16/08/2004 11h03 – Atualizado em 16/08/2004 11h03
O semblante de decepção do técnico Larry Brown e dos jogadores dos Estados Unidos era o retrato da queda do império. Os torcedores americanos, nas arquibancadas, incentivaram desesperadamente o time até o fim, tentando evitar a suprema humilhação. Não conseguiram. O Dream Team, que parecia imbatível até outro dia, sofreu a primeira derrota em Jogos Olímpicos, dos quais participam desde Barcelona, em 1992. Que derrota! Porto Rico massacrou: 92 a 73 (49 a 27). E com direito a olé da torcida grega, extasiada com o que viu na Arena de Helleniko, neste domingo, em Atenas.
Nas últimas três olimpíadas, já com a liberação para a utilização dos profissionais da NBA (liga norte-americana de basquete), os Estados Unidos atropelaram seus adversários e conquistaram três medalhas de ouro de forma invicta. Em 2002, no Mundial, perderam, é verdade, mas com o segundo escalação da NBA em quadra. Não se podia chamar aquela equipe de Dream Team.
Desta vez, craques como Shaquille O´Neal e Kobe Bryant não quiseram viajar para a Grécia. O time, no entanto, ainda exibe jogadores extraordinários, como Allen Iverson e Tim Duncan, e é, no papel, superior aos adversários. Era difícil prever uma derrota.
Os americanos não imaginavam, de jeito nenhum, que poderiam ser arrasados pela boa – mas nada de excepcional – seleção de Porto Rico. Os torcedores, que fizeram barulho, enrolaram as bandeiras e deixaram o ginásio arrasados, mais ou menos como ficaram os argentinos ao perder a Copa América, no futebol, para o time reserva do Brasil, há um mês. Ou os fãs do imbatível Mike Tyson ao ver o pugilista ser nocauteado pela primeira vez na carreira, em 1990, contra o até então desconhecido James Buster Douglas.
Mais doído ainda deve ter sido ouvir os gregos gritando ´olé, olé, olé´, nos últimos 30 segundos da partida, durante impecável troca de bola dos porto-riquenhos.
Doído, também, foi para Larry Brown ficar um tempão na sala de conferência, após o jogo, ouvindo os jornalistas rasgarem elogios a Porto Rico. Somente 15 minutos depois de Carlos Arroyo – o maior responsável pela humilhação dos Estados Unidos – ter falado do resultado, a palavra chegou ao treinador norte-americano. “Foi uma longa espera”, disse, irritado, antes de dar a primeira resposta.
“Não estou humilhado pela derrota, até porque os Estados Unidos tiveram dificuldade em Sydney, em 2000, e perderam no Mundial de 2002, mas sim pelo modo como jogamos, por não sermos uma equipe”, desabafou Brown. “Agora temos de trabalhar para formar um time.”
Aliás, a impressão nas entrevistas dos americanos é de que o grupo está rachado. Na sexta-feira, por exemplo, Allen Iverson disse que alguns jogadores, como o jovem LeBron James, de 19 anos, precisariam ser humildes e pensar no coletivo para que a equipe pudesse conquistar bons resultados. LeBron parece não ter entendido o recado.
Dwayne Wade, um dos menos badalados entre as estrelas, foi o encarregado de dar as explicações. O armador, olhando para baixo e evitando o contato com os jornalistas, preferiu dar explicações curtas. “Eles tiveram bom aproveitamento nos chutes e nós, não. Porto Rico jogou melhor e mereceu ganhar.”
Por outro lado, o eufórico Carlos Arroyo, que defendeu o Utah Jazz na última temporada, não economizou nas palavras e aproveitou o momento de fama internacional. “Acho que, a partir de agora, Porto Rico vai ser mais respeitado. Jogamos bem na defesa, no ataque e merecemos a vitória em que pouca gente acreditava”, comemorou o armador, cestinha com 24 pontos.
O único quarto equilibrado foi o primeiro. Do segundo em diante, só Porto Rico jogou. Iverson, Duncan, Lamar Odom e companhia tiveram atuação pífia. As estatísticas resumem o duelo. Os Estados Unidos acertaram apenas 3 de 23 arremessos de 3 pontos, enquanto os vencedores fizeram 8 em 16. Nos tiros de 2, o aproveitamento americano foi fraquíssimo – 45% – e o de Porto Rico, bom – 59%. No fim, a diferença de 19 pontos foi mais do que justa.
Os americanos, no grupo B, ainda têm excelentes possibilidades de se classificar e conquistar o ouro. Mas 15 de agosto de 2004 jamais vai ser esquecido pelo mundo do basquete. O dia em que o time dos sonhos virou time dos pesadelos.
Retrospecto – A seleção norte-americana formada pelos profissionais da NBA ganhou de forma invicta os títulos olímpicos em Barcelona, Atlanta e Sydney. No total, o Dream Team não perdia há 24 jogos em olimpíadas.
Barcelona/1992 Estados Unidos 116 x 48 Angola Estados Unidos 103 x 70 Croácia Estados Unidos 111 x 68 Alemanha Estados Unidos 127 x 83 Brasil Estados Unidos 122 x 81 Espanha Estados Unidos 115 x 77 Porto Rico Estados Unidos 127 x 76 Lituânia Estados Unidos 117 x 85 Croácia
Atlanta/1996 Estados Unidos 96 x 68 Argentina Estados Unidos 87 x 54 Angola Estados Unidos 104 x 82 Lituânia Estados Unidos 133 x 70 China Estados Unidos 102 x 71 Croácia Estados Unidos 98 x 75 Brasil Estados Unidos 101 x 73 Austrália Estados Unidos 95 x 69 Iugoslávia
Sydney/2000 Estados Unidos 119 x 72 China Estados Unidos 93 x 61 Itália Estados Unidos 85 x 76 Lituânia Estados Unidos 102 x 56 Nova Zelândia Estados Unidos 106 x 94 França Estados Unidos 85 x 70 Rússia Estados Unidos 85 x 83 Lituânia Estados Unidos 85 x 75 França
Fonte:Click 21