12/12/2005 15h30 – Atualizado em 12/12/2005 15h30
Agência Estado
Para o presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), o grande trunfo desta comissão é que ela investiga a origem dos recursos que alimentaram o valerioduto. “Esse talvez seja o maior desafio da CPI dos Correios e talvez seja aquilo que a diferencia das outras”, afirmou, em entrevista ao Espaço Aberto, da Globo News. “E essas investigações estão muito avançadas”, avaliou. O senador petista disse que a fonte pode estar em estatais, mas também em empresas privadas, como já teriam admitido alguns dos 18 parlamentares citados pelas CPIs dos Correios e do Mensalão.”É em cima dessas duas vertentes principais – sem falar do exterior – que efetivamente a CPI dos Correios está focada e, mais do que nunca, apresentará conclusões que provam isso que aconteceu.” Empréstimos simulados Delcídio Amaral concorda em que o depoimento do ex-superintendente do Banco Rural Carlos Roberto Godinho, quinta-feira passada, foi importante nessas conclusões.Empréstimos”Ajudou e de certa maneira ratificou o que já vinha sendo dito”, frisou o senador referindo-se às operações de empréstimos montadas pelos bancos envolvidos. “O adiantamento feito pela Visanet foi para se comprar CDBs do Banco BMG e esses CDBs serviram de lastro para o empréstimo. Ou seja, na verdade o dinheiro que foi emprestado é dinheiro que já tinha entrado na compra de CDBs pelo BMG”, afirmou.”Foi a primeira grande pista que surgiu mostrando que se montavam empréstimos, mas que tinha como garantia recursos provenientes ou de empresas privadas ou de empresas estatais.” Banco Central Para o presidente da CPI, não há como responsabilizar o Banco Central por não ter detectado as supostas operações fraudulentas, pois, segundo ele, o banco não tem condições de controlar todas as operações realizadas. “Ele faz por amostragem”, disse.SugestõesO senador ressaltou que a CPI deverá apresentar sugestões para um melhor controle do sistema financeiro daqui para frente. E revelou que o banco tem colaborado nas investigações: “Nós temos trabalhado de uma maneira muito proativa com o BC, que não tem se recusado a nos ajudar”, declarou Delcídio Amaral.Por outro lado, o entrevistado do Espaço Aberto se queixou da falta de colaboração de alguns órgãos envolvidos nas investigações, citando como exemplo o não-recebimento do relatório do Instituto de Criminalística que apontou a falsificação de notas fiscais. “A CPI tem compartilhado muito as informações com outras instituições, mas a contrapartida não existe”, reclamou.”Esse laudo do IC foi encomendado pela Polícia Federal e nós só tomamos conhecimento pela TV Globo, que publicou esse material”, prosseguiu. “Ele (o laudo) contém informações absolutamente importantes, como, por exemplo, a falsificação de mais de 80 mil notas fiscais. Uma coisa absurda!”JudiciárioDelcídio Amaral admitiu também que têm ocorrido atritos da CPI com o Judiciário. “Nesta semana houve um enfrentamento, do meu ponto de vista desnecessário. Nós temos que trabalhar para buscar uma cooperação entre a CPI e o Judiciário como um todo”, exortou o senador.Ele afirmou que o entrosamento é necessário, até porque a CPI não pode prender nem cassar mandatos. E procurou amenizar as críticas que vêm sendo feitas contra o Ministério Público por não ter indiciado o empresário Marcos Valério. “O MP entendeu que não havia razões suficientes, apesar de a CPI entender que as razões representavam destruição de provas importantes, notas fiscais que naquela época foram encontradas incineradas”, recordou.”Nós temos que respeitar as decisões do MP. Mas nós estamos tendo muito cuidado para embasar efetivamente as principais conclusões da CPI.” O senador sustenta que a CPI deverá concluir os trabalhos até abril, mas deixa aberta a possibilidade de as investigações sobre os fundos de pensão irem mais adiante.”As três sub-relatorias (Movimentações Financeiras, Contratos e Resseguros) seguramente vão terminar antes de abril, porque nós já temos informações suficientes para concluir e para aprovar os relatórios”, salientou. “Agora, o desafio é com relação aos fundos de pensão, um tema mais árido, mais complexo e de uma sub-relatoria mais nova”, ponderou Delcídio. E vaticinou: “Agora, nós vamos nos empenhar para terminar rapidamente a CPI porque eu acho que a sociedade brasileira espera essas conclusões”.