05/04/2006 10h20 – Atualizado em 05/04/2006 10h20
O Globo/Globo News/Globo Online
George Savalla Gomes, o palhaço Carequinha, de 90 anos, morreu na manhã desta quarta-feira na sua residência, no Rio de Janeiro. Carequinha sentiu-se mal de madrugada, reclamando de falta de ar e dores no peito. Foi medicado na sua residência e seria internado para exames no Hospital das Clínicas, que fica em frente à sua casa, mas não resistiu.George Savalla Gomes nasceu a 18 de julho de 1915 na cidade de Rio Bonito, no interior do Estado do Rio de Janeiro. Filho do casal de trapezistas Elisa Savalla e Lázaro Gomes, sua mãe teve as dores do parto em cena e ele nasceu ali mesmo, no Circo Peruano, de propriedade de seu avô, José Rosa Savalla. O pai morreu quando ele tinha dois anos e foi o segundo marido da mãe, Ozório Portilho, que o levou ao picadeiro pela primeira vez quando tinha cinco anos e lhe deu o nome artístico. Colocou nele uma peruca de careca e lhe disse que, daquele dia em diante, seria o palhaço Carequinha.Carequinha cresceu nos picadeiros, do Circo Peruano e em outros, como o Circo Ocidental, do padrasto, até chegar ao Circo Alemão Sarrazani, no Rio de janeiro, em 1951. No Sarrazani ele fazia papel de palhaço na primeira parte do espetáculo e de galã na segunda parte, quando eram encenadas peças de teatro. Um dos atores era um alfaiate, Fred ViIlar, que fazia o palhaço Fred e viria a ser seu companheiro fiel de palco.Em busca de outros públicos, Carequinha levou seu show para fora dos picadeiros, apresentando-se em aniversários e clubes, além de representar o Brasil quatro vezes no exterior. Ele venceu um concurso da Itália de palhaço mais moderno do mundo, representando o Brasil no 1º Festival Internacional de Clowns. Ele foi o primeiro palhaço da televisão brasileira, entrando para a TV Tupi em 1951, o ano seguinte à inauguração da emissora, a primeira do país. Lá ele fez o Circo Bombril, que ficou 16 anos no ar.Ele gravou 26 discos e suas músicas eram muito populares entre as crianças em tempos mais inocentes que os atuais. Sua primeira gravação ocorreu em 1957, a marcha de Miguel Gustavo “Fanzoca do rádio”, que fez bastante sucesso. Ele teve grandes êxitos como “O bom menino” (“o bom menino não xixi na cama, o bom menino não faz malcriação…”), “A marcha do carrapato”, “Parabéns parabéns” e canções de roda tradicionais como “Escravos de Jó”, “Ciranda cirandinha”, “Carneirinho carneirão” e “O cravo brigou com a Rosa”.Nos anos 1980, apresentou um programa infantil na TV Manchete, até ser tirado do ar para que entrasse o programa da Xuxa, que começou naquela emissora sua carreira artística. Ele se apresentou para vários presidentes brasileiros, entre eles Getúlio Vargas e Juscelino Kubistchek, além de ser condecorado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.Carequinha estava radicado em São Gonçalo há mais de 60 anos. Ele teve cinco filhos e pelo menos sete netos e bisnetos. Mas a tradição de família acabou com ele. Ninguém quis seguir a carreira de palhaço.