16/12/2003 06h51 – Atualizado em 16/12/2003 06h51
Das 26 áreas do conhecimento abrangidas no Exame Nacional de Cursos (ENC), o Provão de 2003, apenas em duas os estudantes obtiveram média geral acima de 50, numa escala de zero a 100. No conjunto dos cursos de Odontologia, a nota média foi 56; nos de Fonoaudiologia, 55,7. Outras cinco áreas tiveram pontuação entre 40 e 50. As demais, abaixo de 40. A menor média foi registrada em Letras: 19,7.
Neste ano, para esclarecer o significado dos conceitos atribuídos aos cursos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep/MEC) decidiu enfatizar os valores absolutos de cada área. De acordo com o relatório do Inep, o uso dessa nova escala não tem por objetivo propor um instrumento de classificação, mas mostrar exatamente o que está sendo dito quando se anuncia que um curso tem conceito A, B, C, D ou E.
Os resultados do exame, que teve a participação de 5.897 cursos, revelam que nenhum deles obteve média acima de 80. Apenas 1,5% conseguiu entre 60 e 80 pontos. Na faixa de notas entre 40 a 60, ficaram 26,7% dos cursos; de 20 a 40, 58,2%. Em 11,9% deles, a média ficou abaixo de 20. De acordo com a escala relativa, 14,5% obtiveram avaliação A; 12,8%, B; 41,6%, C; 16,7%, D; e 12,7%, E.
Os dados mostram que a distribuição de conceitos a partir dos resultados do Provão é um mecanismo insuficiente para avaliar a qualidade de um curso. O conceito A, em uma escala de zero a 100, significa proximidade de 100, mas a metodologia, que utiliza conceitos relativos, resulta na atribuição de A para cursos cuja média está muito distante da nota máxima.
Os resultados deste ano apontam que a nota 46,3 em Administração significa avaliação A, mas 49,7 em Odontologia é D. Em Engenharia Civil, a média 50 garante conceito A, mas em Fonoaudiologia, 52,3 é C. Em Matemática, 29,4 é A. “É um equívoco interpretar os conceitos obtidos pelos cursos como indicadores de um padrão único de qualidade”, analisa o documento do Inep.
O relatório mostra, ainda, que os resultados do Provão não permitem a comparação de um ano para outro. Os dados indicam que o conceito A em um curso de Engenharia Civil, em 2002, era obtido com 33,7 pontos. Em 2003, o mesmo A exigiu média 50. “Com isso, o A de um ano equivale ao C do ano seguinte”, constata o relatório. Segundo o documento, os conceitos são inadequados para orientar políticas educacionais e a sociedade, incapazes de direcionar as ações administrativas das instituições de ensino e insuficientes para avaliar cursos.
Participaram do Provão, realizado no dia 8 de julho, 423.946 formandos dos cursos de Agronomia, Arquitetura e Urbanismo, Administração, Biologia, Ciências Contábeis, Direito, Economia, Enfermagem, Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica, Engenharia Química, Farmácia, Física, Fonoaudiologia, Geografia, História, Jornalismo, Letras, Matemática, Medicina, Medicina Veterinária, Odontologia, Pedagogia, Psicologia e Química.
Veja os resultados relativo e absoluto no Exame Nacional de Cursos de 2003
Melhores conceitos — Da totalidade dos cursos que participaram do Exame, 52,5% ficaram com conceito A ou B; 17,3%, com D ou E. Do conjunto dos cursos da rede privada, 19,3% alcançaram os dois mais elevados patamares e 30,9%, os mais baixos.
De acordo com o Provão, está na Região Sul o maior índice de cursos com conceito A ou B (35,3%) e o menor com D ou E (20,4%). No Norte, a situação é diferente. Apenas 11,8% obtiveram os melhores conceitos; 45%, os piores. Ficaram com conceitos A ou B, 27,9% dos cursos do Sudeste, 25,1% do Nordeste e 20,3% do Centro-Oeste.
