à final de uma prova individual na Olimpíada. Simpática e extrovertida, virou estrela nacional -recebeu propostas até para ter uma boneca com seu nome.
Agora, na Olimpíada, Daiane vai tentar a primeira medalha de ouro olímpica de uma ginasta negra na história da modalidade. O solo é a competição mais prestigiada da ginástica -esporte que, em Olimpíadas, só se compara em glamour e badalação com o atletismo e a natação. Se vencer, diante de um ginásio lotado, a brasileira será certamente um dos personagens internacionais de Atenas-2004.
Nesta segunda-feira, Daiane será a primeira a se apresentar na final, que reúne as oito melhores ginastas de solo do mundo e tem início previsto para as 15h45 (horário de Brasília). “Estou super confiante. Só o fato de ser finalista já é uma vitória porque mostra a evolução da ginástica brasileira. Mas vou fazer de tudo para levar uma medalha”.
Sua principal rival é a romena Catalina Ponor, que foi a melhor na fase de classificação -tirou 9,687. Na final por equipes -para a qual o Brasil não se classificou-, Ponor foi ainda melhor, conseguindo 9,750.
Desde que ganhou a medalha de ouro no Mundial, com 9,737, Daiane obteve uma pontuação melhor que a romena apenas na etapa de Cottbus da Copa do Mundo: 9,762. Em Atenas, na fase de classificação, desequilibrou-se ligeiramente na terminação de dois de seus saltos. Mesmo assim, obteve 9,637. Nas eliminatórias, Daiane perdeu também para a chinesa Cheng Fei, que registrou 9,650. Na final por equipes, Fei também melhorou sua pontuação: 9,662.
Além de suas adversárias, a brasileira terá de controlar o nervosismo -que, segundo a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), foi o responsável por seus deslizes na primeira fase- e saber lidar com o excesso de expectativa em torno dela -além da torcida brasileira, a própria CBG espera por uma medalha que facilitará a entrada de dinheiro na confederação. Os contratos com a Coca Cola e com a Brasil Telecom não estarão mais em vigor em janeiro de 2005.
Se não bastasse a pressão por medalha -dela mesma, do público e da Confederação-, Daiane ainda tentará superar as dores no joelho direito, que sofreu uma operação em junho último e atrasou toda a preparação da brasileira. Devido à cirurgia, Daiane, que venceu as quatro etapas da Copa do Mundo de ginástica que disputou como campeã mundial, teve de ficar mais de um mês sem poder aprimorar o duplo twist esticado -que agora é alvo de suspense para a final.
“Ela vem executando a série sem maiores problemas e está previsto que ela faça o duplo twist esticado”, afirma Eliane Martins, chefe da delegação brasileira da ginástica em Atenas. Daiane quer fazer o movimento. “Nos últimos três dias, executei o duplo twist estendido e o duplo twist carpado, e vou usar os dois na série final”, afirma.
A decisão final, porém, cabe ao técnico da ginasta, Oleg Ostapenko. “Ele não vai arriscar em nada”, avalia Eliane. “Vai ver como ela se sente no dia da competição e vai usar sua intuição para ver o que é melhor. Se tiver chance de ela errar, ele vai optar por deixar essa acrobacia de lado”.
O duplo twist esticado é um movimento que a brasileira começou a treinar após a medalha de ouro no Mundial, há um ano. Ele tem um grau de dificuldade ainda maior do que o duplo twist carpado. No salto que a consagrou, Daiane gira duas vezes no ar com as pernas dobradas. No esticado, faz a mesma acrobacia com as pernas estendidas.
Fonte:UOL