06/08/2005 09h58 – Atualizado em 06/08/2005 09h58
MS Noticias
“E-mail”, site, internet são termos universais até pouco tempo sem nenhum significado para Stella Rodrigues Cabral, 19 anos, aluna do terceiro ano da Escola Estadual Tereza Noronha Carvalho, no bairro Lajeado em Campo Grande. “A primeira vez que entrei na sala de informática tive receio, não entendia muito bem como funcionava e tive medo de estragar a máquina. Mas com o tempo o medo foi acabando”, revela. Ela diz que usa a internet para complementar o que aprende em sala de aula. A nova experiência de Stella reflete uma realidade que hoje todos os alunos da rede estadual de ensino vivem, a inclusão digital. Todas as 81 escolas estaduais de Campo Grande contam com as chamadas salas de tecnologia, que são equipadas com computadores conectados à internet pelo sistema ADSL, que permite a troca de informações em alta velocidade. Além de Campo Grande, mais 38 municípios do Estado já contam com salas de informática. Ao todo são 148 salas. Foram instalados 1.832 computadores, além de impressoras, scanners, webcâmeras. Mais de 88 mil estudantes, além de pais e comunidade do entorno da escola, estão sendo beneficiados com a informatização. Para isso o governo do Estado fez um investimento de R$ 5,6 milhões no projeto. O resultado é visível: em 1998, apenas 5,8% das escolas estaduais possuíam salas de informática. Já este ano, esse índice saltou para 45,8%. Até 2006, o governo estadual pretende informatizar todas as unidades escolares de Mato Grosso do Sul. “Nunca estive em frente a um computador”, confessa Vanessa Daminhana Mendonça, de 13 anos, aluna da 8º série. “Hoje em dia, tudo depende de um computador e é muito raro ter um bom emprego sem saber mexer em um.”Cibele Aparecida Nantes, 14 anos, disse que fica ansiosa pelo dia em que vai ter aula na sala de informática. “Fico rezando para chegar o dia de a gente ter aula nos computadores”, conta. Ela diz ainda que, no primeiro dia em frente ao computador, não sabia nem mesmo o quê era um mouse. Para Jossyeli Godoi, aluna do 1º ano do 2º da Escola Estadual Hércules Maymone, em Campo Grande o acesso a um computador com Internet muda de forma radical sua vida como estudante. “O computador nos dá maior entendimento do que aprendemos em sala.” Questionada se se sente com melhores chances de passar em um vestibular pelo fato de ter acesso constante à internet ela responde: “Se tenho acesso ao universo de conhecimento, que a rede disponibiliza, é claro que vou estar melhor preparada para o vestibular.” Entre todas as possibilidades que o computador e a Internet oferecem, em uma elas são unânimes: conhecimento em informática é fundamental para um bom emprego. Medo – A diretora Regina Lucia de Leon Abreu Silva conta que, para os alunos aprenderem manusear o computador, teve de quebrar muitas barreiras. “Eles tinham medo de estragar uma dessas máquinas e ter de pagar, tinham medo de aprender, de ser complicado de mais.” “Os alunos da nossa comunidade, realmente, precisam deste contato com o computador aqui na escola. É o único lugar onde eles têm acesso a isso. Os pais, em sua maioria, trabalham no lixão e não poderiam pagar um curso. Hoje os computadores são um motivador para os alunos virem às escolas. Uma coisa que para nós é comum; para eles não é”, avalia Regina.De acordo com a diretora, o medo não partiu somente dos alunos. Alguns professores também resistiram em usar as salas de tecnologia para dar aula, uns por não saberem adequar o conteúdo, outros por não saber mexer no computador.“Tive muito medo de chegar perto da máquina”, confessa a professora Maria Aparecida dos Santos. “Por, anteriormente, ter contato mínimo com o computador, fiquei me questionando: ‘Será que não vou estragar? Será que daqui uns tempos vou ser substituída pela máquina?’. Tudo isso passou na minha cabeça. Hoje, depois da capacitação oferecida pela Secretaria de Educação, as coisas estão mais fáceis, tanto para os alunos, como para os professores. Já sabemos como adequar o conteúdo das disciplinas, como trabalhar e interagir com os alunos”. Suporte – O professor Francisco Macedo, que ensina matemática na escola Hércules Maymone, destaca as vantagens de se lecionar a matéria tendo o computador como suporte. Para ele, com as máquinas, os alunos têm a oportunidade de visualizar de maneira mais prática aquilo que, em uma sala de aula tradicional, ficaria muito teórico. “No computador eles têm oportunidade de aplicar fórmulas e cálculos de maneira mais simples, os conceitos matemáticos são melhores visualizados e a aula fica mais dinâmica”, avalia.Macedo relata ainda a evolução e vontade de aprender que os alunos adquirem. Segundo ele, havia alunos que, sequer, sabiam ligar uma máquina, mas que depois de algumas semanas já estavam operando as máquinas tão bem quantos os professores. “O aprendizado é meio mágico. Um dia não sabem nada; no outro sabem mais que a gente. A informática e a internet abrem um mundo novo. Eles conseguem enxergar que, com estas ferramentas, há mais possibilidades para eles e, aquilo que não aprende em sala, podem aprender navegando”.Conforme Macedo, se for feito um estudo sobre o rendimento dos alunos, antes e depois da informatização das escolas estaduais, será constatado que o rendimento é melhor hoje.“O professor tem de chegar aqui sabendo o que quer, senão o resultado pode ser negativo”, alerta o professor Cleber Jackson Toledo, monitor de uma das salas de informática do Hércules Maymone. “Mas se o professor prepara a aula e sabe onde quer chegar, a aula é um sucesso”.Para ele, a diversidade de informações que há na Internet faz com que o aluno, que sabe utilizar a ferramenta, obtenha vários pontos de vista sobre determinado assunto e, “assim formar sua própria opinião sobre o tema”.