26/07/2004 09h55 – Atualizado em 26/07/2004 09h55
Pioneira no Brasil a cultura da cana já ampliou espaços e, atualmente, vem atraindo olhares de investidores nacionais e internacionais. O País é o maior produtor mundial, seguido pela Índia e Austrália. Em Mato Grosso do Sul vem ocorrendo extansão do produto, como fonte alternativa de energia. O processo é simples: muito vapor e calor, juntos, formam uma parte importante no processo de produção do açúcar e do álcool, certo? Quase. Ao contrário do que pensa a maioria, o trabalho não pára por aí. Ele é muito mais extenso e rentável do que se imagina.
Foi exatamente pensando nessa rentabilidade, juntamente com outros fatores favoráveis que Mato Grosso do Sul apresenta, tais como o clima favorável e uma grande disponibilidade de área, que a mais de um ano o governo do Estado, por meio da Secretaria da Produção e do Turismo (Seprotur), criou a Câmara Setorial do Setor Sucroalcooleiro que, com outros parceiros, vem desenvolvendo um trabalho de ponta no Estado.
Se depender dos números, o Estado vai muito bem. Quanto à geração de empregos, somando os diretos e os indiretos, aproximadamente 55 mil postos de trabalho. Nas previsões para a safra 2003/2004 a tendência também é de crescimento da área cultivada em 126,5 mil hectares. Na produção de cana, açúcar e álcool a estimativa é de 9,5 milhões de toneladas, 461,2 mil toneladas e 480 m³ para esse ano, respectivamente.
Luz que vem da cana – O processo é simples: ao se queimar o bagaço da cana nas caldeiras, obtém-se vapor para mover as turbinas que garantem auto-suficiência de energia elétrica para as usinas e ainda geram excedente, vendido para as distribuidoras de energia.
Toda essa “ebulição” de energia começou por volta de 1900. Embora poucos saibam, as indústrias canavieiras sempre produziram energia elétrica, porém apenas para o consumo próprio. Curiosamente, na década de 80, a Usina de Sonora chegou a abastecer a cidade de Sonora, que naquela época era apenas um distrito, com o excedente que produzia.
Conforme o superintendente agrícola da usina, Cleiton Tarbas Valeis, “eles forneciam cerca de 500 kVA de energia a um preço simbólico. O acordo se prolongou por aproximadamente quatro anos, quando então foi instalada a termelétrica, que manteve a cidade até meados de 1992, e finalmente substituída pelas linhas de energia vindas da região norte, mas precisamente do Estado de Mato Grosso”, lembra. Hoje, segundo Cleiton, todo esse excedente é revertido para o sistema de irrigação da usina que abrange 13 mil hectares da plantação de cana.
Atualmente, com o sistema elétrico regulamentado, surgiu o projeto Produtor Independente de Energia (PIE). Foi então, visando uma maior margem de lucro, que essas mesmas indústrias, além de continuarem a produzir para o próprio consumo, começaram a investir na produção de excedente de energia.
Segundo o coordenador da Câmara e diretor do Sindicato das Indústrias de Álcool de Mato Grosso do Sul (Sindálcool), Isaias Bernardini, “os primeiros contratos para venda do excedente de produção para a Eletrobrás já foram assinados. Ao total três contratos vão fornecer pelo prazo de 20 anos 48 megawatt (MW/hora) de energia. As fornecedoras são as usinas de Sonora, Sidrolândia e Brasilândia. O programa deverá entrar em operação a partir de 2006”. Ainda segundo Bernadini, novas licitações estão abertas. As empresas interessadas poderão se habilitar até outubro.
Mas para atender tamanha demanda não é tão simples assim. “O investimento chega a R$ 1,5 milhões por kW (quilowatt) produzido, o que significa que, para esses 48 KW, serão investidos R$ 72 milhões”, explica Bernardini. Dado o primeiro passo agora, é a hora de calcular o retorno: pagando-se R$ 97,00 por cada MW basta multiplicar por 48. “Se colocarmos na ponta do lápis a conta é simples: em um dia R$ 4.656,00 por hora, R$ 111,7 mil por dia. Como a produção ocorre apenas durante seis meses do ano – período em que ocorre a safra – cada safra soma-se um total de R$ 20,3 milhões. No final do contrato a faturamento é de nada mais nada menos que R$ 406 milhões”, calcula Isaias Bernardini.
Tendo em vista um grande número de interessados, o assunto foi pauta de um seminário no auditório do Idaterra (Instituto do Desenvolvimento Agrário, Assistência Técnica e Extensão Rural) no último dia 9 de junho promovido pela Agepan (Agência Estadual de Regulação dos Serviços Públicos). Na oportunidade foram feitas apresentações pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sindalcool e também pelo Ministério de Minas e Energia, que expôs o Programa de Inserção de Energia Renovável, em fase de implantação pelas usinas do Estado, podendo abastecer até 20% da energia gasta em Mato Grosso do Sul e gerar até 2006, no Brasil, 3,3 mil MW/hora.
Em tempos de lançamento do Plano de Safra 2004/2005, em que foi reservado ao Mato Grosso do Sul R$ 1,4 bilhão, o teto para financiamento das lavouras de cana-de-açúcar aumentou em 66%. Segundo o Banco do Brasil, a verba subiu de R$ 60 mil por tomador para R$ 100 mil. “Isso sem contar que a própria Eletrobrás tem uma linha específica de financiamento para a geração de energia através do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social], sendo que o investimento total, no País, deverá atingir R$ 8,6 bilhões. Então, opções são o que não faltam”, argumenta o secretário-executivo da Câmara Setorial, Eduardo Cruzetta.
Fonte:Reporter MS