O exame mostra, também, que os cursos dos centros tecnológicos de educação têm elevado percentual de conceitos A ou B — representam 44,4% do total. Nas universidades, 32,6% dos cursos tiveram o mesmo desempenho. Nos centros universitários, o índice é de 21,8%.
O critério de distribuição dos conceitos no Provão leva em conta a média geral de cada área. A partir dela e da dispersão das médias dos cursos é calculado o chamado desvio-padrão, que permite a elaboração de uma escala de valores para a conceituação que vai de A a E.
Renda familiar — Nas instituições públicas, 70,8% dos formandos que participaram do Provão têm renda familiar de até R$ 2,4 mil, enquanto nas particulares o índice é de 58,4%. Com renda acima de R$ 2,4 mil estão 29,1% dos estudantes de instituições públicas e 41,6% das particulares.
Com renda familiar de até R$ 720,00 estão 26,5% dos estudantes das instituições públicas e 12,9% das privadas. “Fica evidente que nas instituições públicas é significativamente maior o percentual de alunos com renda familiar mais baixa e, inversamente, nas privadas é maior o porcentual de alunos com renda familiar mais alta, o que desfaz a impressão generalizada de que os filhos dos ricos estudam nas instituições públicas e os filhos dos pobres, nas particulares”, diz o relatório.
Veja a renda familiar dos participantes do Provão
Escolaridade dos pais — A escolaridade do pai está relacionada com o desempenho dos estudantes que estão concluindo a graduação. Esse dado é revelado a partir do cruzamento dos resultados da prova com as informações dadas pelos formandos no questionário.
No grupo das 25% melhores notas do exame, 29,9% dos alunos têm pais com o ensino superior completo. Nessa mesma faixa de desempenho, apenas 14,9% têm pais sem nenhuma escolaridade. No grupo onde estão 25% das notas mais baixas, 24,7% dos alunos têm pais com nível superior e 37% com pais sem escolaridade.
No grupo de melhor desempenho, 27,7% dos estudantes utilizam as bibliotecas da instituição com freqüência. Uma parcela de 11,1% declarou que a instituição não tem biblioteca. Outros 19,7% afirmaram que nunca usam a biblioteca. No grupo com desempenho mais fraco, 44,1% dos alunos revelaram que a instituição não tem biblioteca.
O uso de computadores também influencia nas notas. Estudantes que o utilizam diariamente (26,7%) ou várias vezes por semana (27%) obtêm notas mais elevadas. Nessa faixa de desempenho, 11% dos formandos nunca utilizam o computador.
Outros fatores que afetam de forma positiva o rendimento são a dedicação aos estudos e os materiais utilizados em sala de aula. O tipo de ensino médio cursado (regular, técnico, magistério ou supletivo) também influencia no resultado. Alunos que fizeram o ensino médio regular conseguem notas melhores.
Divulgação dos resultados — Além de mostrar como ficariam os conceitos nas diferentes áreas se fosse adotada uma escala absoluta, o Inep publica os resultados do Provão em ordem alfabética, não em forma de ranking, como antes. “O instituto sinaliza que não considera meritório o ranqueamento de cursos com base, apenas, no desempenho dos alunos concluintes numa prova, pois não é possível afirmar que a qualidade do desempenho dos alunos numa prova seja igual à qualidade de um curso”, afirma o relatório.
Um conceito baixo no exame, de acordo com o documento, pode significar, por exemplo, que o curso recebe alunos muito fracos e que, apesar dos esforços institucionais, não é possível levá-los a um desempenho comparável aos dos estudantes de estabelecimentos com vestibulares altamente competitivos. “Nesse caso, o desempenho no Provão pode ter muito pouco a ver com a titulação dos professores, a sofisticação das metodologias e técnicas de ensino, a quantidade e atualidade do acervo bibliográfico, a qualidade dos laboratórios e a atmosfera acadêmica.”