22/01/2004 14h31 – Atualizado em 22/01/2004 14h31
A pesquisa para desenvolver uma variedade de feijão geneticamente modificada resistente à seca, teve início à aproximadamente um ano por uma iniciativa de pesquisadores da Embrapa, Universidade Federal de Viçosa e Universidade Federal do Ceará, dando prosseguimento a estudos de tolerância à seca iniciados há cinco anos pela Universidade Federal de Viçosa.
O objetivo dos pesquisadores é oferecer aos pequenos e médios produtores das regiões do semi-árido Nordestino e do Centro-Oeste uma opção de cultivo com produtividade, mesmo em condições climáticas adversas.
De acordo com o pesquisador Eduardo Romano, da Embrapa, o feijão resistente à seca será uma alternativa de renda para o produtor nordestino. “Com essa variedade, o agricultor que utiliza o feijão como cultura de subsistência, poderá ter uma oferta maior de alimentos durante os períodos de seca. Nas regiões irrigadas, o produtor poderá gerenciar de maneira mais racional o uso dos recursos hídricos, economizando custos”, afirma Romano. “Os sistemas de irrigação são caros e o feijão resistente à seca permitirá o uso de menos recursos hídricos e irrigações em períodos mais espaçados”, completa.
O Brasil é o maior produtor de feijão no mundo, com um consumo anual per capita de 14 quilogramas. Segundo estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a safra brasileira de feijão em 2003 deve ultrapassar 3,2 milhões de toneladas de grãos, equivalente a mais de 20% da produção mundial de feijão. O cultivo no país é feito basicamente por pequenos produtores: aproximadamente 80% da produção e da área cultivada encontram-se em propriedades menores que 100 hectares.
Na primeira etapa da pesquisa, os cientistas introduziram um gene de soja resistente à seca, já conhecido pelas suas propriedades de tolerância ao estresse hídrico, na planta do tabaco, comumente utilizada como piloto em pesquisas com transgenia. O tabaco mostrou-se capaz de ficar de 4 a 5 semanas sem receber água.
Demonstrada a eficácia na planta do tabaco, os pesquisadores partiram para a segunda etapa do estudo, com a introdução do gene no feijão. “No momento, estamos isolando a seqüência do DNA que controla a expressão do gene de resistência à seca, para que ele seja “acionado” apenas quando não houver água em quantidade suficiente”, conta o pesquisador. “O feijão poderá “ligar” ou “desligar” o gene, de acordo com a oferta de recursos hídricos”, explica.
O pesquisador prevê problemas para a fase de estudos em campo, pois eles dependem de licenças ambientais emitidas pelo IBAMA. Pesquisas anteriores para o cultivo de batata resistente a vírus e feijão resistente à praga do mosaico dourado, foram suspensas e aguardam licenças para estudos em campo.
“A burocracia que os pesquisadores encontram agora para conseguir dar continuidade aos estudos, saindo dos laboratórios e passando para o campo, significa um desperdício de talento e de dinheiro público”, argumenta Romano. “Muitas vezes é dinheiro jogado fora, pois alguns projetos contam com recursos e não podem ser finalizados”, diz o cientista.
Os cientistas acreditam que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) deveria ter maior autonomia quanto a emissão de pareceres sobre transgênicos.
No caso do feijão resistente à seca, além da licença, faltam recursos específicos para o projeto. O trabalho está sendo realizado com sobras de recursos e equipamentos de outros estudos. “Estamos em busca de investimentos direcionados para essa pesquisa”, diz Romano.
Fonte:Terra notícias