06/08/2004 16h37 – Atualizado em 06/08/2004 16h37
Raul Pont, que procura garantir ao PT o quinto mandato consecutivo na capital gaúcha, ampliou sua vantagem sobre os demais candidatos na disputa eleitoral, mas pode estar próximo do limite de seu crescimento. Diante da forte possibilidade da eleição não ser decidida no primeiro turno, a disputa pelo segundo lugar ganha importância.
Já foram realizadas duas rodadas de pesquisas pelos três institutos que acompanham a eleição em Porto Alegre e o ex-prefeito aparece no momento em uma faixa entre 29% a 35% das intenções de voto. Em segundo lugar com alguma folga aparece o ex-senador José Fogaça (PPS-PTB), que concentra entre 14% e 17% das intenções. Não muito atrás estão o deputado estadual Vieira da Cunha (PDT), com 9% a 11% das intenções, e o ex-governador Jair Soares (PP), de 8% a 10%.
Por fim aparecem os deputados federais Mendes Ribeiro Filho (PMDB), em torno de 6%; Beto Albuquerque (PSB), na faixa dos 3%, e Onyx Lorenzoni (PFL-PSDB), que está no mesmo patamar. A pesquisadora Maria Isabel Noll não descarta mudanças nesse quadro, mesmo porque a margem de erro das pesquisas é grande – entre 3 e 4 pontos percentuais.
Mas ela dá como praticamente certa a realização do segundo turno, avaliando que Pont não deve ultrapassar os 35% dos votos na primeira etapa, faixa do eleitorado fiel ao PT. Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Política Rio-Grandense (Nupergs/Ufrgs), Maria Isabel lembrou ainda, com base em análises de eleições desde 1947, que as disputas têm sido decididas por pequenas margens de votos.
“No Rio Grande do Sul, as posições políticas são bem demarcadas e o eleitorado de Porto Alegre apresenta uma certa constância, sem grandes surpresas”, explicou Maria Isabel, acrescentando que, na capital, a tendência é de votos mais identificados com a esquerda.
Após quatro sucessivos governos petistas na capital, a campanha eleitoral deve ser marcada pela crítica de todos à administração municipal. Ao mesmo tempo, Pont pode ter dificuldade em defender as políticas federais, depois de ter feito várias críticas públicas à política econômica, durante o primeiro ano do governo Lula.
“A posição do Raul é muito difícil e ainda não está claro como vai administrar a relação com o governo Lula”, analisa Noll. Pont também precisa reverter o desgaste da atual gestão municipal, que ficou sob responsabilidade do vice, João Verle, após a renúncia do hoje ministro da Educação, Tarso Genro, para disputar o governo do estado em 2002.
“A administração ficou descaracterizada. Verle é um técnico, um personagem político menor que os anteriores”, explica Noll. Nesse cenário adverso e polarizado, os eleitores não alinhados que deram as vitórias para o PT nas últimas eleições, mas não têm compromisso ideológico com o partido, podem optar por outros candidatos.
Na avaliação de analistas, Beto Albuquerque (PSB) poderia ser beneficiado pelo voto de petistas descontentes e chegar a mais de 10% do eleitorado. Jair Soares (PP) e Onyx Lorenzoni (PFL-PSDB) teriam pouca chance de chegar ao segundo turno, pois tradicionalmente seus partidos ou coligações contariam com um eleitorado pequeno na capital, incapaz de eleger um prefeito.
As chances aumentariam para Vieira da Cunha (PDT) que aposta em uma estratégia de crítica mais agressiva para atrair o eleitorado identificado com o brizolismo, majoritário por décadas em Porto Alegre. Mas seria Fogaça o candidato mais apto a repetir a estratégia vitoriosa de Germano Rigotto (PMDB) nas últimas eleições para o governo do Estado.
“Em um cenário polarizado, o eleitor se irrita. Quando surge alguém afirmando que a política pode ser construtiva, pode crescer com o desgaste dos outros”, explica Noll. Fogaça foi senador pelo PMDB e migrou para o PPS junto com o ex-governador Antônio Britto. Ainda identificado com o ex-partido, Fogaça pode disputar votos na base do PMDB sem precisar responder pelos naturais desgastes do governo estadual de Germano Rigotto.
Nas simulações do segundo turno neste momento, Pont venceria todos os adversários, mas a menor diferença seria justamente contra Fogaça.
Fonte:Reuters