10/12/2002 11h02 – Atualizado em 10/12/2002 11h02
NOVA YORK (CNN) – O presidente Fernando Henrique Cardoso, que se encontra em Nova York, onde recebeu uma homenagem das Nações Unidas, na noite de segunda-feira, almoçou com o secretário-geral da organização, Kofi Annan, e aceitou um convite para ser conselheiro da instituição.
Annan propôs a Fernando Henrique o cargo de Conselheiro Especial da ONU a partir de 2003.
Fernando Henrique, que já recebeu várias propostas para trabalhar na Europa depois que encerrar seu segundo mandato, explicou a Annan que gostaria de ter flexibilidade, mantendo sua residência no Brasil.
“Não queria tarefas burocráticas”, explicou FHC. “Disse a ele (Annan) que aceitaria tarefas políticas e intelectuais”.
“O convite seria para uma espécie de conselheiro especial do secretário para discutir temas que ainda vamos definir, principalmente a organização da opinião pública internacional e da sociedade civil”.
O presidente acrescentou que ainda estudará detalhes da proposta de Annan.
O cargo de conselheiro da ONU deverá permitir que Fernando Henrique ajude a elaborar uma nova formatação de fóruns internacionais, como o presidente já faz com a Cúpula Ibero-Americana.
O presidente não escondeu que o foco de sua atenção deverá ser a política relacionada ao Conselho de Segurança da ONU.
“Estou alinhado com o pensamento do Kofi Annan, para valorizar o Conselho de Segurança e a participação crescente multilateral e não unilateral”, declarou FHC à Agência Brasil.
Homenagem das Nações Unidas
Acompanhado da primeira-dama Ruth Cardoso e do ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, Fernando Henrique almoçou com Annan na residência de Gelson Fonseca, representante brasileiro junto à ONU, durante cerca de uma hora e meia.
À noite, Fernando Henrique tornou-se a primeira personalidade mundial a receber da ONU o prêmio Mahbub ul Haq.
A distinção, que será oferecida a cada dois anos, é um reconhecimento a chefes de Estado e líderes mundiais que tenham se destacado na promoção do desenvolvimento humano.
Ao discursar para uma platéia formada por representantes da ONU, o presidente disse estar confiante com a atuação de Lula no comando do país.
Na sua opinião, sob a liderança de Lula o Brasil vai continuar avançando e terá novos ganhos sociais.
“Tenho confiança que assim será”, enfatizou.
O presidente reiterou que, mesmo com os avanços registrados nos últimos anos, o futuro governo terá que se empenhar para implementar medidas que garantam melhores condições de vida à população.
Segundo ele, “o copo está cheio pela metade”, e a outra metade ainda está vazia. As tendências pessimistas, ainda segundo o presidente, às vezes prevalecem no Brasil, mas o apelo da justiça social deve continuar a ser ouvido cada vez mais forte, sem perder a civilidade.
Atuar na oposição
Ainda em Nova York, FHC havia feito, antes, um desabafo contra a postura do Partido dos Trabalhadores (PT) durante os seus oito anos de mandato, em uma entrevista a jornalistas brasileiros.
Segundo FHC, a postura do PT “foi destrutiva e é um resquício de uma visão autoritária e antidemocrática”.
“O PT foi contra tudo, sem nem pestanejar”, afirmou. “Moveu processo sem base, pediu impeachment a toda hora, botou campanha document.write Chr(39)fora FHCdocument.write Chr(39) três meses depois de eu ter obtido vitória por maioria absoluta”.
O presidente disse esperar que o seu partido, o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) não tome essa mesma atitude e ressaltou que a opção será por uma oposição séria, o que não significa oposição que não critique.
“Será uma oposição que não mantenha fundamentos apenas nas críticas, mas aponte alternativa”, afirmou.
Sobre o encontro do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva com o presidente dos Estados Unidos nesta terça-feira, Fernando Henrique acha que Lula deve levar toda a franqueza possível.
Na avaliação de FHC, no primeiro encontro, a preocupação deve ser muito menor com o tema e voltada para demonstrar como é o novo governante.
“O Lula tem muitas condições de, ao falar de sua carreira, mostrar a Bush que é um homem que vem do trabalho, se transformou em líder e há muitos anos é um homem político”, afirmou.
O presidente reiterou sua confiança de que Lula cumpra os contratos firmados com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e mantenha o controle da inflação.
“Eu aposto que isso vai acontecer”, declarou FHC. “Antes das eleições Lula disse que respeitaria os contratos e , depois de eleito, não deu um elemento contrário a isso. Apostar ao contrário é torcer contra o Brasil”, enfatizou.
Iraque
Fernando Henrique Cardoso comentou sobre a possibilidade de conflito entre os Estados Unidos e o Iraque e disse que, na sua opinião, a guerra só se justifica se houver razões verdadeiras por trás dela.
“Se não houver, é o pior dos males”, afirmou.
O presidente brasileiro elogiou a conquista da Organização das Nações Unidas (ONU) ao enviar inspetores de armas para o Iraque e disse que a expedição realizada no país foi “uma vitória muito importante para quem não gosta nem da guerra, nem de decisões que não sejam baseadas em fatos comprovados”.
Segundo FHC, o momento agora permite uma reflexão sobre o risco de uma guerra.
Para Fernando Henrique, há a expectativa de que o Conselho de Segurança da ONU e os inspetores mantenham a atitude centrada em todo o processo.
“O governo do Iraque deve entender que o futuro depende disso para que não seja destruído por uma guerra”, afirmou. “E que os países do outro lado entendam que a guerra se justifica se houver razão verdadeira”.
Fonte: Agência Brasil